
Após dez anos afastado das águas do Rio São Francisco, o centenário vapor Benjamim Guimarães retornará ao rio no dia 28 de abril, marcando o fim de um longo processo de restauração e impasses. A reforma, inicialmente prevista para ser financiada pela Prefeitura de Pirapora por meio do Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG), foi assumida pela Eletrobrás após um acordo com o Ministério de Minas e Energia. A recuperação da embarcação recebeu investimentos de aproximadamente R$ 5,8 milhões, conforme informou a Empresa Municipal de Turismo de Pirapora (Emutur).
A informação foi confirmada pelo secretário de Desenvolvimento Econômico, Agricultura, Emprego e Renda de Pirapora, Flávio Santos Soares. “O Benjamim será recolocado no rio, mas não navegará de imediato. Ele ficará ancorado, passando por testes nas máquinas durante o mês de maio”, explicou.
A operação de retorno será realizada pela empresa responsável pela restauração e começará no fim de semana anterior ao lançamento. “Todos os equipamentos, como chaminé, caldeira, pás e pistões, já foram instalados fora da água. Agora, precisam passar por testes em ambiente fluvial. O processo de testes será feito ao longo de 30 dias para garantir o bom funcionamento”, detalhou o secretário.
Apesar da grande expectativa da população, o vapor não poderá navegar por enquanto devido à insuficiência de vazão no rio. A Prefeitura de Pirapora está em tratativas com a Eletrobrás, a Operadora Nacional das Hidrelétricas e a FEMIG para aumentar o nível da água nos dias anteriores ao retorno. “A barragem de Três Marias deverá liberar água cerca de dois dias antes de o Benjamim ser lançado ao rio. Já foi emitido um alerta para os ribeirinhos sobre o aumento do nível do rio, que pode chegar a quase um metro”, afirmou Flávio.
O maior obstáculo para a navegação, no entanto, é a desativação da hidrovia do São Francisco. “A navegação depende da Marinha e do DNIT. A unidade do DNIT responsável pela hidrovia de Pirapora foi desativada há cerca de dois anos e meio. Sem a reativação da hidrovia, o Benjamim não poderá navegar, mesmo em condições adequadas”, esclareceu o secretário. Há esforços em andamento junto ao Governo Federal para reativar a hidrovia, mas o processo é longo e envolve estudos técnicos e dragagem do rio.
Questionadas pela reportagem, a DINIT e a Diretoria Aquaviária não forneceram uma data para a retomada da navegação do vapor.
VALOR CULTURAL E ECONÔMICO
Flávio destacou o valor simbólico e econômico do vapor para Pirapora. “O Benjamim representa o início do desenvolvimento da cidade. A hidrovia trouxe migrantes, especialmente da Bahia, e hoje ele é o único vapor do mundo em condições de funcionamento como este. Estar na água, mesmo sem navegar, representa de 30% a 40% do turismo da cidade”, explicou.
O comerciante Carlos Valter, conhecido como Kaká, compartilhou os impactos da paralisação do vapor no turismo e no comércio local. Segundo ele, Pirapora já viveu dias de grande movimento quando o vapor ainda navegava pelo São Francisco.
“Eu já servi almoço para turistas de várias cidades como Rio de Janeiro, São Paulo e Belo Horizonte. Quase todos os finais de semana havia excursões que almoçavam aqui”, contou Kaká.
Com a interrupção das atividades do Benjamim, o cenário mudou drasticamente. “Perdemos cerca de 50% do turismo de final de semana. Hoje, recebemos turistas, mas a maioria vem a negócios e não por lazer, como antes”, avaliou.
Kaká destacou a importância do retorno do vapor para Pirapora e se mostrou otimista com o andamento da restauração. “O Benjamim está quase pronto! Estou esperançoso. Vai voltar o movimento, com certeza”.