Para Marieta é fundamental o diálogo e a conscientização dos jovens para não aceitarem a violência e não se tornarem agressores (Arquivo Pessoal)
Minas Gerais fechou 2022 como o estado que mais registrou casos de feminicídios no Brasil. De acordo com a pesarosa estatística divulgada pela Polícia Civil mineira, foram 163 feminicídios consumados e 195 tentativas. Em Montes Claros, no Norte de Minas, os casos de violência contra a mulher cresceram 1% nos dois primeiros meses do ano comparado ao mesmo período em 2022.
Quem conhece a consequência da dor desses dados brutais é a professora aposentada, Marieta Medeiros de Brasília de Minas – mãe de uma vítima do feminicídio. Em 2021, a vida da filha de 34 anos, Laureane Medeiros dos Santos, foi interrompida pelo namorado que a matou asfixiada.
“Acerca do assunto, confesso que era leiga e só via por noticiários casos de mulheres vítimas de seus companheiros; até passar por tais sentimentos de ódio, injustiça, desumanidade, deslealdade e principalmente covardia por parte de uma pessoa que não merece ser chamada de humano e sim de monstro, pela forma brutal que executou minha filha”, conta.
Para Marieta não é concebível que sendo o feminicídio, um crime considerado qualificado, portanto hediondo, que o assassino confesso fique livre. “Criaram a lei do feminicídio, (Lei 13.104/15) para punir os agressores, para diferenciar os assassinatos de mulheres dos homicídios comuns, tirando o crime da invisibilidade. Entretanto, espero ansiosa para que o monstro seja preso. A sua liberdade é falha do Judiciário, pois, uma pessoa que foi capaz de cometer uma série de ações como cogitar, preparar, executar e consumar o crime, não pode ficar livre” diz aflita.
Mulheres assustadas
De acordo com dados da 11ª Região Integrada de Segurança Pública (Risp), em 2022, nos dois primeiros meses do ano, MOC registrou 1.278 casos de violência contra a mulher, enquanto no mesmo período de 2023, a cidade registrou 1.285 casos; o que configura um aumento de 1%. O número de ocorrências envolvendo mulheres negras foi de 65%, brancas 21% e com cor indefinida 14% em 2022. A faixa etária das vítimas foi de zero a 60 anos ou mais. Sendo as de 35 a 59 as maiores vítimas (3.872). Ainda nesse ano, os casos de feminicídio tentados foram 19 e consumado um. Em 2023, tentado e consumado um cada.
Em fevereiro de 2023, a Câmara Municipal de Montes Claros realizou audiência pública sobre feminicídio. Presente, a responsável pela Delegacia da Mulher, Karine Maia, destacou: “Percebemos altos índices de agressão contra a mulher na nossa região como algo cultural, onde o homem se sente superior pelo simples fato de ser homem. E com a acessão da mulher em todos os âmbitos, alguns se sentem ameaçados e diminuídos – machismo enraizado. Enquanto em outros crimes conseguimos fazer planos de combate de prevenção, na violência doméstica não é possível”, explicou a delegada.
Marieta, mãe de Laureane, sabe bem disso e pede justiça: “por minha filha, por mim, por meus familiares”. E apela às mulheres que sofrem de agressões para que façam o registro da agressão sofrida. Para a aposentada, somente a educação poderá mudar os dados. “É fundamental conversar com seus filhos desde a infância para que jamais aceitem qualquer tipo de agressão e jamais sejam um agressor”, ressalta a mãe de mais uma vítima de feminicídio no Norte de Minas.
CONSCIENTIZAÇÃO
Em MOC, a Câmara Municipal aprovou o projeto de Lei nº 11/2023, de autoria do vereador Edmilson Bispo dos Santos (PSD), que instituí o Dia Municipal de Combate ao Feminicídio, a ser celebrado no dia 2 de dezembro de cada ano. A data faz referência a um crime de feminicídio acontecido na cidade e que repercutiu nacionalmente.