Patrimônio Natural de Montes Claros e Norte de Minas, o Parque Estadual da Lapa Grande enfrenta em menos de um mês a segunda situação de incêndio de grandes proporções. O primeiro ocorreu em nove de setembro e atingiu uma área de 27 hectares. A causa do incêndio não foi informada. Desde a última quinta-feira (2), o Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais (CBMMG) atua ininterruptamente em um novo incêndio, com equipes aéreas e terrestres, para combater o fogo. Dois aviões modelo Air Tractor, nove caminhonetes e dois caminhões-pipa foram empregados na situação.
Além dos militares do CB, a operação conta com o apoio de instituições como o Instituto Estadual de Florestas (IEF), a Brigada AMDA, voluntários da Brigada B1 e pilotos dos Air Tractor. Durante a ação, surgiu um novo fato e foco. As equipes realizavam o combate na região da Trilha do Contrarrelógio quando identificaram uma nova frente de fogo na área da Cachoeira do Giné. Conforme a corporação, foi preciso traçar estratégia e execução rápidas para conter a propagação do fogo que se alastrava com rapidez. Desta vez, houve um flagrante de ação humana, quando um homem que tentava limpar um terreno confessou ter colocado fogo no local. Devido às condições climáticas, de vento e baixa umidade do ar, o fogo chegou ao interior do Parque. O responsável foi encaminhado à Delegacia pela Polícia Militar para prestar depoimento, já que o ato está previsto como crime ambiental pela Lei 9.605/1998.
IMPACTO
Vanessa de Andrade Royo, professora do Departamento de Biologia da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes), avalia que, a curto prazo, o fogo destrói a cobertura vegetal, compromete o solo e elimina abrigos e fontes de alimento para a fauna. “Muitas espécies não conseguem escapar, e mesmo aquelas que sobrevivem ficam vulneráveis pela perda do habitat”, diz. A médio e longo prazo, a professora destaca que o incêndio provoca o desequilíbrio ecológico. “A perda de espécies nativas e a exposição do solo aumentam o risco de erosão, assoreamento de nascentes e perda da biodiversidade. O fogo também interfere nos ciclos naturais do cerrado, que embora tenha certa resistência a queimadas ocasionais, não suporta incêndios frequentes e de grande extensão”, analisa.
Segundo Vanessa, a recomposição da vegetação é possível, mas depende da intensidade do fogo e da frequência de novos incêndios. A recuperação completa pode levar muitos anos e precisa ser acompanhada de políticas públicas voltadas à prevenção de incêndios e à educação ambiental das comunidades vizinhas. “Em áreas menos atingidas, o cerrado tem capacidade de rebrotar naturalmente. No entanto, regiões mais degradadas exigem ações de restauração ecológica, como o plantio de espécies nativas, o controle de erosões e o monitoramento contínuo”, declara. Para a especialista, mais do que recuperar a vegetação, “é essencial compreender que o fogo nesse tipo de ambiente representa uma perda coletiva, afeta o equilíbrio do ecossistema, o patrimônio natural, a disponibilidade de água e a qualidade de vida de toda a região”, conclui.
Em contato com a 2ª Sargento Jacqueline Silva, do Corpo de Bombeiros, a reportagem apurou que até esta tarde de quarta-feira (8) o fogo não havia sido totalmente debelado. Os bombeiros continuam no local e empenhados na ação. Por volta das 19h, a comunicação da corporação deverá divulgar um novo boletim sobre a situação.