Acessibilidade ruim prejudica deficientes

À exceção da Câmara, maioria dos prédios públicos não tem dispositivos para garantir o ir e vir seguro desse público

Márcia Vieira
22/01/2019 às 07:17.
Atualizado em 05/09/2021 às 16:09
 (MANOEL FREITAS)

(MANOEL FREITAS)

Ferramenta indispensável para garantir a autonomia de deficientes visuais, o piso tátil – marca em alto relevo em calçadas e áreas internas que serve para guiar quem tem problemas de visão – é raridade em Montes Claros. Falta até em prédios públicos, apesar de a cidade ter, desde 1994, uma Lei de Acessibilidade para assegurar o ir e vir de todo cidadão.

A reportagem de O NORTE passou um dia com o deficiente visual Aparecido Rodrigues e pôde constatar a dificuldade para ele e pessoas na mesma condição acessarem espaços como a Prefeitura, o Fórum e a Rodoviária.

No prédio que abriga o Executivo municipal, os problemas começam no térreo. O acesso ao elevador, de uso restrito ao prefeito e secretários, só é possível com a ajuda dos recepcionistas. “Sempre abrem quando a gente pede, mas para descer é difícil encontrar alguém disponível”, diz.

Na saída do elevador, nas escadas e nos corredores, não há piso tátil. “Se existisse, descer pelas escadas com o auxílio da bengala não seria tão difícil. Tenho que contar com a ajuda de pessoas que estão passando por aqui ou do atendente. Me arrisco porque não tenho alternativa”.

A falta da “guia” leva a outro problema. Ao sair do elevador, o visitante tem que passar por um corredor estreito para chegar às secretarias. O corredor dá acesso a uma escada íngreme, de degraus estreitos e que oferece risco para deficientes com pouca noção de espaço. No local não há funcionários para conduzir o visitante.

“Muitas repartições já trabalham de maneira a facilitar a nossa vida, mas aqui infelizmente isso ainda não aconteceu”, diz.

O prédio de três andares que abriga o Executivo e parte do Legislativo foi construído em 1988. Na época, a acessibilidade ainda não era lei.

Já o Fórum Gonçalves Chaves tem rampas e, de acordo com um funcionário, passou por diversas modificações, incluindo o guarda-corpo. No entanto, também não tem o piso adequado aos deficientes visuais. O imóvel foi inaugurado em 1999.

“Aqui, as escadas são bem largas e acessíveis. Com a bengala consigo ter a noção de espaço e obstáculos, mas falta o piso tátil. Teria que ser colocado na calçada até o início da escada e onde terminam os degraus”, disse Aparecido, durante o teste de acessibilidade.

Já o prédio de sete andares que está em construção para abrigar as duas unidades do fórum (Vila Guilhermina e Centro) no bairro Ibituruna está sendo edificado dentro das normas de acessibilidade e tecnologia.

O NORTE tentou contato com o diretor do espaço, mas ele está de férias.

Os obstáculos também são muitos na Rodoviária, considerada um dos locais mais difíceis em termos de acessibilidade. A calçada está quebrada e traz risco de acidentes até para o cidadão que tem boa visão.

“Pisar em falso para nós pode representar uma tragédia. Aqui não temos absolutamente nada que ajude na identificação. Com muita dificuldade, acesso a porta de entrada. Com a ajuda das pessoas busco a última porta, que vai dar no guichê. Ali começa novamente a solidariedade dos que estão na fila e me ajudam a chegar onde preciso”, diz Aparecido.

As cadeiras são distribuídas no meio do saguão e para chegar à plataforma de embarque, Aparecido tem que se desviar de várias “armadilhas”, como carrinhos de bagagem e de ambulantes. “Sem o piso tátil, o deficiente que não tem os sentidos muito aguçados pode até esbarrar nos ônibus”, assegura. Não há elevador.

A reportagem procurou a MCTrans, que funciona na rodoviária e é responsável pela administração dos espaços, mas o presidente do órgão não se manifestou.

A coordenadora do Conselho Municipal de Defesa dos Direitos da Pessoa com Deficiência, Veronícia Leite, informou que está programada para março uma campanha de conscientização quanto à necessidade de reestruturar os espaços públicos. “Vai ser desenvolvida em hospitais e prédios públicos para mostrar que as pessoas com deficiência têm direitos e eles tem que ser respeitados”, diz.

A assessoria de comunicação da prefeitura não respondeu aos questionamentos sobre possibilidade de adaptação e reparos nos prédios visitados.

Dos prédios públicos visitados, apenas a Câmara apresenta acessibilidade, o que permite a um deficiente circular pelo hall e chegar ao plenário. Obras para novas adequações estão previstas.

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