Assoreamento interrompe navegação no São Francisco mineiro

Jornal O Norte
Publicado em 11/10/2006 às 00:47.Atualizado em 15/11/2021 às 08:42.

Tiago Severino


Correspondente



PIRAPORA - A ronda do guarda municipal que vigia o porto da Franave em Pirapora dura cerca de 20 minutos.  Durante esse tempo, ele vai e volta, olhando os barcos, a procura de algum intruso e buscando em todos os cantos algo suspeito. Hoje, cinco homens se revezam na vigilância das embarcações atracadas. Há 50 anos essa quantidade não seria suficiente nem mesmo para garantir a segurança dos vapores da própria cidade. O investimento do governo federal de 1960 em estradas e na fabricação de carros foi o que propiciou a crise no transporte hidroviário.



O Velho Chico começa a ser navegável em Pirapora, onde inicia a região do médio São Francisco. No trecho mineiro, o assoreamento impede o fluxo das embarcações.  Segundo a Franave – empresa responsável por gerir o transporte de cargas no rio – para revitalizar a hidrovia em Minas Gerais é preciso realizar a dragagem de um milhão de metros cúbicos de areia e sedimentos. O material acumulado é resultado do processo de assoreamento, que foi agravado com a destruição da mata ciliar. São necessários  R$ 4 milhões para a recuperação.



A falta de condições em Minas Gerais levou a Franave, sediada em Pirapora, a atuar exclusivamente na Bahia, entre Ibotirama e Petrolina. De acordo com o presidente da instituição, Lúcio Barreto, existe ao longo do São Francisco um potencial de 3,2 milhões de toneladas de cargas. No entanto, é necessário a recuperação da hidrovia e a remodelagem da frota da companhia. Atualmente, a empresa leva em cinco embarcações soja e caroço de algodão. Com a possibilidade de expandir a navegação, além destes produtos será possível transportar milho, farelo de soja e placas de gesso.



SEM CHANCE



Devido à existência desses produtos em potencial, o presidente afirma que não há possibilidade de transferir a Franave para Juazeiro. Ele informa que não existe solicitação do governo baiano ou outro órgão governamental para executar a mudança. Há algum tempo a informação circula em Pirapora e provoca temor na população. O motivo para o receio é a importância da empresa para a economia local. Ela conta com 117 funcionários e injeta R$ 200 mil na cidade, por meio de salários e impostos.



Barreto diz que a falta de investimentos na hidrovia foi o que causou a fragilização deste tipo de transporte. O setor entrou em dificuldades a partir do governo Juscelino Kubstcheck (19__) e no período ditatorial dos militares (1960) ocorreu o declínio. Segundo dados da Franave, uma das vantagens do envio de produtos via São Francisco é a despesa menor de 20 a 25% do que o modo rodoviário. Hoje, a companhia conta com oito empurradores e 62 barcaças. O que possibilita levar 150 toneladas por ano de produtos a granel e em convés.



SUCATEAMENTO DE EMBARCAÇÕES



No período áureo da navegação, Pirapora chegou a ter 125 vapores em circulação em um único dia no velho Chico. Eles foram importantes para o desenvolvimento sócio-econômico de diversas cidades ao longo do trajeto. No entanto, a fragilização da hidrovia provocou o sucateamento das embarcações. Mesmo aquelas consideradas símbolos encontram-se em estado de abandono.



Um exemplo é o Saldanha Marinho. Construído em Sabará, foi inaugurado em 8 de março de 1869 pelo imperador Dom Pedro 2º. Ele fez parte da frota da Companhia de Viação Central do Brasil, primeira empresa privada a ativar a navegação no Rio das Velhas e São Francisco. Hoje, o Saldanha Marinho foi remodelado, mas, ao invés de levar pessoas e cargas, ele é uma pizzaria que funciona em Juazeiro.



SONHO DO COMANDANTE



Cassiano José de Castro desde 1947 está na direção do vapor Benjamin Guimarães. O comandante lembra da época que os vapores transportavam cargas e passageiros. Dessas viagens Cassiano tem na lembrança fatos inusitados, engraçados, tristes e curiosos. Ele sonha com a possibilidade das embarcações voltarem a fazer o roteiro entre Pirapora e Juazeiro, com paradas em localidades ao longo do percurso. O desejo fica distante ao considerar que os barcos estão maiores e mais modernos, e nenhuma ação realizada para revitalizar o trajeto.



Comandante Cassiano é o responsável por navegar com o Benjamin Guimarães, o único vapor da categoria existente no mundo em funcionamento. O passeio dura cerca de quatro horas. Os viajantes vão de Pirapora até a região de Barra do Guiacuí.

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