A Polícia Civil apresentou, na manhã desta segunda-feira (22), em coletiva de imprensa, detalhes sobre a prisão de uma mulher de 59 anos, suspeita de envenenar as próprias netas de nove e 11 anos em São Francisco, no Norte de Minas. O crime ocorreu em junho, durante as férias escolares, quando as meninas ingeriram um bolo preparado pela avó. A mais nova não resistiu e faleceu; a outra teve sintomas mais leves e sobreviveu.
Segundo o delegado Flávio Cavalcante, responsável pela delegacia de São Francisco, as investigações começaram logo após a morte da criança no hospital. A vítima chegou com forte salivação, secreção e espuma na boca, sintomas compatíveis com intoxicação. A perícia inicial buscou confirmar se o caso teria sido provocado por envenenamento ou se poderia se tratar de uma morte natural.
O inquérito apontou que a avó era a principal suspeita, já que foi a única presente no momento em que as meninas comeram o bolo, no qual foi detectada a presença de um veneno popularmente conhecido como “chumbinho”. “Ela passou o dia inteiro com as crianças, preparou o bolo e ofereceu a elas. É a principal linha de investigação, mas não descartamos a possibilidade de envolvimento de terceiros”, explicou Cavalcante.
De acordo com a polícia, o veneno usado foi totalmente consumido no bolo. Outro frasco encontrado na casa não tinha ligação com o crime. Há ainda contradições entre os depoimentos. A avó disse que também ingeriu o alimento e passou mal, mas a neta sobrevivente declarou que somente ela e a irmã comeram o bolo.
A prisão preventiva foi cumprida na última sexta-feira (19). O delegado William Fernandes Araújo, da Delegacia de Homicídios de Januária, relatou que a investigada não resistiu à prisão. “Ela parecia ciente de que isso poderia acontecer. Foi conduzida sem necessidade de algemas”, informou.
As contradições se estenderam aos relatos da sobrevivente, que afirmou ter sido instruída pelo pai a dizer que todos comeram o bolo, o que não ocorreu. “O comportamento da avó diante da gravidade da situação também chamou atenção. Em vez de socorrer a neta, limitou-se a massagear a barriga da menina, o que não condiz com uma atitude esperada em um momento tão trágico”, destacou Araújo.
Outro ponto que levantou suspeitas foi a proximidade entre a avó e a madrasta das crianças, que teria prestado serviços domésticos na residência no dia anterior ao crime. Embora não haja provas diretas contra ela, a polícia não descarta ampliar a investigação. “Havia conflitos entre a madrasta e a mãe das vítimas, mas até o momento nada que confirme a participação direta”, explicou o delegado.
As análises confirmaram que apenas o bolo de frigideira feito pela avó estava contaminado. A mãe, antes descrente, passou a ver o caso como crime após o depoimento da filha sobrevivente, que relatou falta de preocupação da avó e pedido do pai para mentir. A avó pode responder por homicídio qualificado (pena de 12 a 30 anos) e tentativa de homicídio. O inquérito deve ser concluído em até dez dias, prorrogáveis.