O gosto pela cachaça e a vontade de manter viva a tradição deixada pelo pai levaram o empreendedor Flaviano Cruz de Souza a superar grandes desafios em Salinas, no Norte de Minas, município reconhecido como “a Capital Mundial da Cachaça”. O título não é à toa: a cidade abriga dezenas de produtores artesanais e se consolidou como referência nacional e internacional na qualidade e no volume da bebida, que carrega consigo história, cultura e identidade regional. Foi nesse ambiente que Flaviano cresceu, entre plantações de cana e o alambique onde o pai, Sabino Pinto, produzia a cachaça “Preciosa” — posteriormente rebatizada como “Sabinosa”, devido a questões de registro.
Hoje, aos 45 anos, ele é responsável por dar continuidade a esse legado, produzindo uma das cachaças mais premiadas da região. A Sabinosa conquistou quatro medalhas de Prata em competições nacionais: duas na Expocachaça, em Belo Horizonte, com a versão branca Jequitibá (2023 e 2025); uma no Prêmio CNA, em 2022; e outra no concurso da Emater, com a cachaça envelhecida em carvalho. “Estamos organizando a empresa e trabalhando para que, nos próximos concursos, venha o ouro e para isso é necessário dedicação, capricho, participação e consultoria de profissionais qualificados.”, projeta Flaviano.
Desafios
O caminho, no entanto, foi repleto de reviravoltas. Durante muitos anos, Flaviano esteve ao lado do pai na produção, mas decidiu, em 2011, seguir outro rumo. “Fui buscar novos rumos para minha vida.. Abri um bar e comprei uma chácara. Fiquei afastado do alambique por cerca de dez anos”, relembra.
O destino, porém, o levou de volta ao negócio da família em 2021, após a morte de Sabino em um acidente de trânsito. “Não foi como eu desejava, mas precisei assumir a gestão da Sabinosa para evitar o fim da nossa cachaça”, frisa. Ao retornar, encontrou um cenário desafiador. “Encontrei a fábrica sucateada, com alambiques quebrados, caldeira sem funcionamento e engenho necessitando de reforma. A empresa ainda tinha muitas dívidas com bancos e impostos atrasados”, descreve.
Determinado a resgatar a tradição da família, Flaviano precisou equilibrar coragem e gestão estratégica. Ele negociou com credores e em seguida, iniciou a recuperação da fábrica. “Reformei o alambique, a caldeira e o engenho. Ainda é preciso melhorar muita coisa, mas o negócio está livre das dívidas”, comemora.
Essa reestruturação contou com apoio fundamental do Sebrae Minas, que ofereceu consultorias, capacitações e suporte na formulação de rótulos e embalagens, além de oportunidades de participação em missões técnicas e feiras. Esse trabalho coletivo reforçou o valor da marca Sabinosa e de outros produtores locais, consolidando, em 2012, a Indicação Geográfica (IG) de Salinas na modalidade de Indicação de Procedência (IP). O selo garantiu reconhecimento nacional, diferencial competitivo e valorização da origem.
Com o olhar voltado para o futuro, Flaviano investiu em melhorias estruturais e no plantio de cana. Atualmente, a propriedade conta com cinco hectares: metade cultivada com variedades novas, dentro das normas técnicas, e a outra metade preservando a mesma cana utilizada pelo pai. A produção gira em torno de 20 mil litros anuais, distribuídos para várias regiões do Brasil, com destaque para São Paulo, Belo Horizonte e Bahia.
Mais do que reconhecimento, o produtor enxerga na cachaça um símbolo de identidade. “É tradição e cultura. É o símbolo da minha família e da nossa cidade, por isso, não podemos deixar essa tradição morrer. Por meio deste trabalho, conquistamos novos mercados e novas amizades Brasil afora. A cachaça é uma bebida original do nosso país e esta produção exige, além de muito trabalho, paixão pelo negócio que tem história. É um orgulho produzir a Sabinosa”, conclui.