Norte de Minas já sofre com a falta de leitos para Covid em MOC

Paciente de Coração de Jesus esperou por vaga em UTI por mais de 12 horas e não resistiu; cidade referência estuda transferência de doentes

Márcia Vieira
O NORTE
05/03/2021 às 00:49.
Atualizado em 05/12/2021 às 04:20
 (GIL LEONARDI/IMPRENSA MG)

(GIL LEONARDI/IMPRENSA MG)

A superlotação do sistema de saúde em Montes Claros, referência para o tratamento da Covid-19 no Norte de Minas, começa a ter reflexos nos municípios vizinhos. Na noite desta quarta-feira, uma paciente morreu em Coração de Jesus enquanto aguardava por uma vaga de UTI. A maior cidade da região, referência para 95 municípios, estava ontem com ocupação de 96% nos leitos clínicos e de 87% em terapia intensiva.

O secretário de Saúde de Coração de Jesus, Guilherme Leal Andrade, confirmou que a paciente, de 44 anos, estava com suspeita de Covid-19 e veio a óbito dentro da ambulância enquanto era transferida do hospital da cidade para Pirapora. 

“A paciente deu entrada no Hospital São Vicente de Paulo na madrugada da quarta-feira e a vaga saiu por volta das 17h do mesmo dia. Ela chegou com quadro de insuficiência respiratória grave e foi intubada. De imediato, foi lançada na central de regulação de leitos para que fosse levada para algum hospital de referência para Covid. A vaga saiu para Pirapora e o Samu preparou a paciente para o transporte, mas, dentro da ambulância, evoluiu e teve parada cardiorrespiratória. Os profissionais fizeram as manobras de reanimação, mas infelizmente ela não resistiu”, disse o secretário.

Guilherme ressaltou que nas 15 horas em que esteve na unidade a paciente foi plenamente assistida. “A equipe manteve a paciente com todos os cuidados até quando surgiu a vaga e vieram buscá-la. O nosso município possui hospital de pequeno e médio porte, mas, mesmo assim, o prefeito Robson Mota reservou dez leitos clínicos para pessoas acometidas ou suspeitas para Covid”, explicou.

Em Coração de Jesus, as barreiras sanitárias adotadas desde o ano passado permanecem ativas. Ao entrar na cidade, a temperatura das pessoas é medida. A cidade tem ainda outras estratégias, como serviço de informação em carro nas vias urbanas e rurais e fiscalização noturna para acompanhar o cumprimento do Decreto nº 21, que estabelece medidas de restrição, que são sistematicamente executadas, conforme informou o secretário.
 
PIRAPORA
A cidade de Pirapora, para onde seria levada a paciente de Coração de Jesus, abrange uma microrregião de saúde com mais seis municípios: Buritizeiro, Lassance, Várzea da Palma, Ibiaí, Ponto Chique e Santa Fé. Para atender esses municípios, a cidade possui 11 leitos exclusivos para Covid. Até ontem, a ocupação era de 91%, o que significava dez leitos ocupados.

“Felizmente, hoje tivemos alta de quatro pacientes e caímos para 54% de ocupação. Mas o preocupante é que no CTI clínico, entre casos suspeitos graves, temos nove pessoas. Essa é a situação da microrregião. Outro fator que preocupa é que estes 11 leitos são regulados pelo Estado. Já temos mais de 16 solicitações de internações, entre elas de Coromandel, Patos de Minas, Uberlândia, Monte Carmelo”, ressaltou o secretário de Saúde de Pirapora, Rafael Lana.

Ele destacou que a cidade de referência da região é Montes Claros, que ontem fez uma solicitação de internação a Pirapora. “Ou seja, a nossa referência não está mais recebendo”, alertou.
 
SEM REFERÊNCIA
Montes Claros não recebe pacientes de fora nesta semana e ainda estuda a transferência de pessoas em tratamento para outras unidades de saúde. A informação foi repassada pela secretária Municipal de Saúde, Dulce Pimenta, em entrevista na terça-feira.

Desde 27 de fevereiro, a maior cidade do Norte de Minas apresenta ocupação de UTIs acima de 83%. Já os leitos clínicos estão acima de 80% desde 17 de fevereiro, atingindo o pico de 97% em 2 e 3 de março, e de 96% ontem.
 
LOCKDOWN
Em reunião com gestores municipais na última segunda-feira, a Associação dos Municípios da Área Mineira da Sudene (Amams) sugeriu aos prefeitos que houvesse uma unificação nas medidas de combate à Covid, inclusive usando o decreto de toque de recolher de Montes Claros como modelo.

“Cerca de 50 prefeitos aderiram à sugestão da Amams de fazer seus decretos com restrições e toque de recolher. A situação agravou mais ainda e está todo mundo em alerta. Os prefeitos não descartam a possibilidade de um lockdown, diante dessa situação da falta de leitos”, disse Nílson Bispo, presidente da Amams.

Duas das cidades que estariam estudando a possibilidade de lockdown são Taiobeiras e Bocaiuva. Mas, até o fechamento da edição, não havia nada confirmado.

A Diretoria Regional de Saúde, questionada sobre a transferência de pacientes entre municípios e qual seria a primeira porta de entrada, disse apenas que o paciente vai “para onde tem vaga”, sem detalhar as informações.


 

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