Tributo à vida silvestre

Anfíbios, répteis, aves e plantas de variadas espécies integram o ambiente diversificado e rico do Parque Nacional das Sempre-Vivas, surpreendendo pesquisadores do mundo

Manoel Freitas - Enviado Especial
07/06/2019 às 12:04.
Atualizado em 05/09/2021 às 19:00
 (FOTO MANOEL FREITAS)

(FOTO MANOEL FREITAS)

“O que faz o parque não é a sempre-viva, é a diversidade, inclusive a diversidade das sempre-vivas”. Assim o analista ambiental do Instituto Chico Mendes (ICMBio) Márcio Lucca, que até o mês passado era o chefe do Parque Nacional das Sempre-Vivas, define a unidade de conservação.

Criada em 2002, ela é a única federal de proteção integral no Planalto Diamantino e no Espinhaço Meridional, território comum aos municípios de Bocaiuva, Buenó-polis, Diamantina e Olhos D’Água.

Na quarta matéria da série “Natureza Plena”, O NORTE mostra espécies que compõem essa diversidade, algumas delas há muito sem registro pelos pesquisadores e que se mostraram para a equipe que ficou por sete dias explorando as belezas do parque.

O resultado não poderia ser outro: um mosaico de imagens no qual a vida selvagem é revelada, além dos campos de flores, com flagrantes de mamíferos, répteis, anfíbios e, especialmente, aves, pelo característico endemismo em toda a Cadeia do Espinhaço.

Tudo isso distribuído em cada fração de um conjunto de picos, montanhas, rios, campos rupestres, campos de altitudes do parque que integra o Caminho dos Diamantes e que se encontra próximo ao limite norte da Estrada Real.

Enfim, heterogeneidade de ambientes e sistemas hídricos que favorecem a ocorrência de uma alta diversidade de anfíbios e répteis, sem contar com as pinturas rupestres, patrimônio histórico-cultural que forma contexto de rara beleza e que retrata indícios e testemunhos de ancestrais.

Segundo Márcio Lucca, a rica biodiversidade do parque pode ser percebida claramente quando se percorre algumas serras ou afloramentos de rocha. “Numa área muito pequena é possível encontrar mais de 15 espécies de orquídeas, multiplicidade favorecida por outra coisa muito bacana no parque, a água, que abastece muitos rios, onde nasce o Jequitaí, que tem 35 quilômetros de extensão aqui dentro da unidade”, conta. 

A diversidade na área de preservação é consequência ainda do grande número de bioindicadores – liquens e musgos que sobrevivem apenas em locais que estejam em bom estado ambiental. Ou seja, eles são indicativos biológicos da qualidade de um ambiente.

Além disso, o contexto geológico e ecológico do parque configura um conjunto de fatores que garante essa diversidade de ambientes, nichos protegidos e com características únicas. Tornando a unidade um campo fértil para pesquisas, atraindo cientistas de todo o mundo.

Área propícia à diversidade

Heterogeneidade de áreas protegidas com diferentes formações vegetais, rochosas e sistemas hídricos integram o Parque Nacional das Sempre-Vivas e favorecem a ocorrência de uma alta diversidade de anfíbios e répteis no local. Área mais do que propícia para a atuação de pesquisadores, que se encantam com cada indivíduo registrado.

O inventário feito pela PUC Minas identificou, na elaboração do Plano de Manejo do Parque, que abriga 30% das espécies de anfíbios da Serra do Espinhaço, 24 espécies de anfíbios e répteis, sendo que 13 são endêmicas, cinco das quais características do Cerrado.

Em relação à avifauna, o Parque das Sempre-Vivas é muito rico, posto que toda a Cadeia do Espinhaço é considerada área de endemismo de aves. Riqueza aferida já nos estudos que originaram a criação da unidade de conservação, realizados pelo Instituto Biotrópi-cos. Em curto espaço de tempo, foram registradas 188 espécies, distribuídas em 21 ordens e 52 famílias, 4% endêmicas, como Maria-Preta-de-Garganta-Vermelha (Knipolegus nigerrimus) e Gralha-do-Campo (Cyanocorax cristatellus), ambas fotografadas no parque e catalogadas cientificamente por Manoel Freitas, fotógrafo de O NORTE, que igualmente registrou o Tico-Tico-de-Máscara-Negra (Coryphaspiza melanotis), bem como o Papa-Moscas-do-Campo (Culicivora caudacuta), espécies ameaçadas de extinção de acordo com a Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza. 
 
CONVIVÊNCIA
A criação do parque gerou um manto de proteção para mais de 70% das sempre-vivas do planeta na Reserva da Biosfera do Espinhaço. Para Marcos Lobato Martins, da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, é possível o extrativismo vegetal mesmo com a presença das unidades de conservação, como o Parque Nacional.

“Para que aconteça essa interação, a gente precisaria mudar alguns hábitos tradicionais dos coletores, questão de educação”, ensinou.

Marcos afirma que a sempre-viva se transformou numa espécie de símbolo da vida nesse sertão, de resistência. Segundo ele, o comércio das flores se transformou entre 1940 e 1980 em atividade econômica de importância para a região, mas nada comparado à renda e ocupação de mão de obra do garimpo.

Nessas quatro décadas, conta Marcos Lobato, Diamantina chegou a responder por 70% das exportações dessas plantas, sendo de longe o grande centro de comércio de flores. 

  

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