Adeus ao mestre Gabrich: jornalismo norte-mineiro se despede de um ícone da comunicação

Manoel Freitas
O NORTE
12/11/2021 às 00:03.
Atualizado em 05/12/2021 às 06:14
 (Fotos Arquivo de família)

(Fotos Arquivo de família)

Montes Claros amanheceu de luto nesta quinta-feira. Morreu o jornalista Felipe Gabrich, aos 73 anos. O falecimento foi anunciado pela filha, Lara Gabrich, pouco depois das 4h, nas redes sociais.

A cidade e a região se despendem de parte da história do jornalismo regional. “Um infarto fulminante levou o amor de minha vida, ainda sem chão por aqui. Quem nasceu passarinho precisou bater asas”, escreveu Lara.

O neto Lucas Figueiredo publicou: “meu avô foi um homem sábio na Terra, cumpriu sua missão e nos deixou, além de saudade, exemplo de ser de luz. Te amo e estou contigo sempre”.

O velório aconteceu no Memorial da Santa Casa, de onde o cortejo saiu, às 16h para sepultamento no Cemitério Jardim da Esperança.

Além de um pedaço da história, que o torna imortal, Felipe Antônio Guimarães Gabrich deixou a esposa Márcia Maia e os filhos Lara, Felipe e Giuliano.

Com mais de meio século dedicado à imprensa norte-mineira, o também escritor e cronista ocupou, ao longo de sua carreira, o cargo de editor de vários veículos de comunicação, como o Jornal Notícias, Diário de Montes Claros, Revista Tempo e Jornal do Norte, a chefia de comunicação da Prefeitura de Montes Claros, Codevasf, Fiemg e Unimontes, de onde era egresso do curso de Administração.
 
REPERCUSSÃO
A perda foi marcada pela emoção nos grupos de imprensa, onde sempre foi tratado como “mestre, amigo e companheiro”.

O radialista Benedito Said, ex-vereador e ex-secretário de Saúde, frisou que a imprensa ficava ontem mais pobre, “porque Felipe Gabrich foi goleiro, artilheiro, escritor, pensador, amigo e parceiro, e, agora, ainda prega peça na gente, saindo de repente dessa cena sem rumo que é a vida”.

A psicanalista Luisa Fonseca, amiga da família, postou: “todos, no tempo necessário, sintam-se reconfortados e abraçados. Guardo lindas lembranças do Gabrich, com um olhar crítico e visão de um poeta. Fiquem bem”.

O falecimento repercutiu igualmente no esporte. Felipe era goleiro de futebol. O desportista e criador do Troféu Bola Cheia, Denarte D’Ávila, exprimiu seu “profundo sentimento pela perda do meu ídolo, que defendeu a região nas quadras e nos gramados, para depois mostrar-se dinâmico atacante da comunicação”.
 
MARCANTE
Poucas horas depois da morte do jornalista, a quem tratava como “bom companheiro e amigo”, o escritor Wanderlino Arruda, ex-presidente da Academia Montes-clarense de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros, falou a O NORTE.

“Felipe Gabrich foi da minha geração de alunos, sempre com fama de muito estudioso, dedicado, a fala e escrita bastante criativas. Desenvolveu-se muito no Jornalismo com J maiúsculo, pois sempre responsável em busca da verdade mais pura”.

E acrescenta: “era positivo, justo nos seus conceitos, foi profissionalmente bem marcante e reconhecido. Seu estilo bem diferente do tradicional, pois com frase e períodos curtos, quase sempre com linhas sendo parágrafos. Assim, fácil de ser entendido”.

Crônica de um diálogo com São Pedro
Aposentado, Felipe Gabrich assinava crônicas nas redes sociais em perfil intitulado “De Olho no Fato”, onde postou recentemente o artigo “Revolta do espírito”, destacando que “há de tudo no viver terreno, até mesmo a morte”, no qual criou personagem que dialogou com São Pedro:

- “Olha, São Pedro, o senhor me desculpe, mas ainda não me acostumei à nova realidade e não consegui desvencilhar-me de todo da ideia de que morri e não estou mais na terra. Além disso, perdoe-me a sinceridade do desabafo, estou pê da vida, revoltado, indignado mesmo”. 

- “Isto é natural, meu filho”, aliviava São Pedro. “Aqui no céu, você não vai precisar dessas emoções mesquinhas e nem de sentimentos fúteis e hipócritas com que os humanos procuram justificar suas desastradas ações lá na terra. Mas é compreensível esta sua revolta, pois os terráqueos ainda não se conformam com a morte da matéria e não acreditam numa outra vida aqui no céu. É sempre dolorosa essa aceitação, daí a natural inquietação de seu espírito”.

Sentimento de orfandade 

O jornalista João Carlos de Queiroz, que durante muitos anos de sua carreira trabalhou lado a lado com Felipe Gabrich, a pedido de O NORTE enviou texto no qual deixa claro que a imprensa perdeu um pai. 

“Falar de Gabrich o quê? Difícil demais! É o mesmo que discorrer sobre alguém muito especial em nossas vidas que, de repente, sem mais nem menos, deixa de existir. Aí, sobra apenas vácuo saudoso, esparsos de momentos presenteados pela presença dessa pessoa...

Oxalá possamos enaltecer o nobre Gabrich com toda a exatidão esplêndida que ele sempre fez por merecer. Ou melhor: que possamos incorrer em proximidade real do merecimento que o nobre cidadão das letras merece com aplausos preliminares a cada passo evoluído que conquistou.

Meu sentimento, e acredito que de todos nós, é de orfandade inconsolável. Mais um gigante humano que parte sem que possamos nos despedir adequadamente. Assim foi com Leonardo Campos, Américo Martins e tantos outros”.

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