Jerúsia Arruda
Repórter
jerusia@onorte.net
A câmara municipal de vereadores aprovou na última terça-feira, 01 de agosto projeto de autoria da vereadora Fátima Pereira, que prevê a criação do programa de Saúde Vocal para professores da rede municipal de Ensino. O programa visa a prevenção, correção e tratamento dos eventuais problemas de disfonia, tão comuns aos profissionais da área de ensino, através da assistência de fonoaudiólogos e médicos.
Segundo a professora Domingas Oliveira de Almeida, que há 18 anos trabalha no ensino fundamental da rede pública, o programa é muito oportuno.
- Sempre trabalhei com crianças e como tenho que falar muito minha voz está sempre cansada. E nos anos iniciais é mais desgastante ainda – diz Domingas com a voz rouca, por trabalhar desde o início do ano em dois períodos. Segundo ela, se desde o início da carreira, tivesse recebido uma assistência de um fonoaudiólogo, com certeza não teria tantos problemas com a voz.
- Quando a gente começa a trabalhar, vai no entusiasmo, não tem consciência de que pode estar se maltratando. Só com o tempo é que vamos descobrir que podíamos ter nos cuidado melhor. Ainda bem que ainda dá para começar e, com disciplina e uma boa orientação, tudo melhora – argumenta.
A cantora Tatiana Lima, que recentemente sofreu um problema nas cordas vocais que a impediu de cantar por um bom tempo, diz que a falta de preparo para o uso da voz pode provocar sérios problemas.
- A falta de aquecimento, higienização, preparo das cordas vocais e o esforço contínuo que se faz ao falar podem comprometer seriamente as cordas vocais. O ideal é que todas as pessoas que trabalham com a voz sejam preparadas para usá-la de forma correta, aprendendo técnicas de aquecimento e relaxamento, evitando assim o desgaste desnecessário. Como acadêmica do curso de Fonoaudiologia posso entender porque sofri o problema e acredito que o professor também sofra um desgaste parecido com o que sofri, pois fala muito e às vezes muito alto. Esse acompanhamento vai facilitar seu trabalho e também prepará-lo para perceber quando o aluno também precisa ser orientado – explica Tatiana
PREVENÇÃO
Em sua home-page, a fonoaudióloga carioca Heloísa Araújo, pós-graduada em Fonoaudiologia Clínica e Neurofisiologia, diz que a excessiva contração da musculatura da fonação e o mau uso vocal, com agressão às cordas vocais causam o desenvolvimento de nódulos, pólipos e calos vocais. Segundo a fonoaudióloga, para prevenir esses males, é preciso auto-conhecimento em relação à voz e ao ato de falar, normalizar o tônus da musculatura fono-respiratória; exercício respiratório e de vocalizações; ataque vocal brusco ou suave conforme a indicação; boa utilização das cavidades de ressonância (ossos da face e palato) e treinamento auditivo e cinestésico para perceber e controlar melhor a emissão vocal. Para isso, segundo ela, é indispensável o acompanhamento profissional.
CUIDADOS
Heloísa Araújo diz que para se ter uma boa voz é necessário boa saúde geral, ausência de problemas psicológicos relevantes, observar o fato de que certas atividades profissionais requerem qualidades vocais mais desenvolvidas e até mesmo aperfeiçoadas pelo treinamento, falar ou cantar somente no próprio tom, na área de conforto, dormir bem, as horas necessárias; evitar tossir, espirrar sonorizando, gritar, gargalhar exageradamente, limpar a garganta pigarreando, fumar, tudo que agride as cordas vocais; evitar falar ou cantar competindo com ruídos, música alta, barulho em sala de aula, instrumentos em volume muito alto; evitar álcool ou drogas e sempre que necessário, particularizar tratamento e cuidados com um fonoaudiólogo.
PÓ DE GIZ
A professora Marilene Costa, que trabalha há dez anos como professora na zona rural de Montes Claros, diz que além da fala em excesso, também sofre com o pó de giz na sala de aula.
- Sempre falo muito alto, hábito que adquiri no exercício da profissão. Mas o que mais me incomoda é o pó de giz, que deixa meu nariz sempre irritado e uma tosse seca que nunca sara. Já me acostumei com a voz meio rouca e nem me lembro se um dia foi diferente, apesar de saber que isso não é normal. Acho que se esse programa for realmente implantado, vai facilitar a vida de toda a classe, porque desconheço um professor que mais cedo ou mais tarde não sofra com o uso excessivo da voz e com a exposição ao barulho e ao pó de giz – argumenta a professora que há quatro anos também trabalha na alfabetização de jovens e adultos em uma fazenda próxima a Montes Claros.
PROGRAMA SAÚDE VOCAL
De acordo com o projeto da vereadora Fátima Pereira, o programa Saúde Vocal vai conceder aos professores o acesso à prevenção e correção de danos vocais, por intermédio do tratamento adequado e acompanhamento de profissionais fonoaudiólogos.
Caberá agora ao executivo municipal regulamentar a lei e formular as diretrizes do programa para que possa entrar em vigor.