Gargalo na formação

Indústria mineira precisa qualificar 1 milhão de trabalhadores em três anos

Hermano Chiodi
Do HD
26/05/2022 às 03:19.
Atualizado em 26/05/2022 às 10:23
A formação de mão de obra industrial é basicamente presencial e sofreu muito com a paralisação de atividades e suspensão de aulas durante a pandemia (LUCAS NOLASCO/FIEMG/DIVULGAÇÃO)

A formação de mão de obra industrial é basicamente presencial e sofreu muito com a paralisação de atividades e suspensão de aulas durante a pandemia (LUCAS NOLASCO/FIEMG/DIVULGAÇÃO)

Para Minas Gerais retomar o crescimento, primeiro terá que resolver um problema sério: a falta de mão de obra qualificada para a produção industrial. Nos próximos três anos, o Estado vai precisar treinar pelo menos 1 milhão de trabalhadores para atender a demanda do setor, de acordo com dados do Mapa do Trabalho Industrial 2022-2025.

O estudo, realizado pelo Observatório Nacional da Indústria, foi feito com o objetivo de identificar gargalos e demandas futuras por mão de obra, assim como orientar a formação profissional de base industrial no país.

Conforme os dados da pesquisa, em todo o Brasil, a estimativa de carência de mão de obra é de quase 9,6 milhões de pessoas. Uma das razões do déficit na mão de obra qualificada no Estado está no atraso provocado pela pandemia de Covid-19 na formação de novos profissionais, de acordo com Ricardo Aloysio, gerente de Tecnologia e Educação para a Indústria do Senai Minas.

Segundo ele, o principal centro de treinamento de mão de obra do país foi duramente impactado pela pandemia por conta das peculiaridades do ensino industrial. 

“A formação de mão de obra para a indústria é muito dependente do ensino presencial, por isso, a necessidade de paralisação das atividades durante a pandemia provocou um atraso de quatro meses na liberação dos alunos. Fato que faz parte do cenário de falta de mão de obra na retomada econômica”, afirma. Ele complementa dizendo que a situação se repete em outras partes do país.
 
INVESTIMENTO 
Curiosamente, se falta mão de obra, dinheiro para treinar não chega a ser problema. Segundo o gerente do Senai, só na instituição são investidos, em média, R$ 200 milhões todos os anos para qualificação de mão de obra especializada na indústria.

Nos últimos anos, porém, houve um pequeno atraso na formatura de alunos, em virtude da paralisação das atividades de ensino. Em 2020 e 2021, anos de pandemia, foram formados cerca de 210 mil profissionais especializados em mão de obra, em Minas Gerais – número ainda aquém da necessidade imediata, de acordo com a pesquisa.

O analista de sistemas Gabriel Naves, de Belo Horizonte, apostou na qualificação como forma de subir na carreira. Ele começou a preparação desde cedo e hoje é diretor técnico na empresa em que trabalha.

“Foi uma aposta, um projeto. Hoje ocupo um cargo de liderança e, mesmo assim, não paro a qualificação”, afirma.

É o caso, sobretudo, das empresas que trabalham com dados e informações, como a Newon Engenharia e Tecnologia, segundo a pesquisa. O CEO da empresa, Dimitry Boczar, diz que falta mão de obra. “Somos muito dependentes de mão de obra qualificada, sem esse pessoal, a gente não cresce”.

O diretor-geral do Senai, Rafael Lucchesi, reconhece que a recuperação do mercado formal de trabalho será lenta em razão da retomada gradual das atividades econômicas no pós-pandemia. Ele sugere que as pessoas aproveitem o momento.

“Essa necessidade de qualificação será recorrente ao longo da trajetória profissional. Quem parar de estudar, vai ficar para trás”, avalia.

União de técnica e criatividade
Falta mão de obra em todos os níveis de formação, tanto na qualificação básica quanto nos cursos técnicos e de nível superior. Mas as áreas que mais vão demandar profissionais qualificados são as indústrias vinculadas às atividades de metalmecânica, construção, logística e transporte, segundo o levantamento feito pela Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg).

Para o nível superior, as profissões mais demandadas são analistas de tecnologias da informação, gerentes de produção e gerentes de comercialização. No nível técnico, a maior carência, segundo a pesquisa, são os profissionais formados nas áreas de controle de produção, planejamento, eletrônica e segurança do trabalho.

Para as qualificações, a demanda maior será para operadores de máquina de costura, mecânicos de máquinas pesadas e veículos, além de padeiros e confeiteiros. 

Contudo, obter o conhecimento técnico não basta, destaca Gustavo Brito, diretor de Operações da IHM Stefanini, uma das empresas que sentem falta desse profissional qualificado. 

“A gente precisa da mão de obra com esse conhecimento técnico básico, mas também de um profissional que ouse e seja capaz de criar. É esse profissional que o mercado precisa. A qualificação técnica é o caminho para avançar”, ressalta.

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