especial

Os guardiões da sociobiodiversidade

Preservação do pequi e outros frutos do cerrado: as sementes da vida

Manoel Freitas
16/01/2023 às 22:50.
Atualizado em 16/01/2023 às 23:10
 (MANOEL FREITAS)

(MANOEL FREITAS)

Não se discute a importância econômica e cultural do pequizeiro, posto que seu fruto sobrepõe os limites gastronômicos. Tem enorme significado para a população do cerrado, principalmente para os agricultores familiares e comunidades tradicionais do semiárido mineiro.  

Então, usufruir e guardar para as próximas gerações esse tesouro do sertão é tarefa de todos, sobretudo daqueles que são – a um só tempo – coletores e guardiões de sementes, dos saberes tradicionais, da vida. 

Nesse sentido, para resguardar sóciodiver-sidade tão rica, em outubro de 2014, através do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), o governo federal criou em Rio Pardo de Minas, Montezuma e Vargem Grande do Rio Pardo, no Norte de Minas, a Reserva de Desenvolvimento Sustentável Nascentes Geraizeiras. Trata-se de unidade de conservação de 38.177 hectares, nos quais atuam grupos de coletores e restauradores do cerrado.

É bom que seja ressaltado, igualmente, que em face da versatilidade e relevância dos frutos nativos, em 2012 Minas Gerais deu um passo importante, a criação do Núcleo Gestor da Cadeia Produtiva do Pequi e outros Frutos do Cerrado - Núcleo do Pequi. Uma receita bem mineira para estimular, através de associações e cooperativas, a comercialização do pequi e outros frutos do cerrado, bem como para defender o meio ambiente e permitir a inclusão social, posto que os frutos nativos do bioma movimentam a economia de muitos municípios do Norte de Minas e Vale do Jequitinhonha. 

O pequi, como fonte de vitaminas, é utilizado na alimentação humana através do preparo de pratos típicos, iguarias, sorvetes, pamonhas e licores, sendo que a gordura extraída das sementes pode ser utilizada como óleo de cozinha. Na indústria de cosméticos, é empregado na produção de sabonetes e cremes para fortalecer a pele. Sem contar que seu fruto é consumido por muitas espécies da fauna regional, que contribuem para sua disseminação na savana mais biodiversa do mundo.

“De todo jeito o pequi é bom”
Na cadeia produtiva do pequi têm papel relevante as pessoas que realizam, tanto nas Reservas de Desenvolvimento Sustentável, seu entorno e nas propriedades rurais, a coleta autônoma.  

Na verdade, uma tradição, prática passada de uma geração a outra, que permite seu uso de múltiplas formas, ao mesmo tempo em que seu fruto é espalhado naturalmente para tudo que é lado.

Na quinta-feira (5), O NORTE foi a campo com o intuito de colher imagens do pequizeiro para ilustrar esta série sobre o fruto do cerrado. 

Mais do que isto, teve a sorte de encontrar duas senhoras com nomes de Maria no momento em que se preparavam para descascar o pequi, a fim de diminuir o peso dos frutos coletados. É que o ritual reclama seis quilômetros de caminhada, em relevo montanhoso.

Nas vésperas de completar 80 anos, Maria Rosa da Paixão, conhecida em Botumirim como Rosa de Celivera, revelou que coleta o pequi desde os oito anos de idade, quando acompanhava, no Vale do Jequitinhonha, a mãe Celivera Honorata. 

“Pequi é vida, um ciclo, e quando não tem a gente já sente a falta”, explica com aprovação da amiga Maria Eunice do Nascimento, 60 anos, igualmente na coleta do fruto do cerrado desde que se entende por gente. 
 
“FAZ PARTE DAS NOSSAS VIDAS” 
Maria Eunice, a Nicinha de Eulai, disse que “o pequi faz parte das nossas vidas”, explicando que faz uso de parte dos frutos coletados, “o outro tanto a gente distribui na vizinhança mesmo, ou seja, quem pede, a gente dá”.  

Já Maria Rosa diz que “tem pequi para todo mundo, tem mil e uma utilidades, a gente rói, coloca em conserva, cozinha com arroz ou separadamente, faz uma farofa, de todo jeito o pequi é bom”. 

Compartilhar
Logotipo O NorteLogotipo O Norte
E-MAIL:jornalismo@onorte.net
ENDEREÇO:Rua Justino CâmaraCentro - Montes Claros - MGCEP: 39400-010
O Norte© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por