
O Cânion do Peruaçu, situado no Parque Nacional Cavernas do Peruaçu, foi oficialmente reconhecido neste domingo (13) como Patrimônio Natural da Humanidade pela Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura). Localizado entre os municípios de Januária, Itacarambi e São João das Missões, no Norte de Minas Gerais, o local é o primeiro do estado a receber essa distinção.
O reconhecimento internacional destaca a “beleza natural excepcional” do parque e sua importância para a história da Terra. Localizado entre Cerrado, Caatinga e Mata Atlântica, abriga mais de 2.000 espécies, muito ameaçadas de extinção, e atrativos como a Perna da Bailarina, maior estalactite do mundo. Além da paisagem, é um rico sítio arqueológico com vestígios humanos de até 12 mil anos, incluindo pinturas rupestres. Aberto à visitação desde 2014, é administrado pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).
A secretária de Turismo de Itacarambi, Marília Barbosa, avalia que o título representa uma virada para o turismo e o desenvolvimento da região. “Esse título vai atrair ainda mais turistas, o que é excelente para a economia local, mas também exige que estejamos mais preparados”, afirmou. Segundo ela, somente oito condutores dominam atualmente o inglês, e há urgência em ampliar essa capacitação. “Precisamos investir também no ensino de outras línguas, como o espanhol, para melhor atender os visitantes internacionais”.
De acordo com Marília, a procura pelo parque já vinha aumentando nos últimos anos, e a expectativa é de um crescimento de até 50% no fluxo de turistas após o reconhecimento. “Estamos estruturando ações de capacitação para os moradores e empreendedores locais. A prioridade é desenvolver a economia local, garantindo que os moradores estejam aptos a atender essa nova demanda. Só depois abriremos espaço para profissionais de fora”, reforçou. A prefeitura também deve lançar ações de marketing para valorizar os atrativos culturais e naturais da cidade. “Queremos que o turista não apenas visite o parque, mas se hospede aqui e conheça a nossa cidade”, completou.
Para Adailton Joe, de São João das Missões, condutor ambiental no parque, a conquista representa uma mudança na visibilidade do Norte de Minas. “O patrimônio da humanidade vai abrir as portas não só do Parque Peruaçu, mas de toda a região. Só no ano passado, recebemos mais de 14 mil visitantes. Agora, com esse reconhecimento, esse número deve aumentar bastante”, afirmou. Ele descreve o reconhecimento como algo “incrível”. “A gente nem imaginava que isso fosse acontecer. É uma mudança drástica na nossa realidade e no nosso trabalho.”
Joe destaca, ainda, o valor científico do parque. “As cavernas daqui são gigantescas. A do Janelão, por exemplo, tem uma galeria de 100 metros de altura. A arqueologia também é um diferencial, há registros humanos de até 12 mil anos, com pinturas rupestres datadas de 11.700 anos, segundo a doutora Eliane Schin. É um lugar ancestral, cheio de energia. Quem vem sente isso. Acho que a Unesco percebeu esse conjunto de atributos únicos”.
A empresária Kescia Silvia Dourada Madureira, que administra uma pousada na entrada do parque, em Januária, também celebrou a conquista com emoção. “Ontem foi um presente de Deus. A gente não imaginava que isso chegaria tão rápido. Há uns cinco anos a gente vem falando sobre esse selo, mas quando veio foi tão intenso, uma emoção de arrepiar”, disse. Para ela, o título da Unesco marca um novo tempo para o território. “Foi um sentimento de deslumbramento enorme. Se o local já tinha uma potência, você imagina agora, com o reconhecimento mundial como Patrimônio da Humanidade”.
Para os moradores, empreendedores e gestores públicos da região, o novo título é motivo de orgulho, mas também um chamado à responsabilidade e ao planejamento. Como destacou Kescia, “esse sonho não é só meu, é do território inteiro. Agora a gente precisa trabalhar para acompanhar esse crescimento com planejamento e consciência ambiental.”
*Com informações da Agência Minas