NORTE DE MINAS

Amelina faz a passagem

Ilustre escritora norte-mineira faleceu nesta segunda-feira (22)

Adriana Queiroz & Márcia Vieira
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Publicado em 23/01/2024 às 21:48.
 (Arquivo Silvana Mameluque)

(Arquivo Silvana Mameluque)

Nascida em Francisco Sá, residente em Montes Claros e cidadã do Norte de Minas, Amelina Fernandes Chaves fez passagem para o infinito nesta segunda-feira (22), aos 93 anos. Membro da Cadeira nº 27 da Academia Montes-clarense de Letras, tendo como patrono Cícero Pereira e fundador Corbiniano Aquino, sua apresentação à Academia ocorreu na noite de 16 de dezembro de 1984, pelas mãos do amigo e escritor Wanderlino Arruda, que destacou Amelina como “uma escritora de muitos méritos em textos de crônica, poesia, história, biografias e romances, memória mais do que segura para fatos e personagens”.

Desbravadora, Amelina Chaves, autora de mais de 30 livros, mãe de 15 filhos, avó de 38 netos e bisavó de 34 bisnetos, quebrou as correntes tradicionalmente impostas às mulheres e mostrou que a mãe, avó, dona de casa e esposa amorosa conviviam em perfeita harmonia com a escritora que abordava temas como sexo, feminismo, homossexualidade e tantos outros agora recorrentes, mas “proibidos” à época. Mel, como era carinhosamente tratada, quis provar e provou que o único conservadorismo que admitia era o amor pelas pessoas e a liberdade de ser e existir. Um de seus livros recebeu o nome “Priapo de Ébano”, um termo erudito que fez muitas pessoas recorrerem ao “Aurélio” para entender sua escrita. O campeão de vendas continua sendo “O Andarilho do São Francisco”, levado ao teatro, um segmento que, segundo afirmou em entrevista, merece mais apoio do poder público.

“Escritora oriunda de família simples e dona de uma rara sensibilidade, os faz sem falso pudor. Escrita picante e adversa a da autora, contrastando com o temperamento estranhamente introspectivo. Ela tinha a liberdade de falar o que lhe vinha à cabeça sem se preocupar com os preconceitos, sem se preocupar com o que os outros iriam pensar dela. Portanto, Amelina Chaves foi uma pessoa livre, tranquila, sempre escreveu o que pensou e sempre fez dos seus livros, os mais famosos romances da literatura montes-clarense”, diz Dario Cotrim, historiador, membro e colega de Amelina na Academia de Letras e Instituto Histórico.
 
ABRAM ALAS
As homenagens não se restringiram à escrita. Em 2010, Amelina Chaves foi enredo do “Bloco Formigão”, fundado pelo casal Ruy e Raquel Muniz e formado por amigos e colaboradores da Rede Soebras/Funorte. Percorreu a Avenida Dr. João Luiz de Almeida, altiva, majestosa e cheia de graça, cantando o samba-enredo em sua homenagem, composto pelo carnavalesco João Jorge. “Neste palco surge ela /Com emoção/ Amelina é o grande enredo do Formigão/ Abram alas!/ Abram alas pra passar/ Formigão vai encantar/ Neste enredo encantado/ Já estou maravilhado/ Com tanta emoção/ É Amelina nesta ópera do povão...”

Ruy e Raquel Muniz falam sobre a escolha de Amelina Chaves para o enredo do Formigão —”Amelina era uma pessoa sensível, uma mulher do povo, com uma bagagem erudita e ao mesmo tempo uma linguagem popular que tocava os corações, representando muito bem as nossas tradições. Amelina está para a literatura, como Beto Guedes está para a música e os ‘Albertos’- Graça e Prates- para o cinema”, diz o casal Muniz. Lamentando a passagem da escritora, o casal assegura: “O céu está ficando mais alegre. Amelina se junta à grandes figuras que representam a arte e a cultura da cidade e que já se foram, como o antropólogo Darcy Ribeiro, o escritor Cyro dos Anjos, o artista plástico Konstantin Christoff, entre outros”. 
 
AMIGA GENIAL 
Silvana Mameluque, amiga há mais de 30 anos e colega de trabalho na Secretaria de Cultura, afirma que se despedir da escritora é se despedir de um ícone cultural, de uma amiga generosa, constante e admirada por toda a classe cultural da cidade.

“Amelina é alegria, Amelina é cultura, Amelina é vida, Amelina é cor e eu me sinto privilegiada por ter desfrutado dessa amizade. Ela foi minha mãe postiça, musa inspiradora e amiga carinhosa que levo comigo para sempre”. 

Sob a gestão do artista plástico Carlos Muniz na Secretaria Municipal de Cultura, Amelina dedicou seu tempo e colaborou no fomento do setor. “Lembro dela com muito carinho, uma pessoa dinâmica, muito determinada e gostava do que fazia. Nosso contato foi muito intenso e gratificante. Fazíamos reuniões dos projetos, era muito prazeroso e ela prestigiava os eventos todos que fazíamos. Vá com Deus, Amelina! Um beijo para você “, despede- se o artista. 

Em 2019, Amelina Chaves recebeu o título de Doutora Honoris Causa da Unimontes, em reconhecimento ao seu legado para a cultura regional. O velório da escritora ocorreu no Centro Cultural Hermes de Paula. 

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