Considerada uma das áreas com maior potencial de desenvolvimento da apicultura, o Norte de Minas é foco de um projeto para ampliar ainda mais a produção de mel e derivados.
A ação, coordenada pela Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Faemg), em parceria com o Sindicato Rural de Montes Claros, busca o melhoramento genético das colmeias.
O Norte de Minas é, segundo o Escritório Regional do Sistema Faemg, a terceira região do Estado em produtividade, mas é a que tem maior ascensão no momento por conta da quantidade de áreas ainda preservadas (mata nativa) que geram as diversas floradas para a produção de mel.
Por isso, a região tem o maior número de municípios abarcado pelo projeto, que começou a ser aplicado nesta segunda-feira (11) em Montes Claros.
O Projeto de Melhoramento Genético na Apicultura – Produção Itinerante de Rainhas no Norte de Minas tem o objetivo de melhorar a eficiência das floradas e tornar os enxames mais produtivos por meio da substituição de abelhas-rainhas já consideradas “velhas” por outras mais adaptadas ao semiárido.
Com isso, a expectativa é a de aumentar a qualidade do mel e derivados, e a sustentabilidade do negócio. “A grande importância deste projeto é substituir as rainhas. A gente sabe muito bem que a partir do momento que a rainha vai ficando velha ou improdutiva, vai diminuindo a produtividade daquela colmeia”, explica o gerente regional do Sistema Faemg em Montes Claros, Dirceu Martins Pereira.
Se a colmeia produz 50 a 60 quilos de mel por ano, a partir do momento que a rainha vai ficando velha, vai caindo pela metade e até para um terço disso. “Por isso, é fundamental a substituição destas rainhas, o que vai aumentar a produção do mel”, diz.
Rainhas selecionadas
Um laboratório móvel deverá ser usado para produzir as rainhas e repassá-las aos produtores, de acordo com o consultor master Arnaldo Maurício. “As abelhas são selecionadas com base no histórico produtivo. As colônias que apresentam o maior índice produtivo de mel, principalmente o mel de aroeira, que é o carro-chefe no Norte de Minas, são selecionadas para que as larvas sejam doadas para produção de rainhas selecionadas. O que ocorre sem prejudicar as que vivem na colônia”, explica. Ele ressalta que a prática de troca anual de rainhas do apiário inteiro aumenta em média 30% a produção total. Uma família com 20 enxames produzindo em média 25 quilos, vai aumentar 100/150 quilos de mel, a R$ 20, aumenta em R$ 2 mil ou R$ 2.500 a renda dessa família”, calcula. A missão do programa ATeG, como um todo, em todas as cadeias que trabalha, é aumentar a lucratividade da propriedade rural. Já foram e estão sendo atendidos 512 apicultores.
Mel do Norte no topo
O projeto de Melhoramento Genético na Apicultura – Produção Itinerante de Rainhas no Norte de Minas, segundo Dirceu Pereira, pretende fazer uma produção itinerante de rainhas para aqueles produtores e apicultores atendidos no programa de assistência técnica e gerencial do Sistema Faemg.
“A gente sabe muito bem que dois pilares básicos da apicultura são: a alimentação e a genética. Então temos a certeza que após os produtores entenderem esta técnica de produzir as rainhas, isto vai dar um salto muito grande na produtividade, podendo transformar o Norte de Minas no maior produtor de mel do Estado”, diz.
O projeto vem acontecendo há um mês e meio em várias cidades mineiras. Começou em Varginha, no Sul de Minas, seguindo para Jacuí, Cônego Marinho, Januária, Pedras de Maria da Cruz, Ubaí, Lontra, São João da Ponte, Japonvar e agora em Montes Claros. Será levado também para Bocaiuva, fechando o primeiro ciclo de visitas no Norte de Minas.
Todos os mais de 500 apicultores atendidos pelo programa da Faemg estão tendo acesso à reunião técnica teórica e prática e às doações das rainhas. “Contudo, somente no final do projeto é que vamos saber quantos realmente participaram deste projeto e quantas abelhas-rainhas eles introduziram nos enxames”, informa o consultor master, Arnaldo Maurício. O projeto deve ser finalizado em maio, em Santa Bárbara e São Domingos do Prata, região Central de Minas.
INVESTIMENTO
O técnico do programa ATeG, Gláucio Gurgel, explica que não é preciso dinheiro para fazer a troca da rainha. “O que precisa é o bom senso, é o querer fazer do apicultor e saber que esta ação é importante para a produtividade”.
Gláucio ressalta que a apicultura de resultado precisa seguir um tripé: além da troca da rainha, a substituição da cera velha e, principalmente, na região do semiárido, devido ao problema da seca, a alimentação.
“Juntando estes três fatores, a gente consegue sim, uma autoprodutividade no mel, resultando no fato de que dá para se viver do mel no Brasil”, afirma.
Apicultura mais forte
Durante a apresentação do projeto, em Montes Claros, vários produtores rurais foram conferir como ocorre a incubação das larvas das novas abelhas-rainhas para aplicar o mesmo processo em seus apiários.
O presidente da Associação de Apicultura do Norte de Minas e Região (Apinorte), Enilson Fonseca Silva, afirma que a intenção é agregar conhecimento para afiliar mais produtores à apicultura da região. “A ideia nossa é que a Apinorte seja o núcleo e que possamos incentivar as pessoas para que entrem na apicultura e trabalhem nisto para ter uma renda extra”, informa Enilson.
A associação atualmente conta com 90 apicultores. Enilson acredita que o Norte de Minas tem muito a ganhar aumentando a apicultura na região. “Além da renda, ganha na ajuda ao meio ambiente, porque as abelhas contribuem com a polinização, com a recuperação de áreas das matas nativas. Ganha em incentivar as mulheres a terem sua própria renda e aos jovens de não abandonarem a zona rural para se aventurar na cidade à procura de emprego que não tem”, explica.
MAIS RENDA
O consultor master, Arnaldo Maurício, esclarece que o Programa de Assistência Técnica e Gerencial do Sistema Faemg (ATeG) atende mais pequenos e médios agricultores, ajudando a incrementar a renda.
Hoje, o Sistema Faemg tem oito técnicos de campo atuando junto a 259 produtores da região, entre aqueles apicultores que já encerraram seus ciclos (de dois anos de acompanhamento) e outros que estão em andamento.
A produção destes apicultores foi de mais de 70 toneladas no último ano, entre diversas safras.