MINAS DO NORTE

Em Botumirim, incêndios florestais destroem biodiversidade

Manoel Freitas
Publicado em 15/12/2023 às 19:00.
No domingo (10), brigadista observa avanço das chamas (Glaidson Carlos Rodrigues)
No domingo (10), brigadista observa avanço das chamas (Glaidson Carlos Rodrigues)

Incêndios, ao que tudo indica criminosos, conforme O NORTE publicou na edição de quinta-feira (14), avançam desde a tarde de domingo (10) sobre as campinas e campos rupestres do Parque Estadual de Botumirim, destruindo uma das regiões de mais rica biodiversidade da unidade de conservação. Até o fechamento dessa edição, o fogo, que no terceiro dia queimou quase 750 hectares, já atingia inimagináveis 1500 hectares. 

Na verdade, esses campos de altitude é que formam a caixa d’água do Cerrado, através de aquíferos que possibilitam a infiltração e armazenamento de água no subterrâneo e na superfície. 

E, como se não bastasse, pouco antes das 21 horas da quarta-feira (13) foi a vez de o fogo avançar dentro da Reserva Natural Rolinha do Planalto, contido três horas mais tarde graças à grande mobilização dos brigadistas, do Instituto Estadual de Florestas (IEF), da Save Brasil, Secretaria de Meio Ambiente e da população. Felizmente, na manhã de quinta-feira (14), monitoramento indicava que a espécie ameaçada de extinção sobreviveu às chamas.

O fato ocorre um mês depois do coordenador da Reserva da Biosfera do Espinhaço, Miguel Ângelo Andrade, alertar em entrevista à O NORTE que 68% das espécies ameaçadas em Minas Gerais ocorrem nesses campos de altitude, sendo que as queimadas desencadeiam alterações e impactos no meio ambiente, reduzindo a biodiversidade em escalas locais e regionais. 

A chama arde, também, no período reprodutivo de aves endêmicas dessa cadeia de montanhas, uma vez que, por terem distribuição restrita, as queimadas podem ser sua sentença de morte. E nem poderia ser diferente: cada espécie tem seu papel e seu desaparecimento pode resultar no declínio e mesmo ruína desses ecossistemas.

Força-tarefa perde helicóptero 
Mesmo diante do avanço do fogo, com riscos à população do entorno do Parque Estadual de Botumirim, a força-tarefa integrada pela brigada do IEF, brigada voluntária e do Corpo de Bombeiros, totalizando 21 combatentes, desde o final da tarde de quarta-feira (13), não conta mais com o apoio do Previncêndio/IEF, que até então disponibilizava helicóptero do Comando de Aviação do Estado (ComAvE) para o combate às chamas.

A baixa na equipe (além da aeronave atuavam oito militares) foi nunciada pela gerente do Parque Estadual de Botumirim, Laudineia de Jesus Matias Ventura. A servidora explicou que “a aeronave retornou a Montes Claros para conserto, ao passo que, com as altas temperaturas e velocidade dos ventos, pequenos focos se alastram”. 

Na quinta-feira (14), o IEF anunciou que no dia seguinte chegaria ao município helicóptero da Polícia Civil para auxiliar no transporte de brigadistas, uma vez que não é equipado com bolsa de água, a chamada Bambi Bucket.

Mais ainda, a despeito da aeronave empregada em Botumirim pela 3ª Base Regional de Aviação do Estado possibilitar a busca por água em qualquer reservatório, Peter Cunha, sargento da 11ª Região de Polícia militar, sediada em Montes Claros, explicou a O NORTE que “a maior dificuldade nas operações foi em relação, principalmente, aos ventos, que aqui são muitos fortes, de modo que, ao lançar a água, o vento tira do rumo alvejado, atrapalhando ao mesmo tempo o comando da aeronave”.

Atitude mais enérgica das autoridades
Fundador do Instituto Grande Sertão (IGS) e membro do Conselho Consultivo do Parque Estadual de Botumirim, o consultor ambiental Eduardo Gomes, diante dos incêndios na unidade de conservação e na Reserva Natural Rolinha do Planalto, defendeu “uma atitude mais enérgica e conjunta entre IEF, Polícia Militar e Ministério Público, para dar um basta nessa situação absurda, pois esses incendiários precisam ser identificados e punidos”. 

Para o conselheiro, “nesses tempos tão críticos de aquecimento global, esse é um crime hediondo e que deve ser tratado com o maior rigor possível”. No caso específico de Botumirim, opinou que “é de extrema urgência uma abordagem mais rigorosa com aqueles que insistem e pregam a degradação, através do fogo, da caça, do desmate e até mesmo na prática do motocross dentro do parque, em claro descumprimento da lei”. 

Por fim, em tom de desabafo, defendeu ser “preciso educar a população, mas é urgente também pesar a mão da lei sobre aqueles que não se importam com a coletividade.”

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