Noventa anos dedicados
à política e ao povo
mais humilde
Paulo Brandão
Correspondente
Bocaiúva está de luto. O ex-prefeito Wan-dyck Dumont faleceu às 16h30 de domingo, na Santa Casa de Montes Claros. Ele estava internado há 12 dias, vítima de um AVC - Acidente vascular cerebral. A prefeitura decretou três dias de luto, escolas e repartições públicas não funcionam. O corpo foi velado na Matriz do Senhor do Bom Fim e enterrado no cemitério Parque Santa Lúcia, ontem, segunda-feira, às 15h. Centenas de pessoas passaram pela igreja na noite de domingo e manhã de ontem. Todos os alunos da rede de ensino compareceram uniformizados ao velório.
VIDA EXEMPLAR
Wan-dyck Dumont nasceu aos seis de abril de 1917, na então Conceição do Barreiro, atual município de Francisco Dumont. Desde muito cedo, Wan-dyck demonstrou suas qualidades de líder, possuidor de um profundo senso de justiça. Iniciou seus estudos na cidade de Jequitaí, com seu irmão Daniel. Seu pai, Francisco Dumont, faleceu quando ele tinha 15 anos, fato que fez com que não desse continuidade aos estudos, por falta de recursos materiais. Os irmãos Sócrates e Cícero estudavam no Ginásio Municipal de Montes Claros. Já a irmã Síria lecionava no colégio do distrito. Sendo assim, Wan-dyck e Daniel deixaram os estudos para ajudar a mãe Carlota a custear os estudos de Cícero, que mais tarde se tornaria bacharel em Direito pela UFMG e professor.
Aos 15 anos, Wan-dyck começou com Daniel como garimpeiro em uma localidade denominada Boqueirão. Devido aos perigos do garimpo, abandonou a profissão e tornou-se um dos maiores comerciantes da localidade. Pensando buscar o desenvolvimento para aquele lugarejo, ele construiu, numa extensão de 26 quilômetros, à base enxada e picareta, uma estrada que ligou Conceição do Barreiro a Bueno Prado, para o escoamento das mercadorias vindas de São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte.
DE ESTAFETA A FAZENDEIRO
Pouco tempo depois, ele adquiriu um caminhão que realizava o transporte de correspondências, mercadorias e passageiros para Granjas Reunidas. Wan-dyck se tornou estafeta dos correios. Sócrates, seu irmão, o aconselhou a se dedicar à pecuária e ele se tornou um dos maiores fazendeiros da região.
Casou-se com a prima Maria Lúcia e foram morar em Francisco Dumont, onde tiveram dois filhos, Wandiquinho e Paulo Henrique; o último faleceu seis meses depois.
A mãe sofria de problemas cardíacos e morreu ainda muito jovem. A dor da perda foi superada. Em 1950, tornou-se juiz de paz em Francisco Dumont; foi o seu primeiro passo na política. Organizou o seu cartório de paz e ali prestou muitos serviços à comunidade.
Em 1954, foi eleito vereador pela câmara municipal de Boc, representando o distrito. Candidatou-se a prefeito em 1958, mas não se elegeu.
WAN-DICK É ELEITO!
Chegaram as eleições de 1962 e Wan-dyck candidatou-se a prefeito. O recém chegado de Francisco Dumont foi eleito e tomou posse em fevereiro de 1963, ficando na casa de Marcos Caldeira Brant, seu vice-prefeito.
As ruas não eram calçadas, os distritos de Terra Branca e Olhos D’água ficavam isolados, pois não havia pontes sobre o Rio Macaúbas. Ele instalou uma fábrica de lajotas, calçou e urbanizou a Praça Benedito Valadares, ruas e avenidas. Foram construídas dezenas de pontes em todas as comunidades rurais e instaladas energia elétrica, água encanada e telefonia.
Casou-se pela segunda vez com Maria Celestina Baeta (Celeste), que teve três filhos: Gustavo Henrique Eduardo e Roberto.
A população elegeu Wan-dyck por mais dois mandatos. O seu último se encerrou em 1988, quando a cidade completou 100 anos de emancipação político-administrativa. Ele construiu escolas, trouxe a água do Ribeirão da Onça (considerada a maior obra de todos os tempos), a ponte sobre o Rio Jequitinhonha, com 120 metros de extensão, prédio da prefeitura, posto policial em todos os distritos, adquiriu 27 veículos para a frota do município.
- A gente jovem recebeu Bocaiúva cheia de benefícios e mais alegre. Talvez não possa avaliar o trabalho de Wan-dyck Dumont porque não presenciou a sua transformação. Ele saiu de forma honrada, deixando uma prefeitura sem dívidas, acima de tudo, com um caixa positivo para o prefeito seguinte, Alberto Caldeira – diz Maria Clara Lage Vieira, autora do livro Wan-dyck pintor de simpatia.
- É muito difícil falar de Wan-dyck, o seu estilo não é comum. Há 10 anos estávamos na Coopagro - Cooperativa dos produtores rurais de Montes Claros e chegou um cooperado até nós e disse: - Homem igual a Wan-dyck Dumont nasce de 100 em 100 anos. Isso me deixou muito honrado de saber quanta admiração as pessoas têm por ele. É um homem que não condena ninguém - diz Sócrates Dumont, o irmão.