O número de casos de Covid-19 registrados em 24 horas quase triplicou em Minas nas duas últimas semanas. Passou de 1.515, em 12 de maio, para 4.383 nesta quinta-feira (26). O aumento das mortes também é alarmante – saltou de três para 13 no mesmo período, o que representa alta de 333%.
O crescimento é preocupante, mas já era esperado, na avaliação do secretário de Estado de Saúde, Fábio Baccheretti. A alta de casos da doença, que agora é considerada sazonal, pode ser justificado pelos dias mais frios e baixas temperaturas.
No território mineiro, assim como em grande parte do país, as semanas têm sido geladas, com sensações térmicas que ficam abaixo de 0ºC.
“Em épocas de outono e inverno, a Covid vai aumentar. Então, o que estamos observando agora nada mais é do que esperado, não há nenhuma surpresa. Não há novas cepas e não há um momento de fragilidade vacinal da população”, avaliou o secretário, que considerou, ainda, que o avanço nos registros é “puxado” pelo aumento em regiões específicas do Estado.
“Em especial a região de Uberaba, Uberlândia e a região Sul. Mas já temos um entendimento de uma tendência de estabilização de casos, com diminuição do crescimento”, afirma.
Apesar do aumento, a circulação do vírus no Estado está longe do ocorrido em janeiro e fevereiro, quando Minas enfrentou um pico intenso da doença, com registros superiores a 40 mil notificações diárias.
“A positividade do PCR na rede pública ainda é baixa. Ou seja, a maior parte dos pacientes que internam hoje e fazem teste não tem Covid. Não estamos tendo reflexo em pacientes graves”, conclui, descartando uma quarta onda da enfermidade.
“Não há motivo para imaginarmos uma retomada da pandemia com grande quarta onda. Há apenas uma sazonalidade de doenças respiratórias”, acredita o gestor.
Em função dessa avaliação, o governo não estuda recuar na decisão que desobriga o uso da máscara de proteção contra a doença. No Estado, o acessório é dispensado em locais abertos e fechados desde 1º de maio.
“Temos regiões que não tiveram aumento, mas outras que tiveram. Então, não conseguimos fazer uma recomendação geral, não vale a pena voltar a obrigar o uso”, diz o secretário, lembrando que a orientação, no entanto, é diferente em alguns casos.
“A gente incentiva e recomenda o uso em locais fechados e aglomerados e transporte público. Além disso, apoiamos as cidades que tomaram essa decisão”, afirmou, referindo-se a municípios como Nova Lima, na Grande BH, que voltou a obrigar o uso em escolas, estabelecimentos e unidades de saúde e no interior dos veículos de transporte escolar.
Vacinação estacionada
O aumento de casos de Covid no Estado nas últimas semanas é um alerta principalmente para os pais. A imunização infantil contra a doença está estagnada em Minas e estacionada em um patamar bem abaixo do ideal.
Até a última terça-feira (24), apenas 35% do público de 5 a 11 anos tinha completado o esquema vacinal no Estado. Ao todo, 1,1 milhão de crianças não receberam a segunda dose.
Desde meados de abril, a cobertura praticamente não avançou. Há um mês, o dado estava em 32,6%. Em relação à primeira aplicação, a imunização também se mantém em cerca de 70%.
O cenário, que merece ainda mais atenção diante das recentes quedas nas temperaturas, preocupa médicos e autoridades, que alertam para a sazonalidade das infecções respiratórias, assim como a Covid.
“Essa baixa adesão nos preocupa muito. Este é o pior momento do ano em relação à doença. Então, é muito importante lembrar a todos de tomar a vacina, tanto as crianças, quanto os adultos e idosos, para que a gente atravesse esse momento de maior risco de contaminação”, disse o secretário de Estado de Saúde, Fábio Baccheretti.
Desde o início da pandemia, 188 crianças e jovens de até 19 anos perderam a vida em Minas após contrair o coronavírus. O número de doentes desta faixa etária passa de 339 mil – exatos 10% do total de contaminados no Estado.
MOTIVOS
A baixa cobertura, segundo o pediatra e epidemiologista especialista em imunização, José Geraldo Ribeiro, pode estar diretamente relacionada à insegurança de pais e responsáveis, criada por falsas notícias.
“Também não vimos, por parte do governo federal, uma divulgação oficial deixando clara a importância da vacinação das crianças. Então, não consigo culpar apenas os pais. Mas acho que eles estão sendo levados a uma decisão errada. Por isso, oriento que procurem profissionais de confiança para que possam ficar bem informados”, avalia.
O pediatra reforça a segurança dos imunizantes e atesta os perigos da proteção incompleta. “A contaminação pelo vírus pode acarretar muitos riscos. Nos últimos dois anos, a Covid foi a infecção que mais matou crianças”, diz o médico, que completa: “Temos que alertar que apenas uma dose não gera boa proteção e que os imunizantes, independentemente de variantes, têm mostrado até o momento alta eficácia em evitar a forma grave da doença. Então, não há dúvidas sobre a importância”.
*Com Marina Proton, do HD