Alexsandro Mesquita
Correspondente
JOAQUIM FELÍCIO - Carnaval que se preze tem de ter carros alegóricos, confetes, brincadeiras e muita alegria. Tudo isso e muito mais foi constatado por O Norte em Joaquim Felício, a 140 km de Montes Claros.
Emancipada do município de Buenópolis em 1º de março de 1963, a cidade surgiu ao pé da Serra do Cabral, tendo como principal atividade o extrativismo e seus recursos naturais (cristal de rocha).
Durante os dias de carnaval há o costume de jogar trigo na cabeça das pessoas e todos começam a entrar no clima enquanto aguardam o desfile à noite. Alguns homens saem fantasiados de mulher.
Mas o que realmente chamou a atenção foram os carros alegóricos, que contam um pouco da história da cidade num colorido bonito e diferente, movimentando os moradores da cidade e fazendo com que a cultura permaneça viva com a participação de crianças. Além disso, há ainda o envolvimento dos mais velhos, e muitas pessoas que saem de Buenópolis para desfilar nas escolas, como uma senhora de 65 anos, que se vestiu de baiana e caiu na folia.
Não só essa senhora, mas inúmeras pessoas de Curvelo, Belo Horizonte, Engenheiro Navarro, Moc entre outras, presenciaram e viram uma cultura que faz parte da vida de Joaquim Felício a pelo menos 87 anos. Conversamos com dona Ilza Rabelo do Nascimento que, com a ajuda de Hélica Cruz de Oliveira Souza, relatou um pouco da história carnalesca da cidade.
Segundo o relato, nos tempos mais antigos de Joaquim Felício o carnaval consistia em as pessoas vestirem mascaras e sair pelas ruas, visitando as casas, assombrando as crianças e jogando água umas nas outras. Usava-se o entrudo, que consistia em limões feitos de parafina, cheias de água de cheiro para lançar nas pessoas.
Tudo teve início na década de 1920, com a construção da Estrada de Ferro Central do Brasil, quando o caldeireiro Euclides Tavares ( Manivela) e seus companheiros, juntamente com Jacinto de Oliveira (Carioca), e sua família, deram origem ao Bloco dos Cariocas, formada por pessoas do Rio de Janeiro que foram trabalhar na estrada de ferro, e se tornou o bloco mais antigo da cidade. Atualmente, se chama Bloco Acadêmicos do Samba da Rua 1° de Maio.
No sábado, saía o bloco de Zé Pereira, coordenado por Laureana (Sá), e constituido por um grupo de crianças que colocavam uma peneira na cabeça, revestida com um saco por cima, e saíam pelas ruas, cantando repetidamente: “Zé Pereira come feijão sem sal”. A iluminação ficava a cargo de Sá, que ia à frente com uma lamparina acesa sobre a cabeça.
Já o Bloco dos Cariocas era bem organizado, com bateria, cuíca, cavaquinho e tamborim, além de pessoas fantasiadas e porta-bandeira.
Na década de 30 criou-se o bloco do Coador Furado com música própria, coordenado por Otávio Coelho de Araújo. Enquanto isso, nos salões, o povo já usava fantasias em época mais remotas. Haviam dois salões, o do Clube da Liberdade e o Joaquim Felício Esporte Clube. Ainda de acordo o relato, devido certa rivalidade existente entre os dois, quem frenqüentava um dificilmente ia no outro, e vice-versa.
Vimos o desfile da Escola Acadêmicos do Samba da Rua 1° de Maio e Garimpeiros do Samba. Esta última conhecida anteriormente como Bloco Unidos da Mangueira, primeiro sob o comando de Higino Generoso da Silva, com bateria, carros alegóricos e porta-bandeira. Com a mudança de Higino Generoso para Belo Horizonte, o nome do bloco foi substituido, em 1998.
A Garimpeiros do Samba obteve muito sucesso com a liderança de Helmar Oliveira de Souza que contava, além de bateria e porta-bandeira, com alas organizadas e samba enredo. Com o falecimento de Helmar a escola passou a ser coordenada por Izaura Pereira de Faria.
Geralmente os temas homenageiam a Serra do Cabral, Parque Estadual criado em 2005; suas origens, seus indíos, animais, garimpeiros, cristal, sempre-viva e sua belezas naturais, principalmente a linha férrea.
A prefeitura local dá a contra-partida e colabora para a realização do carnaval com uma quantia de igual valor para cada escola. Isso gera renda para algumas famílias durante o período de confecção de fantasias e montagens de carros, entres outros.
A participação infantil ajuda a fortalecer e preservar essa cultura através das alegorias nos carros e no chão. As crianças crescem e dão continuidade ao espírito carnavalesco, preservando a tradição.
A Acadêmicos do Samba conta com a coordenação de Paulo da Cruz Leite, a esposa Aparecida Leite e, ainda, recebe a ajuda da filha Márcia Cristina Leite acadêmica do curso de arquitetura. A escola homenageou os ferroviários, relembrando o período áureo da estrada de ferro da cidade com réplicas da Maria Fumaça e da Estação Ferroviária, incluindo a Rede Ferroviária Federal - R.F.F.S.A, Ferrovia Centro Atlântica- FCA, e o ferroviário Francisco Timóteo Pereira, que faz parte da história da cidade, além do trolei, transporte usado pelos funcionários responsáveis pela conservação da linha. De acordo com Márcia Cristina, ela e o pai foram os responsáveis pela construção das réplicas.
Francisco Timóteo, natural de Cordisburgo-MG, era filho de Militão Timóteo Pereira e Maria da Costa Tavares e desempenhou várias atividades, principalmente na ferrovia de Joaquim Felício. Seu curriculo inclui também funções como jornalista, advogado, poeta e trovador premiado no Brasil e no exterior, bem como na área cultural, como escritor de livros e precursor em movimentos para criação de entidades culturais, como a criação do Museu Casa Guimarães Rosa em Cordisburgo, entre outros.
Já a Garimpeiros, optou pelo tema Folia para Todos, que também contagiou os foliões.
A praça Mestre Macial, conhecida por Buteco dos Meninos, e a Amélia Martins são os pontos de maior aglomeração dos foliões, onde também as escolas fazem o contorno, retornando para a concentração de cada uma, depois de desfilarem pela avenida Getúlio Vargas.