Meninos arriscam a vida em troca de algumas moedas

Jornal O Norte
12/12/2005 às 11:20.
Atualizado em 15/11/2021 às 08:55

Tiago Severino


Correspondente

PIRAPORA - Na Avenida Salmeron, nesta cidade, oito garotos entre 09 e 11 anos trabalham como flanelinhas ou, como eles definem, guardadores de carro. É comum vê-los correndo de um lado para o outro, sempre à espera de um freguês. Os jovens guardadores correm risco de serem atropelados e de se machucarem na briga pela preferência do motorista.

Os garotos calculam que ganham cerca de R$ 10 por noite. Os melhores dias, na opinião deles, são os finais de semana, quando restaurantes e lanchonetes da avenida ficam mais cheios. Apesar disso, a disputa para ganhar dinheiro é acirrada, devido à quantidade de guardadores e, muitas vezes, brigam entre si para terem o direito de vigiar um veículo.

O horário do expediente é pesado. Alguns chegam por volta das 6h da noite e vão embora às 5h da manhã, quando os estabelecimentos já estão prestes a fechar. Normalmente, voltam para casa com apenas algumas moedas no bolso, e com fome.

Não existe um preço definido para o serviço. Os guardadores contam que os fregueses pagam com moedas que receberam de troco. Esse dinheiro é destinado para ajudar a família na despesa de casa.

NA SALA DE AULA

A reportagem de O Norte conversou com dois desses garotos. Eles dizem que estudam e freqüentam as aulas. Um deles revela que os professores sabem que atua como flanelinha na Avenida Salmeron, mas nunca sofreu qualquer tipo de repreensão.

Os garotos contam que têm medo de serem tirados daquele local pelo Conselho tutelar, porque o dinheiro que ganham é importante para ajudar os pais: o dinheiro de um serve para comprar velas, pois não há luz onde mora; o do outro é para comprar arroz e feijão.

Eles afirmam que suas famílias sabem que eles atuam como flanelinhas e os pais trabalham, mas o dinheiro não é suficiente para suprir as despesas da família.

- Eles abordam os clientes em grupo. Inclusive, muitas mulheres, quando vão embora, pedem ao garçom que as acompanhe até o carro - conta o proprietário de um restaurante.

Ele diz que o Conselho tutelar nunca foi até o local fazer uma fiscalização. Para ele, os garotos são ignorantes com as pessoas, xingam e ameaçam aqueles que não pagam.

BARRADOS NO RESTAURANTE

Segundo Roberto Nunes Pereira, segurança de um restaurante, os garotos, além de pedirem para vigiar os carros, costumavam entrar no restaurante para pedir comida. Ele explica que a função que exerce é de impedir que eles incomodem os clientes do estabelecimento e barra a entrada.

Roberto reconhece que isso não resolverá o problema social. Para ele, é necessária uma postura mais enérgica por parte dos órgãos responsáveis, principalmente, do Conselho tutelar, para tirar os garotos da rua e lhes dar um meio digno de vida.

De acordo com Marcília Aparecida Costa Diniz Magalhães, presidente do Conselho tutelar, as ações da instituição são baseadas em denúncias. Diz que recebeu uma reclamação, há algum tempo, desse problema e o garoto abordado não voltou a atuar. Marcília alega que é difícil fazer uma fiscalização, porque não tem como realizar um controle sistemático e saber se os meninos são reincidentes.

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