Minas do Norte

Gargalo na saúde por falta de anestesistas

Baixos salários e condições ruins de trabalho fazem especialistas migrarem para rede particular

Leonardo Queiroz
Publicado em 31/01/2023 às 23:21.
 (Pexels/ Ivan Babydov)

(Pexels/ Ivan Babydov)

A falta de anestesistas na rede pública é, atualmente, uma das maiores preocupações das autoridades em saúde em Minas. Em Montes Claros, profissionais reclamam que salário defasado e ruins condições de trabalho fazem com que muitos abandonem a rede pública e busquem melhor condição na particular. 

“Há muitos profissionais no mercado, mas faltam anestesistas na rede pública. Isso se dá pela falta de estímulo, decorrente da falta estrutura, melhores condições de trabalho, falta de material, baixa remuneração e atraso salarial. Uma cirurgia eletiva que poderia ser realizada nos municípios-pólo da microrregião estão sendo levadas para Montes Claros. Com isso, está havendo uma superlotação nos hospitais e cirurgias estão sendo adiadas”, conta o médico anestesista Luciano Veloso Tofolo. 

A paciente Amanda Ingrid Antunes, de 28 anos que sofreu um acidente de trabalho e quebrou o maxilar em quatro lugares esperou um mês e seis dias para operar por falta de anestesista. 

“Eu perdi seis quilos por ter ficado todos esses dias sem comer direito. Eu ligava no ambulatório para ter retorno sobre o anestesista e me falaram que se eu continuasse ligando ia ser a última da fila. Minha cirurgia foi feita na Santa Casa e correu muito bem, mas alguns profissionais precisam de mais empatia com a dor do próximo onde me senti humilhada na hora da aplicação da anestesia”, desabafa Amanda. 

Amanda Antunes quebrou o maxilar e esperou mais de um mês para operar por falta de anestesista (ARQUIVO PESSOAL)

Amanda Antunes quebrou o maxilar e esperou mais de um mês para operar por falta de anestesista (ARQUIVO PESSOAL)

 Ela resolveu um problema e tem outro, o que a tem deixado apreensica.

“Ainda tenho outra cirurgia para fazer e estou muito ansiosa e preocupada em como ocorrerá tudo”, revela. 

Um outra paciente que não quis se identificar conta que está na lista de espera para uma cirurgia de pedra na vesícula. 

“São mais de 700 pessoas na minha frente e o risco cirúrgico vale somente por seis meses. Sinto muita dor e estou preocupada em perder o prazo do risco cirúrgico. Tenho uma pessoa na família que adiou a de cirurgia pela falta de anestesista e acaba sendo mais uma preocupação para mim. O que me resta é aguardar”, lamenta.
 
80 PACIENTES POR DIA
A reportagem do O NORTE conversou com um profissional da área de saúde que também não quis se identificar. Ele conta que chega em média cerca de 80 pacientes por dia nos principais hospitais de Montes Claros justamente pela carência de outras cidades na falta de profissionais e estrutura para atendimento. 

“Esse é um caso que vem sendo empurrado. O que percebemos é a lotação pelo SUS como um todo e o afogamento do sistema que tem dificultado simples atendimentos que podiam ser realizados em outras cidades. Tem caso de paciente que vem distante mais de 200 quilômetros sofrendo nas estradas e, quando chega aqui, continua sofrendo na espera do atendimento. Cirurgias podiam estar acontecendo, mas está tudo lotado”, conta. 
 
O QUE DIZ O ESTADO 
Em visita a Montes Claros no último dia 19, o vice-governador de Minas Gerais, Professor Mateus Simões, destacou que o projeto de construção do hospital regional do trauma no município não está entre os seis hospitais de trauma que já foram iniciados.  

Simões acredita que a solução para Montes Claros, no momento, seja descentralizar o atendimento para desafogar os hospitais em Montes Claros vez que não conseguem atender todo o Norte de Minas.

Tentamos contato com a Secretaria de Saúde de Montes Claros para falar do assunto, mas não tivemos retorno até a publicação da matéria.

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