Terra da Caatinga

Mapa do IBGE amplia área desse bioma e dá nova cara ao sertão mineiro

Manoel Freitas
01/11/2019 às 07:02.
Atualizado em 05/09/2021 às 22:29
 (MANOEL FREITAS)

(MANOEL FREITAS)

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou, na última quarta-feira, o novo mapa dos biomas no país. A redefinição ampliou a área de Caatinga no Norte de Minas, em municípios onde predominavam as Florestas Estacionais Deciduais, conhecidas regionalmente como Mata Seca.

A decisão foi tomada com base em resultados de estudos realizados em 2016 por grupo de pesquisadores da Latin American Seasonally Dry Tropical Forest Floristic Network, que sugeriram a reclassificação de muitas florestas como áreas de Caatinga.

Em nota divulgada à imprensa, o IBGE informou que “o limite da Caatinga se estendeu para essa região devido aos solos predominantes apresentarem pouca intemperi-zação (processo natural de uma transformação de rocha em solo) e serem rasos”. 

De acordo com o instituto, “o mapa é resultado de um aprimoramento de processos de investigação, revisão bibliográfica e levantamentos de campo, que entre outras coisas, verificaram o ambiente físico local e os indícios da vegetação original”.

O estudo mostra que o bioma da Amazônia ocupa 49,5% do território nacional. Em seguida, aparecem o Cerrado (23,3%), Mata Atlântica (13%), Caatinga (10,1% – cerca de 70% da região Nordeste), Pampa (2,3%) e Pantanal (1,8%).

EXPANSÃO
O crescimento da área de Caatinga no sertão de Minas, na avaliação dos pesquisadores, é importante porque esse bioma vem sofrendo com a devastação nos últimos anos.

Considerado o único bioma genuinamente brasileiro, tem perdido espaço pelo manejo inadequado do solo e extração de madeira para lenha.

“Apesar de sua importância ecológica, calcula-se que 40 mil km2 da área (de Caatinga) no país já tenham sido transformados em quase deserto, o que é explicado pelo corte da vegetação para servir como lenha e pelo manejo inadequado do solo”, destaca o estudo do IBGE.

O aprimoramento do mapa, na avaliação dos pesquisadores, “contribui para a gestão sustentável dos recursos naturais” desses biomas.
 
NOVA ÁREA 
Seis municípios do Norte de Minas foram inseridos no bioma marcado por longos períodos de estiagem – com temperaturas geralmente elevadas, média de 27 ºC.

Porteirinha, Serranópolis de Minas, Francisco Sá, Pedras de Maria da Cruz, Patis e, principalmente, Manga, no Extremo Norte, entram no mapa da Caatinga.

Neste último, o Instituto Estadual de Florestas (IEF) mantém a única unidade de conservação de Mata Seca do Estado, com 15.360 hectares, área que agora integra com maior representatividade o bioma Caatinga.

Reclassificação exige ações de proteção
O novo mapa, com ampliação das áreas de Caatinga, considerado um bioma frágil, reforça a necessidade de criação de Áreas de Proteção Ambiental (APAs), parques estaduais e nacionais no Norte de Minas. 

A avaliação é de José Luiz Vieira, gestor de unidades de conservação do Instituto Estadual de Florestas (IEF) que foi gerente do Parque Estadual da Mata Seca por seis anos e hoje está à frente da APA Sabonetal.

Vieira ressalta que a Caatinga é “o mais fragilizado dos biomas brasileiros” e abriga um patrimônio biológico que não pode ser encontrado em outro lugar do planeta.

Apresenta clima semiárido, com espécies compostas de poucas folhas e adaptadas para os longos períodos de seca. Além de grande biodiversidade, tem solo rico em minérios, mas pobre em matéria orgânica.
 
VERIFICAÇÃO
Vieira deu suporte à equipe de biólogos, geólogos e engenheiros florestais do IBGE que foi a campo em outubro de 2017 nos locais exatos apontados pela pesquisa, principalmente no Parque da Mata Seca. “Eles foram tirar dúvidas, oportunidade em que reclassificaram os fragmentos ou dedos de Cerrado que vigoraram desde a criação do parque”.

O Parque Estadual da Mata Seca é, segundo Vieira, “um dos cenários mais espetaculares do sertão”. “Com cinco grandes lajedos ou furados é, na verdade, paisagem cárstica composta especialmente por lapiás esculpidos ao longo de quase um milhão de anos pela chuva e o vento, em 8.820 hectares, autênticos jardins de cactáceas”, conta o gestor.

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