Construindo o futuro

Cerrado Vivo: UFMG debate estratégias para preservar o bioma ameaçado

Larissa Durães
larissa.duraes@funorte.edu.br
Publicado em 10/09/2025 às 19:00.
A antropóloga Flávia Maria Galizoni defende que o Cerrado deve ser visto como uma fonte coletiva de vida (Larissa Durães)
A antropóloga Flávia Maria Galizoni defende que o Cerrado deve ser visto como uma fonte coletiva de vida (Larissa Durães)

Em comemoração ao Dia Nacional do Cerrado, celebrado em 11 de setembro, a UFMG realiza no campus Montes Claros, no dia 12, o evento “Cerrado Vivo: Construindo o Futuro de um Bioma Ameaçado”. As atividades começam às 8h, no auditório do bloco C, e integram a quinta Semana Nacional do Cerrado, da qual a universidade participa, pela primeira vez, como membro da equipe organizadora. O evento contará com atividades técnicas-científicas e palestras.

Ernane R. Martins, professor da UFMG de Montes Claros, explica que o evento faz parte de uma mobilização nacional de cerca de 80 instituições. “O Cerrado vem sofrendo diversas agressões ao longo do tempo. Ano passado, foi um dos biomas mais desmatados que temos — representando 52,5% da área total desmatada no país. É preciso conhecer o valor do Cerrado para poder conservá-lo, pois se conserva aquilo que se conhece”, afirmou.

O Cerrado é a segunda maior formação vegetal do Brasil, com cobertura de 25% do território nacional, atrás somente da Amazônia, e concentra-se principalmente no planalto central, abrangendo estados como Goiás, Tocantins, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Bahia, Maranhão e Piauí. Reconhecido mundialmente pela elevada biodiversidade, abriga mais de 6 mil espécies de árvores e 800 de aves, sendo que grande parte das plantas lenhosas e das abelhas é endêmica. Trata-se de um dos biomas mais ricos e, ao mesmo tempo, mais ameaçados do planeta.

Sobre as causas do desmatamento, Martins destacou que a exploração agrícola é um dos principais fatores. “O Cerrado tem solos profundos e planos, muito buscados pela agropecuária, então boa parte do desmatamento se dá em função da ocupação para produção agrícola”.

O evento destacará a importância do Cerrado para a biodiversidade, usos medicinais e alimentícios, produção de óleos e combustíveis, serviços ambientais e econômicos, com uma parte técnico-científica e outra voltada às cadeias produtivas e geração de renda.

Como uma das palestrantes, a antropóloga Flávia Maria Galizoni ressalta a importância do Cerrado para alimentos, água e comunidades tradicionais, alertando que o Cerrado, “caixa d’água do Brasil”, vem sendo ameaçado por práticas degradantes e produção intensiva.

Ela ressaltou que manter o bioma vivo é fundamental também para a preservação da vida das populações que nele habitam. “Um Cerrado vivo é um Cerrado em que a gente também tem uma população viva, em interação com sistemas de conhecimento, mediada pelo uso sustentável da natureza. O Norte de Minas tem um enorme potencial cultural e produtivo, com variedades de feijões, farinhas e outros alimentos tradicionais. Mas, para tudo isso, precisamos de um Cerrado vivo.”

Para a antropóloga, a participação da sociedade é essencial na proteção do bioma. “A primeira coisa que precisamos observar é que vivemos na natureza e ela é viva. Ela nos fornece água, alimentos, conforto térmico e equilíbrio ambiental. Temos que pensar nos nossos estilos de produção e de consumo. Uma produção que não respeita os saberes locais ou que degrada o ambiente, assim como hábitos de consumo que desperdiçam água, são práticas que precisamos rever”.

Galizoni defendeu que o Cerrado deve ser visto como uma fonte coletiva de vida. “Além das atitudes individuais, precisamos pensar coletivamente. O Cerrado pulsa, mas se os estilos de produção enfraquecem esse pulso, chegamos a áreas praticamente devastadas, em que não há volta. Por isso, é urgente repensar nossas práticas e fortalecer alternativas sustentáveis junto às comunidades”.

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