Não vale o esforço trabalhar aqui, mas é o que nós temos, diz feirante

Jornal O Norte
03/10/2005 às 10:50.
Atualizado em 15/11/2021 às 08:52

Tiago Severino


Correspondente

BURITIZEIRO - Nelson Gabriel de Jesus mora no bairro Santa Terezinha (antiga Vila Branca) em Pirapora. Ele trabalha de feirante em Buritizeiro há 13 anos, desde quando montou a banca faltou apenas um dia, quanto estava doente. Com um jeito simples de falar, ele conta que vai para Buritizeiro no sábado para selecionar os produtos que venderá.

Seu Nelson é vendedor de raízes e responsável por montar e desmontar a maioria das bancas na feira. Ele levanta às três horas da madrugada, toma café e começa a armar as barracas. Quando a feira inicia, às seis horas, ele fica até uma hora da tarde em pé, oferecendo folhas e raízes que servem como remédio.

Com a aparência de cansaço, as mãos calejadas pelo trabalho de armar as bancas e arrancar as raízes, seu Nelson acredita que as vendas irão melhorar até o final do dia. Mas isso não acontece, apesar de todo o esforço.

Seu Nelson é o retrato do trabalho de todos aqueles barraqueiros que estão na feira do setor da mangueiras atuando de maneira honesta e digna, sem abusar do povo, sem iludir as pessoas com promessas ou de acreditarem que estão acima da lei, do bem e do mal, ou pregando a existência de demônios que estão a solta.

O prefeito Francisco Alves Moreira (Chico Gameleira) prega que demônios estão atrapalhando os trabalhos da administração. Talvez se espelhasse nesses barraqueiros que além de trabalharem de segunda a sábado em outros empregos, e no domingo acordarem de madrugada para vender os poucos produtos que possuem; pudesse ser contagiado por este espírito e afastar os maus fluídos próximos a ele.

- Não vale o esforço trabalhar aqui, mas é o que nós temos. Eu preciso desse dinheiro para ajudar na renda em casa - lamenta-se.

Terminada a feira, seu Nelson recolhe as bancas, enquanto alguns políticos, que têm a obrigação de oferecer melhores condições de trabalho para os diversos feirantes passam de carro próximo à feira e não vêem o esforço de um homem que após a decepção do trabalho, ainda tem forças para no mesmo dia ser voluntário na igreja que freqüenta.

- Não guardo ódio de ninguém, apenas queria que os políticos lembrassem da gente - diz o feirante, que volta para casa a pé com alguns trocados, que ajudarão a complementar a renda da família de mais de dez pessoas.

Com esperança de que vida irá melhorar e após agradecer a Deus pelo dia de trabalho, ele diz.

- Na semana que vem tem mais.

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