Especial

Semeadura para recuperar o Cerrado

Restauração de áreas degradadas por sementes é feita por grupos de coletores de sementes nativas

Manoel Freitas
Publicado em 16/01/2023 às 22:54.
Maria Lúcia (segunda da esquerda para a direita): mestranda em sustentabilidade e guardiã de sementes

Maria Lúcia (segunda da esquerda para a direita): mestranda em sustentabilidade e guardiã de sementes

A criação da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Nascentes Geraizeiras, com sede em Rio Pardo de Minas, representa – acima de tudo – a luta de 12 anos dos povos tradicionais do Alto Rio Pardo, guardiões e profundo conhecedores do patrimônio ecológico e cultural do cerrado mineiro. 

Sustentável porque possibilita o uso para consumo e geração de renda do pequi e outros frutos, ao mesmo tempo em que os coletores espalham parte das sementes, tradição dos gerais indispensável na recuperação do bioma. 

A restauração de áreas degradadas por sementes é feita por grupos de coletores de sementes nativas, lançadas à terra para germinar em ritual chamado de semeadura direta.  Uma boa causa, porque a unidade de conservação tem enormes áreas comprometidas pela monocultura de eucalipto e a mineração de quartzo. 

Por sinal, o “pequizei-rão”, maior pequi em Minas, é considerado um sobrevivente porque o eucalipto foi plantado até bem próximo a área em que está situado, em “Roça do Mato”, porção da Reserva de Desenvolvimento Sustentável localizada em Montezuma.  Tem enorme significado porque as discussões e conferências que marcaram a luta pela criação da unidade de conservação ocorreram à sua sombra. Majestoso, é ponto de visitação obrigatória.

À luta, por influência da mãe e da avó

Para gerar todo o conteúdo sobre a Reserva de Desenvolvimento Sustentável Nascentes Geraizeiras, O NORTE ouviu Maria Lucia de Oliveira Agostinho, mestranda em Sustentabilidade junto a povos e Territórios Tradicionais pela Universidade de Brasília.  

Geraizeira, pequena agricultora agroecológica, guardiã de sementes, cooperativista, agente de pastoral comunitária e membro do movimento Geraizeiro Guardiões do Cerrado, que desde 2002 luta contra o desmatamento junto às comunidades locais. 

Por influência da mãe e do avô, desde criança é extrativista. Da comunidade geraizeira de Água Boa II, município de Rio Pardo de Minas, Maria Lúcia explica que “desde sempre tenho essa convivência com o que o cerrado nos oferece, esse bioma tão rico e às vezes ignorado por esse capitalismo hegemônico, que veio e desvastou nosso território, sem nenhum respeito por sua riqueza biodiversa, ignorando as populações que já moravam aqui, que habitavam o bioma há centenas de anos”. 

Devastação, segundo a guardiã de sementes, “que só foi sentido dez anos depois, quando começou a faltar água nas comunidades”. “Acordamos a tempo com a união das comunidades que hoje se beneficiam da área da Reserva de Desenvolvimento Sustentável, de forma que defendemos esse território nos manifestando, chamando parcerias, então foram muitas lutas para impedir o desmatamento da chapada”, continuou Maria Lúcia Agostinho. 

Revelou ter sido necessário “ficar na frente dos tratores, parar as máquinas, até que, com muita luta e parceria, em 2014 foi criada a Reserva de Desenvolvimento Sustentável”. Relata “até uma greve de sede e fome foram necessárias para que esse processo se concretizasse”. Argumenta que o decreto da unidade de conservação, em 2014, “trouxe mais segurança para permanecermos no campo, segurança da biodiversidade, de nossas nascentes, que era o objeto principal da nossa luta”

Sobre a restauração de áreas degradadas, explica que, “antes da Reserva ser criada, não tínhamos a liberdade de ir nessas áreas do território na época em demanda, mas hoje, graças a Deus, temos grupos de restauradores, coletores de outras sementes para recuperar áreas e geração de rendas”. Observou que as comunidades entendem que a semente, a semeadura direta é mais viável para restauração, porque o propósito é promover a sustentabilidade.

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