Nos últimos três anos, Minas Gerais registrou 20 casos de primatas não humanos contaminados pela febre amarela – 90% deles estavam no Norte de Minas. O foco na região levou o Estado a criar um programa de descentralização das ações de combate à doença. E Salinas foi o primeiro município a receber capacitação.
“É muito importante iniciar essa ação que vai se expandir para outras regiões”, afirma Agna Menezes, coordenadora de Vigilância Epidemiológica da Superintendência Regional de Saúde de Montes Claros (SRS).
A capacitação vai possibilitar que os técnicos executem ações que hoje cabem ao Estado, como a coleta das vísceras dos animais, armazenamento e transporte do material.
As vísceras serão encaminhadas ao laboratório macrorregional em Montes Claros e, posteriormente, enviadas à Fundação Ezequiel Dias (Funed).
“Isso vai dar mais agilidade ao processo e resultado de análise laboratorial, permitindo intervenção também mais rápida”, ressalta Agna.
A descentralização está sendo feita em parceria da Diretoria Regional de Saúde, com sede em Montes Claros, com a Secretaria Estadual de Saúde, Instituto Federal do Norte de Minas – Campus Salinas, Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) de BH, Funed e apoio da Prefeitura de Salinas.
Agna explica que o animal positivado funciona como evento sentinela: ele chama atenção das autoridades em saúde e mostra que o vírus está circulando na região.
A partir daí, uma das principais ações é intensificar a vacinação contra a febre amarela nos moradores. Mas, Agna lamenta que, apesar de ser uma proteção disponível, a cobertura vacinal ainda é baixa.
“A febre amarela é uma doença imunoprevenível e faz parte do calendário-base. A primeira dose é indicada aos 9 meses e um reforço aos 4 anos de idade. Pessoas entre 5 e 59 anos que não têm registro da vacina precisam tomar apenas uma dose”, explica.
VIGILÂNCIA
Biólogo e professor do Instituto Federal do Norte de Minas – Campus Salinas, Filipe Vieira Santos de Abreu abraçou um projeto do Ministério da Saúde para fortalecer a vigilância e tem participado de reuniões que tratam do tema em vários municípios.
“Nestas reuniões a gente treina em campo para fazer coleta de vetores e notificar possíveis epizootias por meio de um aplicativo. Em tempo real, tira a foto do primata morto, os órgãos de saúde ficam sabendo da ocorrência e tem a localização geográfica precisa da ocorrência”, pontua.
De acordo com o especialista, foram visitados 20 municípios em dois anos de trabalho, coletadas amostras de 115 primatas, mais de 3 mil mosquitos foram examinados e feito o treinamento de pelo menos 150 agentes.
Parte destes municípios está no Norte de Minas e conta com apoio dos setores de saúde locais. A experiência está sendo levada para os agentes que serão capacitados sob a jurisdição da Diretoria Regional.
“Dentro da Macronorte, começar em Salinas é importante porque já tínhamos apoio e parceria firmada e o material básico, que é o botijão de nitrogênio líquido para armazenar as amostras até o envio para Montes Claros. Boa parte das outras microrregiões não tem esses equipamentos e nem equipe que já estava trabalhando com isso. Esses dois fatores foram essenciais”, explica o especialista.
O secretário de Saúde de Salinas, Wexley Mendes, afirma que a iniciativa é importante. “Os atores entendem a necessidade local para depois desenrolar as ações junto com as autoridades em saúde”.