Tiago Severino


Correspondente

PIRAPORA - "Um país se faz com homens e livros". A frase do escritor Monteiro Lobato está na placa logo na entrada do Clube da Leitura em Pirapora, único espaço literário em uma feira pública no Brasil. A iniciativa é do pescador Leonardo da Piedade Diniz Filho, o Léo do Peixe. O projeto nasceu tímido com o objetivo de entreter as crianças e levar cultura por meio dos livros. Com um ano de atividade, Léo conta mais de 400 leitores cadastrados e 8 mil volumes no acervo - entre livros, apostilas, enciclopédias e revistas. Tudo proveniente de doações.

Todos os domingos, enquanto os pais estão nas compras, as crianças escolhem os livros que vão ler durante a semana. Sem nenhuma burocracia, apenas nome e endereço são suficientes para levar um exemplar para casa. Entre os 80 empréstimos feitos nesse domingo está "Uma Pequena Lição de Amor" que foi levado por Isabela Delfino, de 9 anos, freqüentadora assídua do Clube. Ela diz que prefere os contos de aventura e os gibis.

Isabela ainda lê para o irmão José Vitor Delfino, de 3 anos. A mãe Maria Conceição da Silva afirma que o incentivo à leitura terá reflexo no futuro das crianças. "Quem lê muito consegue conversar sobre qualquer assunto", explica. Ela diz que graças aos livros e revistas que as crianças pegam no Clube da Leitura o tempo que ficam em frente à televisão reduziu. "Acho que duas a três horas diárias", comenta.

O tecelão Alan Carlos de Jesus também vai todos os domingos com os três filhos na biblioteca ambulante. "Minha filha de 5 anos não pega no sono sem que eu leia para ela", diz. Nesta semana Alane Beatriz dormirá ouvindo a história de "Joãozinho e o Pé de Feijão".

Mas, a paixão pelo mundo literário, despertada com a ajuda do Clube da Leitura, não é um privilégio exclusivo das crianças. Quem confirma são as amigas Solange Carvalho, de 31 anos, e Fabrícia Oliveira, de 29 anos. Elas são fãs dos romances da série Sabrina. Porém, Fabrícia atualmente está lendo "O nome da Rosa", de Umberto Eco. "Li o prólogo e achei interessante. Estou gostando, apesar de ser um pouco diferente do que estava acostumada", diz.

O Clube da Leitura rendeu a Léo do Peixe, o 2º lugar no Prêmio Viva Leitura promovido pela Fundação Santillana, que reconhece os melhores projetos de estímulo à leitura do Brasil. Segundo Léo, o crescimento está atribuído às doações que aumentam o acervo. Hoje, as estantes estão em um trailer cedido por um vereador. Com isso, o Clube ganhou mais espaço.

"No início, tinha gente vivia me chamando de louco", lembra o pescador. Nos primeiros meses de vida do Clube, Léo ia de carroça da casa até a feira. O trajeto era feito três vezes: a primeira e a segunda para levar os livros e a terceira os peixes que vende em sua barraca.

Com humildade, o pescador garante que apenas procura fazer a sua parte. Ele descarta a idéia de interesse político.  A próxima meta é conseguir um local no centro da cidade para o Clube da Leitura e colocá-lo em funcionamento 24h, em todos os dias da semana. "Imagina um lugar que oferece cultura e informação a todo o instante", vislumbra Léo do Peixe. "Isso é definitivamente a certeza de um futuro melhor para as crianças de nossa cidade", argumenta.

Para o dia 22 de abril, ele prepara a visita da Caravana da Leitura. Um projeto que distribui livros gratuitos. Serão mil exemplares doados para a população.