Crise na Fazenda

Auditores paralisam atividades e denunciam desmonte da Receita Estadual

Larissa Durães
larissa.duraes@funorte.edu.br
Publicado em 27/11/2025 às 19:00.
Crise de liderança, queda na arrecadação, evasão inédita de servidores e falta de comando em meio ao momento mais crítico das finanças mineiras provocam paralisação na Secretaria de Estado de Fazenda de Minas Gerais (Larissa Durães)
Crise de liderança, queda na arrecadação, evasão inédita de servidores e falta de comando em meio ao momento mais crítico das finanças mineiras provocam paralisação na Secretaria de Estado de Fazenda de Minas Gerais (Larissa Durães)

A Secretaria de Estado de Fazenda de Minas Gerais amanheceu paralisada nesta quarta-feira (26), após auditores fiscais denunciarem uma crise de liderança, queda na arrecadação, evasão inédita de servidores e ausência de comando no momento mais delicado das finanças mineiras. Dados oficiais mostram que, até novembro de 2025, a arrecadação somou R$ 87,55 bilhões — R$ 901 milhões abaixo do previsto. Para a categoria, o déficit é reflexo direto da falta de direção na pasta e da ausência de estratégias claras do secretário de Fazenda, Luiz Cláudio Gomes.

A paralisação, realizada em todas as regionais, é vista pelos auditores como reação ao “desmonte institucional” e à perda de capacidade operacional da Receita Estadual. Para a representante sindical Cássia Simony Antunes Vieira, o movimento reflete um cenário “grave e prolongado”. Ela afirma que os auditores interromperam as atividades de rotina para discutir problemas com a gestão e cobrar respostas, realizando reuniões, questionamentos e atos em várias delegacias. As mobilizações devem continuar, com nova reunião sindical marcada para a próxima semana, em Belo Horizonte. “Mas não é greve”, ressalta.

A categoria denuncia um grave déficit de pessoal: são 1.250 auditores em atividade, quando o ideal seria 1.400, número muito inferior aos mais de 2.100 já existentes. O enxugamento iniciado em 2016 e as péssimas condições de trabalho levaram muitos a deixar o cargo: dos 430 novos servidores, 100 já saíram. Segundo Cássia, a falta de renovação compromete a atuação fiscal, já que cerca de 500 auditores podem se aposentar. Ela afirma que a baixa remuneração, considerada a pior inicial do país, e a ascensão funcional lenta também impulsionam a evasão para prefeituras e outros estados.

A precariedade da infraestrutura também é um ponto sensível. “A estrutura é tão antiga que muitos colegas precisam levar a própria cadeira de casa. Enquanto outros órgãos atuam com equipamentos modernos, ainda usamos prancheta e papel”, relatou. 

Cássia atribui parte do enfraquecimento da secretaria à postura da atual gestão. “A percepção é de que o secretário não assumiu a fazenda. Ele está empenhado em atender as agendas do governador, e pouco atento às necessidades da Receita Estadual”, disse. A categoria também critica a política de benefícios fiscais, estimando perda de até R$ 25 bilhões com renúncias tributárias.

Para a auditora, o impacto dessa desestruturação já é visível. “A arrecadação de Minas tem caído justamente porque a fazenda está desestruturada.” Ela alerta que a fragilidade da fiscalização tem ampliado crimes tributários e sanitários. “Há adulteração de combustível, bebidas, medicamentos, falsificação de produtos e sonegação de todos os tipos. Sem fiscais e sem estrutura, como combater isso?”, questionou. 

Com a proximidade da reforma tributária, o cenário preocupa ainda mais. “A participação de Minas na receita nacional será calculada com base no que arrecadarmos até 2026 ou 2027. Enquanto os outros estados se preparam, Minas desestrutura a sua fazenda”, alertou. “É importante ressaltar Que MG é o segundo estado em arrecadação, só perde para SP”, declarou Vieira.

Após um ano e meio sem avanços, os auditores decidiram intensificar a mobilização. Segundo a categoria, todas as tentativas de diálogo fracassaram e a situação só piorou, levando os servidores às ruas diante da percepção de que o secretário não assumirá o comando da pasta. “Nem o secretário nem o governador já nos recebeu para dialogar”. Vieira também destaca a necessidade de que a população entenda o impacto dessa desestruturação. “Sem a receita, é pior. O Estado perde arrecadação e capacidade de combater fraudes e sonegadores.”

Procurados pelo O NORTE, o secretário de Estado de Fazenda, Luiz Cláudio Gomes, e o superintendente regional da Receita Estadual em Montes Claros, Saulo Geraldo Silqueira, não se manifestaram até o fechamento desta edição.

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