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Sábado,5 de Julho
A natividade de Jesus

Em Grão Mogol, maior presépio permanente a céu aberto do mundo tem 11 anos

Maior do mundo, o Presépio Natural Mãos de Deus, em Grão Mogol, tem vistas para o centro histórico e a Serra do Espinhaço

Manoel Freitas
Publicado em 16/12/2022 às 23:26.Atualizado em 16/12/2022 às 23:27.

Fundada em 1840, a cidade histórica de Grão Mogol, na Serra do Espinhaço, é na atualidade importante roteiro turístico de Minas Gerais. Isso, não apenas por conta de seu casario colonial e construções em pedras, tombados em 2016 pelo Conselho Estadual do Patrimônio Histórico de Minas Gerais, mas, igualmente, em função do forte apelo religioso: a Matriz de Santo Antônio, erguida na segunda metade do Século XIX, e o Presépio Natural Mãos de Deus, o maior a céu aberto do mundo, que completou 11 anos no último dia nove, 14 meses após o falecimento de seu fundador, o sociólogo e economista Lúcio Marcos Bemquerer.

Distante 148 km de Montes Claros, além de funcionar o ano inteiro, o presépio, que levou 11 meses para ficar pronto, recebe grande número de religiosos em dezembro, atraídos por pelas cantatas e autos de Natal, peça que conta a natividade de Jesus de Nazaré, figura central do cristianismo.  
Ocupa área de 3,6 mil metros, sendo que as peças que representam em tamanho original a recriação do estábulo em Belém e as cenas seguintes ao nascimento de Jesus, com os personagens da Sagrada Família, foram esculpidas cimento, ferro e pedras, tirando proveito do desalinho das rochas da Serra do Espinhaço ou Serra Geral de Minas. 

Com 15 mil habitantes, a informação é que, ao longo de 11 anos, em Grão Mogol mais de 100 mil pessoas tenham visitado o presépio permanente.  

Trata-se de obra de dois grandes artistas mineiros, o escultor Antônio Silva Reis, de Contagem, que cunhou em cimento e ferro três personagens da Sagrada Família, José, Nossa Se’nhora (jovem e mãe) e o Menino Jesus; bem como o burrinho, o boi, o carneiro e o galo.  

As demais esculturas são do artista plástico Edson Novais, de Ouro Preto, especialmente os três reis magos, Gaspar, Baltasar e Belchior, bem como a estátua de São Francisco de Assis, santo que criou o primeiro presépio no mundo, em 1223, em uma gruta na Itália, dando início à tradição.   

Fé e mãos na massa

Também em Grão Mogol, na quinta-feira (15), O NORTE ouviu o artista Antônio Edgar Pereira, 70 anos de idade, 55 dos quais criando, sobretudo, presépios, ou seja, por força da forte religiosidade de seus pais e tradição de toda a família, desde a adolescência fazendo uso de seu tempo e habilidades para produzir cada personagem dos presépios com as próprias mãos.  

Aliás, na sala/ateliê, esculpiu a 15 anos, na própria rocha onde foi edificada sua casa, espaço suficiente para a representação do nascimento do Menino Jesus. 

“Em todas as peças que crio, de química mesmo só faço uso da cola, o restante temos em abundância, garranchos e pedras trazidos pela correnteza de nossos rios e pó de madeira, ou seja, tudo natural”, explica o artista.  Informa que um pequeno presépio, que vende em média a R$ 120,00, consome seis dias de trabalho, “mas o dinheiro não é tudo, porque sou católico e aprendi primeiramente com minha mãe, que quando não encontrava outros materiais confecciona os presépios em papelão”. 

Por fim, lembrou que, como voluntário, há oito anos é o responsável pela montagem do presépio da Matriz de Santo Antônio. 

Presente de filho da terra

Para falar sobre o turismo religioso intensificado a partir da construção do Presépio Natural Mãos de Deus, na quarta-feira (14), O NORTE ouviu Ítalo Oliveira Mendes, turismólogo e secretário de Turismo e Desenvolvimento Econômico de Grão Mogol.  “Primeiro, temos que lembrar sempre que o presépio foi concebido e doado à Arquidiocese de Montes Claros pelo benemérito local Lúcio Marcos Bemquerer, nascido em Grão Mogol, que além de presidente da Associação Industrial e Comercial de Minas Gerais e da Federação das Associações Comerciais de Minas Gerais, foi diretor do Banco Mercantil”, disse Ítalo.

O turismólogo explicou que “a construção aproveitou a Serra do Espinhaço, paisagem da qual o presépio é integrado, com uma linda vista para o Vale do Itacambiruçu, de forma a compor a cordilheira com as figuras da natividade, algumas produzidas em pedra-sabão e outras em concreto”. 

Prosseguindo, afirmou que “então, o nosso presépio tem relevância estética, ou seja, é muito bonito de se ver; bem como valor simbólico, posto que se integra ao conjunto colonial de Grão Mogol, que também está construída no alto da montanha, com edificações feitas em pedras e em estilo colonial”. 

Chama atenção para o fato de cada peça de pedra sabão em tamanho natural pesar 700 quilos, “tudo isso a poucos metros da Matriz de Santo Antônio, o principal atrativo turístico do município, que recebeu do portal de notícias UOL o título de “uma das dez igrejas imperdíveis de Minas”.  No seu entendimento, “esses dois símbolos de notável valor religioso, com cantatas de Natal, autos de Natal, acabam criando um contexto, um panorama importante para celebrações natalinas, se consolidando cada vez mais como importante centro turístico do Norte de Minas”. 

Exemplo de simplicidade

O padre Helton de Oliveira Cardoso, da Matriz de Santo Antônio, recebeu O NORTE na quinta-feira (15).  

Indagado acerca da tradição dos presépios em casa no município que tem o maior presépio a céu aberto permanente do mundo, disse que “em Grão Mogol, são raras as residências que não têm presépio, porque, mesmo com a simplicidade da gente do Norte de Minas e Vale do Jequitinhonha, os católicos demonstram, com a representação do nascimento do Menino Jesus, a profundidade de sua fé”.

O sacerdote informou que os cristãos que têm visitado o Presépio Natural Mãos de Deus são tocados de tal forma que se interessam por tê-los em casa. 

Mais ainda, o padre Helton de Oliveira disse acreditar que “o presépio e a Matriz de Santo Antônio são cenários que, juntos, evocam mais simplicidade ainda, porque a matriz, por mais grandiosa que seja, é de pedra e madeira; o presépio é de pedras, então, têm muita simbologia e trazem sentido de singeleza para quem vem visitar”. 

Na opinião do presbítero, “tanto é verdade que o presépio é sinônimo de simplicidade, que seu fundador foi o próprio São Francisco de Assis, porque optou pelo simples em um tempo marcado por riqueza, pompa e ostentação”. 

No seu entendimento, “desse modo o frade quis deixar essa mensagem, porque mesmo sendo importante, preferia ser conhecido pela simplicidade”. Para o religioso que está em Grão Mogol desde fevereiro de 2017, “Deus permitiu que seu Filho nascesse na pequenez de uma manjedoura, uma cocheira, em um curral, para trazer a maior das mensagens para a humanidade”. 

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