
Moradores da região do Planalto Rural e Lagoinha vivem, desde o último domingo (21), a intranquilidade de ver a comunidade atingida pelo fogo que teria começado nas proximidades do São Geraldo II, em Montes Claros, passando por Pradinho e Olhos D’água ainda no sábado (19) e avançado para o Planalto no domingo.
A comerciante Maria de Fátima Alves conta que o momento foi dramático. “Todo mundo se juntou para ajudar a conter o fogo, que passou de um lado para o outro pela estrada. Utilizamos balde de água, mangueiras e arrancamos os ramos perto das casas. Algumas pessoas tiveram que deixar a moradia porque o incêndio chegou bem perto”, relata.
Fátima declarou que um vizinho teve o trator incendiado e o primo perdeu grande parte da plantação de tomate e, mesmo com a umidade da plantação, o fogo caiu no meio e se espalhou. Segundo a moradora, o local tem cerca de 70 famílias e, em setembro de 2007, aconteceu algo semelhante. “Está fazendo 18 anos que vi uma situação parecida. Mas agora foi desesperador”, diz Fátima, que, dois dias depois do episódio, ainda guarda marcas psicológicas. “Alguns ainda estão na casa de parentes. É uma situação complicada porque quem mora aqui depende do que produz ou vende para o sustento. E nós não estamos dormindo tranquilos”, afirmou. Na manhã desta terça-feira (23), ela e outros moradores aguardavam a chegada da Cemig para regularizar o fornecimento de energia, já que fios e instalações foram atingidos.
Para Leandro Fróes, agente de saúde no Planalto Rural e residente em Pradinho, apesar de não ter havido prejuízo financeiro na sua área, o impacto no meio ambiente e na saúde das pessoas da região é inegável. “Com o mato, foram queimados pneus, plásticos e outros resíduos. Tem uma fumaça escura na região e o cheiro da fumaça está no ar. É uma preocupação, especialmente para quem tem problemas respiratórios”, alerta Leandro.
De acordo com o Corpo de Bombeiros, as chuvas da madrugada desta segunda-feira (23) “contribuíram de forma decisiva para a extinção do incêndio florestal que atingia a localidade do Planalto/Lagoinha. Um sobrevoo com drone realizado nesta manhã de terça-feira confirmou que não há mais focos ativos. Com o apoio do Instituto Grande Sertão (IGS), foi possível delimitar a área atingida, estimada em 348 hectares”.
VENTANIA
Se, por um lado, a chuva veio para auxiliar no combate aos incêndios, por outro, acompanhada de uma forte ventania, provocou também a queda de árvores. De acordo com a Defesa Civil de Montes Claros, na área urbana foi constatada a queda de pelo menos seis árvores.
O meteorologista Ruibran dos Reis avalia que o Norte de Minas estava com uma sequência de vários dias sem chuvas e com temperaturas elevadas, acima de 35 graus. Houve a chegada de uma frente fria ontem a Minas Gerais e o calor, combinado com aumento repentino da umidade, provoca os temporais no final da tarde e à noite. “Esse sistema meteorológico chamamos de pré-frontal. Antes da ocorrência dessas chuvas, ocorre essa ventania. O vento é gerado pela variação de temperatura e pressão atmosférica. Então, como as temperaturas estavam muito altas e vinha a massa de ar mais frio na retaguarda da frente fria, essa variação entre a temperatura de um lugar para o outro causou a ventania”, analisa Ruibran, complementando que o fenômeno se estendeu a outras regiões do Estado e do país. “Nós tivemos ventania também no Triângulo Mineiro, na região central, no sul do estado, e até ontem à tarde, chegamos a ter também ventania na cidade de São Paulo, que causou prejuízos enormes”, destacou. O meteorologista informou que a ocorrência contrariou a previsão.
“Na verdade, ela chegaria hoje a Minas Gerais. Chegou ontem e já está atuando no Norte, Nordeste e Leste de Minas, com muita nebulosidade. Hoje, a frente fria está atuando, mas ontem é o que chamamos de uma onda pré-frontal”, esclareceu.
