
Bioma exclusivo do Brasil, a Caatinga abriga uma rica e diversa fauna e flora que estão constantemente ameaçadas pela ação do homem. Por ser única no mundo, em solo brasileiro e mineiro, esse ecossistema grita por socorro e por políticas públicas de proteção.
Nesta quinta-feira (28) é celebrado o Dia Nacional da Caatinga, data criada para alertar gestores e a população sobre a importância do bioma e os riscos a que está exposto.
Segundo dados do Conselho Nacional da Reserva da Biosfera da Caatinga, apresentados pelo gerente do Parque Estadual da Mata Seca, no Norte de Minas, José Luiz Vieira, mais de 60% da cobertura original do bioma já foram transformadas pela ação do homem.
Em 2007, cita José Luiz, mais de 181 mil quilômetros quadrados do território da Caatinga estavam reconhecidos como de alto risco de desertificação. Um grande problema, principalmente para o Nordeste brasileiro, pois somente a presença da vegetação adaptada da Caatinga impede a transformação do Nordeste brasileiro em um imenso deserto, na avaliação do Conselho Nacional da Reserva da Biosfera da Caatinga. A reserva soma uma área de 198.000 Km², sendo 33,15% do território norte-mineiro.
TERRITÓRIO
A Caatinga, que em tupi significa mata branca ou aberta, corresponde a 11% do território brasileiro, ocupando áreas em dez estados, inclusive Minas Gerais, abrigando enorme diversidade de flora e fauna.
De acordo com o Ministério do Meio Ambiente, esse complexo ecossistema abrange área de 844.453 quilômetros quadrados.
No Norte de Minas, há quatro unidades de conservação criadas pela necessidade de se proteger esse tipo de vegetação exclusiva do Brasil: parques estaduais Caminhos dos Gerais (Espinosa, Gameleiras, Mamonas e Monte Azul), Mata Seca (Manga), Lagoa do Cajueiro e Verde Grande (Matias Cardoso).
O bioma é formado por plantas que se adaptam à deficiência hídrica, ou seja, a períodos prolongados de seca. Apesar de ocupar extensões de terra com baixa precipitação pluviométrica, a Caatinga tem composição vegetal estimada em mais de 20 mil plantas, das quais pelo menos 180 endêmicas.
Com a chegada das chuvas, as sementes germinam com velocidade impressionante.
Também conhecida como savana estépica do semiárido, a vegetação da Caatinga, segundo dados do Ministério do Meio Ambiente, propicia rica fauna, como 196 espécies registradas de répteis e anfíbios, das quais 15% endêmicas.
Das 241 espécies de peixes registradas, 57,3% são restritas ao bioma. Já das 178 espécies de mamíferos, dez são endêmicas e outras dez ameaçadas de extinção, como o Rato-de-fava (Wiedomys pirrhorhinus) e o Mocó (kerodon rupestris). Chama atenção, igualmente, o número de espécie de abelhas – 221.
Riqueza ameaçada
O alto número de aves endêmicas é também um indicador da relevância da Caatinga para a avifauna brasileira, na avaliação do ornitólogo e consultor do Ibama no Norte de Minas Daniel Dias.
Das 591 espécies registradas no bioma, 15 são endêmicas e 20 estão ameaçadas de extinção. Destaque para a Ararinha-azul-de-lear (Anodorhynchus leari). “Isso, sem contar que a Caatinga abrigava a Ararinha-azul (Cynopsitta spixii), que não tem mais nenhum indivíduo de vida livre, ou seja, foi extinta na natureza, e ocorria naturalmente só na Caatinga”, lamenta Daniel.
Segundo ele, hoje, graças a um esforço dos órgãos ambientais em conjunto com outros parceiros, a espécie está sendo reintroduzida no bioma.
Presidente do Instituto Grande Sertão (IGS), Eduardo Gomes, que participou ativamente da criação do Parque Estadual Caminhos dos Gerais, afirma que a chamada Caatinga norte-mineira encontra-se em uma faixa de transição com a Mata Seca (caracterizada por secas extremas e períodos de estiagem, próprios do clima semiárido), principalmente no Extremo Norte, nas unidades de conservação criadas e mantidas pelo Instituto Estadual de Florestas (IEF).
PROTEÇÃO
Eduardo destaca que, apesar de o bioma ocupar uma parcela pequena do território norte-mineiro se comparada à área de Cerrado, por ser um bioma único no mundo, Minas Gerais tem uma responsabilidade muito grande na manutenção dessas áreas.
“Daí a necessidade de políticas públicas voltadas para resguardar esse patrimônio, ou seja, identificar, mapear com maior nível de detalhe do que o atual, o que é possível com o avanço das pesquisas, cabendo aos órgãos de licenciamentos ambientais considerar os estudos florísticos para identificar essas áreas. Perder parte desse bioma que está em Minas seria mais um desastre comparado ao que já acontece com o Cerrado, Mata Atlântica e Mata Seca”, alerta Eduardo.
CARACTERÍSTICAS
Gerente do Parque Estadual da Mata Seca, sediado em Manga, mas que faz divisa com São João das Missões, Matias Cardoso e Itacarambi, José Luiz Vieira observa que a Caatinga apresenta três estratos: arbóreo (oito a 12 metros), arbustivo (dois a cinco metros) e herbáceo (abaixo de dois metros).
A vegetação, explica ele, é dotada de espinhos e espécies caducifólias (que perdem suas folhas no início da estação seca), árvores baixas e troncos tortuosos. Das 596 espécies de árvores que compõem a Caatinga, mais de 180 são endêmicas.