A Secretaria de Estado de Fazenda de Minas Gerais amanheceu paralisada nesta quarta-feira (26), após auditores fiscais denunciarem uma crise de liderança, queda na arrecadação, evasão inédita de servidores e ausência de comando no momento mais delicado das finanças mineiras. Dados oficiais mostram que, até novembro de 2025, a arrecadação somou R$ 87,55 bilhões — R$ 901 milhões abaixo do previsto. Para a categoria, o déficit é reflexo direto da falta de direção na pasta e da ausência de estratégias claras do secretário de Fazenda, Luiz Cláudio Gomes.
A paralisação, realizada em todas as regionais, é vista pelos auditores como reação ao “desmonte institucional” e à perda de capacidade operacional da Receita Estadual. Para a representante sindical Cássia Simony Antunes Vieira, o movimento reflete um cenário “grave e prolongado”. Ela afirma que os auditores interromperam as atividades de rotina para discutir problemas com a gestão e cobrar respostas, realizando reuniões, questionamentos e atos em várias delegacias. As mobilizações devem continuar, com nova reunião sindical marcada para a próxima semana, em Belo Horizonte. “Mas não é greve”, ressalta.
A categoria denuncia um grave déficit de pessoal: são 1.250 auditores em atividade, quando o ideal seria 1.400, número muito inferior aos mais de 2.100 já existentes. O enxugamento iniciado em 2016 e as péssimas condições de trabalho levaram muitos a deixar o cargo: dos 430 novos servidores, 100 já saíram. Segundo Cássia, a falta de renovação compromete a atuação fiscal, já que cerca de 500 auditores podem se aposentar. Ela afirma que a baixa remuneração, considerada a pior inicial do país, e a ascensão funcional lenta também impulsionam a evasão para prefeituras e outros estados.
A precariedade da infraestrutura também é um ponto sensível. “A estrutura é tão antiga que muitos colegas precisam levar a própria cadeira de casa. Enquanto outros órgãos atuam com equipamentos modernos, ainda usamos prancheta e papel”, relatou.
Cássia atribui parte do enfraquecimento da secretaria à postura da atual gestão. “A percepção é de que o secretário não assumiu a fazenda. Ele está empenhado em atender as agendas do governador, e pouco atento às necessidades da Receita Estadual”, disse. A categoria também critica a política de benefícios fiscais, estimando perda de até R$ 25 bilhões com renúncias tributárias.
Para a auditora, o impacto dessa desestruturação já é visível. “A arrecadação de Minas tem caído justamente porque a fazenda está desestruturada.” Ela alerta que a fragilidade da fiscalização tem ampliado crimes tributários e sanitários. “Há adulteração de combustível, bebidas, medicamentos, falsificação de produtos e sonegação de todos os tipos. Sem fiscais e sem estrutura, como combater isso?”, questionou.
Com a proximidade da reforma tributária, o cenário preocupa ainda mais. “A participação de Minas na receita nacional será calculada com base no que arrecadarmos até 2026 ou 2027. Enquanto os outros estados se preparam, Minas desestrutura a sua fazenda”, alertou. “É importante ressaltar Que MG é o segundo estado em arrecadação, só perde para SP”, declarou Vieira.
Após um ano e meio sem avanços, os auditores decidiram intensificar a mobilização. Segundo a categoria, todas as tentativas de diálogo fracassaram e a situação só piorou, levando os servidores às ruas diante da percepção de que o secretário não assumirá o comando da pasta. “Nem o secretário nem o governador já nos recebeu para dialogar”. Vieira também destaca a necessidade de que a população entenda o impacto dessa desestruturação. “Sem a receita, é pior. O Estado perde arrecadação e capacidade de combater fraudes e sonegadores.”
Procurados pelo O NORTE, o secretário de Estado de Fazenda, Luiz Cláudio Gomes, e o superintendente regional da Receita Estadual em Montes Claros, Saulo Geraldo Silqueira, não se manifestaram até o fechamento desta edição.