Vice-presidente da ACMinas defende pacote urgente de medidas para salvar o comércio

Maria Amélia Ávila
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17/04/2021 às 00:54.
Atualizado em 05/12/2021 às 04:42
 (FABIO ORTOLAN/AC MINAS/DIVULGAÇÃO)

(FABIO ORTOLAN/AC MINAS/DIVULGAÇÃO)

A perspectiva para os setores do comércio e de serviços em Minas Gerais continua bastante nebulosa em 2021. Sem apoio dos governos para reduzir tributos e com medidas mais restritivas impostas no Estado, para conter o avanço da Covid-19, os prejuízos que tais setores acumulam desde o início da pandemia aumentam a cada dia. O cenário é caótico: lojas fechadas, empresas endividadas e muitos funcionários demitidos. 

Para tentar reaquecer a economia mais rapidamente, a Associação Comercial e Empresarial de Minas Gerais (ACMinas) está elaborando um projeto para ampliar o funcionamento do comércio, no pós-pandemia. A proposta é manter todas as lojas abertas tanto de dia como à noite, como explica o vice-presidente da ACMinas, Marcos Brafman. 
 
A aplicação de medidas mais restritivas do Minas Consciente está causando prejuízos enormes aos setores de comércio e serviços no Estado. A estimativa é a de que as perdas no período de vigência da Onda Roxa ultrapassem R$ 12 bilhões, conforme levantamento da Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas de Minas Gerais (FCDL-MG). Como reduzir o prejuízo? 

O prejuízo está mesmo enorme. Só para se ter uma ideia do que está acontecendo, em Minas Gerais, quase 20% das 120 mil pessoas que trabalham no comércio já estão desempregadas. Além disso, cerca de 5 mil lojas fecharam. No Brasil, e Minas não foge dessas estatísticas, 70% das empresas estão com sério endividamento e 60% com dificuldade em manter o negócio. A situação é muito difícil para as empresas. Aliás, quem tem dado todo o sacrifício na pandemia tem sido as empresas, os empresários. Quando as empresas não podem funcionar, não têm como se manter, a não ser quem consegue produzir ou vender através de e-commerce, que não é a maioria. Nós temos que considerar também que a maior parte das empresas é de micro e pequenas, que não possuem capital de giro e fluxo de caixa que permitam tempo longo sem funcionamento. 

Os indicadores de confiança, tanto de empresários quanto de consumidores, não param de cair. O Radar Febraban divulgou pesquisa mostrando que quase oito a cada dez brasileiros esperam alguma melhora na economia só em 2022. Como o senhor avalia esse cenário?

Há um atraso do governo em renovar algumas políticas que foram adotadas no ano passado, como a Lei do BEm, para que as empresas possam funcionar e manter seus funcionários com a participação do governo e a redução da jornada de trabalho; e o Pronampe, que foi uma iniciativa bem-sucedida de oferecer recursos a juros muito baixos. Isso precisa ser retomado urgentemente. Nós não achamos que seja justo que as empresas continuem pagando impostos, precisa haver uma revisão, não é simplesmente falar assim “vai pagar o IPTU parcelado, ou vai pagar o ISS parcelado”. É preciso um estudo muito forte em cima da questão da tributação que é algo que os governos podem fazer para reduzir o aperto. Se nós conseguirmos acelerar a vacinação, eu acredito que ainda tenhamos um 2021 melhor, mas é muito difícil porque não tem mais como as empresas darem cota de sacrifício. Pelo contrário, elas precisam de apoio e esse apoio tem que vir de todos os lados.

Como o senhor avalia a reedição do “coronavoucher”, mas em valor bem menor e beneficiando muito menos pessoas que em 2020? Vai ajudar o comércio e os serviços ou não? Servirá mais para aliviar a fome dos mais carentes?
Vem em um momento muito oportuno, mas atrasado. Deveria ter sido no início do ano. O grande giro que vai ter na economia vai ser realmente no setor de alimentação. É preciso lembrar que existem os informais no Brasil, que, se o comércio não tem movimento, essas pessoas não têm como trabalhar. Assim como o apoio às empresas está demorando muito. 
 
Agora, com agravamento da pandemia, fica mais complicado ainda para os micro e pequenos empresários, submetidos a medidas mais restritivas...
É importante reavaliar a questão do fechamento do comércio. Nós temos que ter cuidado com a saúde das pessoas, mas também temos que ter cuidado com a saúde das empresas. Se o comércio e as empresas voltarem a funcionar, mesmo com todas as restrições sanitárias, as pessoas vão estar trabalhando, produzindo, e a economia estará girando. A nossa preocupação também é com o pós-Covid, por isso estamos elaborando um projeto na ACMinas, chamado, a princípio, de ‘BH Sempre Viva’, que tem como objetivo verificar se a cidade de Belo Horizonte poderá funcionar 24 horas, com comércio diurno e noturno, como acontece em outras metrópoles do mundo. Isso permite que a economia gire, e que haja um resultado econômico melhor. Nós temos que trabalhar com a perspectiva de que BH aprenda com essa pandemia e se torne uma cidade mais moderna, mais evoluída, além de ser, também, uma forma de acelerar o desenvolvimento e o retorno da economia pós-Covid. Será mesmo que 2021 acabou ou podemos fazer algo para que a cidade possa ter um desenvolvimento mais rápido e gerar empregos? Nós, da ACMinas, achamos que ainda dá tempo para melhorar. 
 
A pesquisa Índice de Gerentes de Compras (PMI, na sigla em inglês), divulgada na semana passada, registrou para o setor de serviços uma queda de 47,1 pontos em fevereiro para 44,1, em março. Foi o terceiro mês seguido do indicador abaixo de 50 pontos, marco que separa crescimento de contração. Além disso, foi o ritmo mais forte de redução desde julho de 2020. Como esse segmento tem se virado nesse período de agravamento da pandemia?
Os números são muito preocupantes. É necessário ter políticas públicas, ações de apoio às empresas, como acesso a recursos, e é preciso que todo tipo de custo relacionado a tributos possa ser adiado. É urgente um pacote de ações para que as empresas de serviços e do comércio possam sobreviver neste momento e para que voltem a funcionar o mais rápido possível. Para tanto, deve haver uma campanha de conscientização em massa. 
 
Quais são as principais queixas na ACMinas neste momento?
As principais queixas são o endividamento, a dificuldade de pagar os salários, a falta de políticas públicas, como houve no ano passado de apoio as empresas, dificuldade em manter os negócios, como fazer as vendas com comércio fechado. Volto a falar que quem mais foi prejudicado com a pandemia foram as empresas, o comércio, os serviços, e chegamos no limite. 

Como a ACMinas tem ajudado os empresários? 
A ACMinas tem procurado ajudar as empresas da forma que é possível neste momento. Nós estamos realizando várias ações no sentido de colaborar com as empresas para que elas tenham condições de enfrentar essa pandemia, seja através de orientação, seja através de informação. Os Conselhos de Economia e de Saúde da associação vêm produzindo cartilhas para informar como as empresas devem se manter neste momento. O que eu posso trazer é uma mensagem de otimismo, tudo é passageiro, agora, depende de atitudes das pessoas para que o comércio volte a funcionar. Mais do que nunca é preciso ter uma gestão forte nas empresas para passar por este momento. Não é impossível que 2021 ainda seja um ano com recuperação econômica. É necessária uma união, não podemos ter uma guerra contra o vírus e uma guerra interna entre governos federal, estaduais e municipais. Eleições 2022 é só no ano que vem, agora o problema é acabar com o coronavírus. 

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