Uma união que dura mais de 60 anos

Jornal O Norte
Publicado em 04/05/2006 às 10:42.Atualizado em 15/11/2021 às 08:34.

Cinara Ferreira


Correspondente



GLAUCILÂNDIA - No próximo dia 12 o casal Manoel de Souza Mendes, conhecido por Maninho, e Joaquina Rodrigues de Souza comemora 61 anos de casamento. Uma união rara nos dias de hoje. Ele nasceu no ano de 1923, em Riacho dos Machados. Quando tinha 08 anos, mudou-se com os pais para a fazenda de nome Maquiné, na região de Juramento, onde se dedicou à profissão de vaqueiro, que exerceu por toda a vida. Ela nasceu em 06 de abril de 1930, em Pau D’olho, também região de Juramento, onde vivia com os pais.



Tudo começou quando eles se conheceram em uma festa que aconteceu no dia 06 de janeiro de 1945, num lugar chamado Aperto, próximo a Pau D’olho. O casamento ocorreu cinco meses depois, no dia 12 de maio.



Joaquina diz que, naquela época, o namoro era totalmente diferente.



Ela conta que Maninho a viu na festa e, no outro dia, foi à casa dela conversar com o pai, para namorá-la. Porém, só podia olhar para ela; conversa mesmo, era com o sogro que, de início, não queria permitir o namoro dela com uma pessoa até então desconhecida.



Com a persistência de Maninho, o pai de Joaquina acabou por conceder que ela se casasse com ele.





No próximo dia 12, o casal Joaquina Rodrigues de Souza e Manoel Mendes de Souza copmleta 61 anos de feliz matrimônio e ganha homenagem especial em Glaucilândia


(foto: Cinara Ferreira)



Depois que se casaram, os dois se mudaram para Glaucilândia. E, após três anos de casados, Maninho foi com a esposa trabalhar na fazenda Altamira, de Erlindo, em Curral Queimado, durante seis anos. Depois disso, ele trabalhou durante um ano e seis meses para Joaquim Meira, na fazenda São Joaquim, em Santa Cruz, próximo a Juramento. Logo após trabalhou dois anos em Bocaiúva, na fazenda Jacaré, de Edson Murta.



Retornou para Glaucilândia, onde trabalhou na fazenda Cabaceiras, de Luís Dias Maia, por 44 anos. Ele diz que, em todo essa caminhada, teve em Joaquina apoio e companheirismo. Até mesmo no trabalho pesado ela o ajudava em tudo que podia.



Em meio a essa trajetória, o casal teve 12 filhos: Antônia, Maria Luiza, Vilma, Davi, Jaqueline, Orminda, Ivani Cássia, Ronivane, Geraldo, George, Munick e Romilton. Além dos filhos, criaram dois netos, Cristian e Rejane. Todos já são casados.



Maninho, senhor muito respeitado em Glaucilândia, mostra que nem sempre a idade conduz ao cansaço físico. Veterano incansável, ele completou no último dia 18 de abril, 83 anos de idade, com muita força, coragem e determinação.



Dona Joaquina também fez aniversario no mês passado, no dia 06. Completou 76 anos de idade. Ela diz que Maninho sempre foi um bom esposo, conta que os filhos foram criados e estudados com muito esforço, na dureza, e que ela sempre ajudou o marido nas despesas da casa. Lavava roupa para fora e trabalhou na roça. Ela compara a vida de antigamente com que leva agora e diz que, hoje em dia, tudo é mais fácil.



Maninho, em todos esses anos cuidando de boiadas de sol a sol ou debaixo de chuva, manteve-se uma pessoa muito forte. Nunca teve problemas graves de saúde.



- Só tive quebraduras no braço e na perna, aí fui obrigado a ficar parado, sem trabalhar. Nunca adoeci de intestino, de estômago, de coluna, nada. Tive só uma pneumonia. Fiquei internado durante uma semana, mas Deus ajudou que eu sarei e estou aí na luta, até o dia que Deus quiser.



Maninho também compara a vida de hoje com a de 50 anos atrás, em termos de alimentação:



- A gente trabalhava muito, mas passava bem. Comia feijão, arroz, abóbora, carne, galinha do terreiro... Parece que tudo era mais saudável.



Os anos de luta e barreira não foram suficientes para que o desânimo o alcançasse. Apesar da idade um pouco avançada, Maninho não pensa em parar. Continua sempre na lida.



Maninho aposentou-se por idade aos 68 anos, por incentivo e ajuda de Luiz Maia, dono da fazenda Cabaceiras. Mesmo assim, continuou a trabalhar na fazenda e só parou há 1 ano e 4 meses, por causa da pressão que se apresentava alta. Nem isso fez com que ele desistisse. Continua a trabalhar. Desta vez, por conta própria.



Depois que se aposentou, ele se dedica a cuidar do próprio terreno em Curral Queimado. Levanta-se todos os dias bem cedo, pode fazer sol ou chuva, frio ou calor, lá está ele. Percorre 26 quilômetros por dia. Vai a cavalo ou a pé para o sítio. A esposa, que se preocupa muito, por causa da pressão do marido, cuida para que ele não vá a pé agora que tem o ônibus circular, mas ele demonstra ter muita força e determinação para batalhar por mais de 100 anos.



- Pra mim, tanto faz ir a cavalo ou a pé, como já fiz várias vezes. Agora, como tem o circular, estou indo nele, mas, se eu perder o ônibus, vou a pé mesmo. Tomo chuva, sol, poeira na estrada, piso na lama, sem problemas, e graças a Deus não sinto nada, nenhuma dor nas pernas – diz Maninho.



Como se não bastasse, ele deseja comprar mais um pedaço de terra para plantar. No entanto, faz tudo isso por prazer e satisfação em cuidar de um bem particular.



A esposa sempre dedicada, enquanto o marido vai para o sítio, fica em casa, prepara o almoço e o espera para almoçarem juntos, agora que vivem na casa somente os dois. Os filhos vão visitá-los só a passeio. Ela fala que o motivo para tantos anos de união se deve à paciência, à compreensão, ao carinho e, acima de tudo, ao respeito um pelo outro. Enfatiza ainda que a receita para viver bem é ter Deus no coração e andar sempre em harmonia, mesmo com as dificuldades da vida.



A filha mais nova do casal, Munik Christie Mendes Maia, que também fez aniversário no último dia 25, emocionada, expressa felicidade e fala um pouco sobre os pais:



- Estou muito feliz em ver meus pais completarem mais um ano de casamento, após as bodas de rubi. Eles são exemplo para muitas pessoas. Sinto o privilégio de ter os pais que tenho. Os dois sempre foram presentes. Mamãe era rígida, mas nos tratava com amor. Papai sempre foi tranqüilo, não gosta nem que eu chamo a atenção da minha filha, Emanuelly, por ser tão bom. Como pais, para mim os meus são insuperáveis, os melhores pais que poderia existir.



Em entrevista a O Norte, a primeira filha do casal, Antônia Mendes de Souza, fala em nome de toda a família, da enorme satisfação que sente em ver a união duradoura dos pais.



- Para nós da família, é uma vitória muito grande ter os pais com essa idade, e acima de tudo, uma união abençoada em meio a tantas lutas e dificuldades, apesar dos pesares, de altos e baixos, em relação à vida conjugal eles vivem bem. Graças a Deus viveram tanto tempo juntos e em “Nome de Jesus”, eles completarão mais um ano de casados – declarou Antônia.



De acordo com Antônia, uma das coisas mais importantes que contribuiu para fortalecer essa união, foi à presença de Deus no matrimônio. E que atualmente, vários casamentos são destruídos, muitas vezes, por falta de compreensão e também a presença do Pai Celestial na vida de certos casais, que hoje dia, não têm a mesma paciência e o suportar de um para com o outro. E como ela diz, “está escrito na Palavra de Deus que quando as pessoas se casam, passa a ser uma só carne, um deve sentir a dor do outro”.



Antônia cita que na vivência de Maninho e Joaquina, nunca aconteceu de os dois ficarem de mal. Só tiveram alguns bate-bocas, mas nada muito sério que os levasse a uma separação, pois sempre foram bastante apegados.



- Entre meus pais, eu vi algumas discussões, mas sempre acabava logo. Meu pai é quem cedia, por ser um homem de coração aberto. Minha mãe, mulher de muita garra e fé, acreditava que tudo ficaria bem entre os dois. E era o que realmente acontecia – disse Antônia.



Os filhos, com muita alegria, pretendem comemorar mais um ano de união matrimonial dos pais Manoel e Joaquina. Será realizado um culto em ação de graças pelos 61 anos de casamento dos dois.

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