A combinação de altas temperaturas, baixa umidade do ar, ventos fortes e um longo período sem chuvas deixa a vegetação em Minas Gerais extremamente seca e vulnerável a incêndios. Esses fatores, com ações negligentes ou criminosas, têm contribuído para um aumento nas queimadas no estado. Dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) mostram que Minas Gerais já é o sétimo estado com mais focos de incêndio em agosto. Em 2024, o número de atendimentos a incêndios já supera o total do ano passado, com 17.595 ocorrências registradas até 22 de agosto, em comparação com 17.135 em todo o ano de 2023. Em Montes Claros, o 7º Batalhão de Bombeiros Militar (BBM) reportou 99 incêndios de janeiro a julho deste ano.
“Em relação aos recentes incêndios florestais que têm devastado várias regiões do Brasil, felizmente, essa situação não se repete no Norte de Minas. No entanto, é alarmante o que está ocorrendo em São Paulo, no Centro-Oeste, em Brasília e Unaí. Para evitar que algo semelhante aconteça no Norte de Minas, é crucial focar na prevenção”, diz o tenente Kollek Pereira do 7º BBM.
Embora a região não tenha enfrentado incêndios florestais, o 7º BBM continua a lidar com diversas ocorrências. Um incêndio em área rural não protegida na Fazenda Santa Luzia, no povoado Mucambo, está sendo atendido pelo Pelotão de Bocaiuva. Em Varzelândia, um incêndio em propriedade rural está sob a responsabilidade do Pelotão de Januária. Além de incêndios em lotes vagos e as margens de rodovias do município.
IMPACTOS RURAIS
O tenente Kollek orienta os produtores rurais a criar aceiros em suas propriedades, especialmente ao longo das rodovias, para limitar a propagação de incêndios. “Os aceiros devem ter uma largura mínima de uma vez e meia a altura da vegetação.” Ele também alerta que o uso de fogo para limpeza de pastagens deve ser evitado, pois, as fagulhas podem se espalhar e provocar grandes incêndios, ameaçando propriedades, rebanhos e a fauna silvestre.
O presidente da Sociedade Rural de Montes Claros, José Henrique Veloso, informa que a entidade tem orientado seus associados à não efetuarem nenhuma ação com uso de fogo devido ao clima predominante na região com altas temperaturas e baixa umidade do ar. “Nós informamos aos associados que a principal ação preventiva são os aceiros que devem ser implantadas principalmente para proteção das áreas de pastagem que estão muito secas e de fácil propagação de fogo”.
Veloso informa também que a Sociedade Rural tem um grupo em conjunto com o Corpo de Bombeiros e produtores rurais para promover ações que possam ajudar, minimizar ou prevenir incêndios. “Com deslocamento de equipamentos, avisos, sinalização de que está havendo algum foco de incêndio, acionar o Corpo Bombeiro e também prestar um serviço de apoio. É um produtor que possa levar um trator, é outro produtor que possa encaminhar algum outro equipamento. Então, existem esses grupos localizados em diversas regiões que ajudam muito. E isso aí tem funcionado muito bem também”, explica.
TURISMO PREJUDICADO
Kollek afirma também que os incêndios prejudicam o turismo ao tornar áreas atrativas inacessíveis, causando a morte de animais, como cobras e filhotes de pássaros, que não conseguem escapar das chamas. Ele destaca a importância de proteger a fauna e evitar incêndios, que são crimes ambientais, especialmente em condições de seca e baixa umidade.
Para o setor de turismo no Norte de Minas, a turismóloga Gal Bernardo alerta que o aumento dos incêndios no Norte de Minas pode agravar os desafios enfrentados pelo turismo, já prejudicado pela seca que desgasta a paisagem e afasta visitantes. “Áreas turísticas como Lapa Grande, Peruaçu, Botumirim e Grão Mogol estão em risco”, avisa. Bernardo destaca que a seca já torna a região menos atraente e os incêndios intensificam o problema, tornando áreas em chamas ou com vestígios de queimadas ainda mais indesejáveis para os turistas.
“O Parque Estadual Caminho dos Gerais, com suas plantas raras, está entre as áreas ameaçadas”, informa. Gal Bernardo ressalta que os incêndios destroem a vegetação, matam animais e interrompem ciclos naturais, prejudicando a biodiversidade. “Apesar dos esforços para desenvolver o turismo local, os incêndios representam um grande retrocesso, fazendo parecer que todo o progresso alcançado é perdido”, lamenta.