Magia do sertão - Área alterna mata seca e úmida

Parque em Manga atrai estudiosos e é o primeiro do Brasil a ter sensores climáticos

Manoel Freitas
28/12/2018 às 07:10.
Atualizado em 05/09/2021 às 15:46
 (MANOEL FREITAS)

(MANOEL FREITAS)

Ora seca, ora exuberante e viva. Assim pode ser descrita a vegetação do Parque Estadual da Mata Seca, em Manga, no extremo Norte de Minas. Devido à característica peculiar que lhe imprime beleza cíclica, a reserva ambiental é a primeira do Brasil dotada de sensores que medem a temperatura e umidade do ar e do solo, radiação solar e a quantidade de chuvas, além de dispor de câmeras que acompanham mudanças sazonais da quantidade de folhas na floresta. Trata-se de monitoramento remoto, sistema pioneiro no Brasil, que integra o maior estudo científico do mundo sobre o bioma – o Tropi-Dry.

A pesquisa é coordenada pela Unimontes e envolve uma rede colaborativa internacional que inclui Brasil, Estados Unidos, México, Costa Rica, Cuba, Venezuela e Canadá. Durante quatro anos, acompanhei como fotógrafo parte deste estudo, bem como o trabalho de campo na unidade de conservação ambiental realizado por pesquisadores de universidades de várias partes do Brasil – um autêntico laboratório, escolhido como fonte de dados sobre condições climáticas pelas agências internacionais que trabalham com o monitoramento por satélites, entre elas a Agência Especial Americana (Nasa)) e Agência Espacial Europeia (ESA).

Criado pelo Instituto Estadual de Florestas (IEF) em 2009, como condicionante ambiental do Projeto de Irrigação Jaíba, o Parque Estadual da Mata Seca tem área de 15.360 hectares. O parque foi implantado devido à necessidade de proteger a fauna e a flora regionais, nascentes de rios e córregos, além de criar condições ao desenvolvimento de pesquisas na margem esquerda do Rio São Francisco.

O nome do bioma deve-se ao fato de as árvores perderem em alguns casos 100% da cobertura vegetal, no período de estiagem, como forma de sobreviver ao clima seco. Pesquisas estimam que, depois de derrubada, a mata seca demore ao menos 100 anos para se recuperar. No entanto, com as chuvas, toda a vegetação do parque estadual se transforma em uma floresta tropical, que fica mais impressionante ainda pela beleza e importância para a biodiversidade das quatro lagoas marginais. Essa regeneração desperta interesse e preocupação da ciência.

É que o Rio Itacarambi, que percorre aproximadamente 35 mil metros desde a nascente nas Terras do Povo Xakriabá, no município vizinho de São João das Missões, até desaguar no Rio São Francisco, abastece antes quatro lagoas no parque: Angical, Comprida, Picada e, por último, a Lagoa da Prata ou Lavagem. Essas lagoas marginais têm papel importante porque, ao se inundarem no período de chuvas, recebem espécies de peixes que procuram essas áreas para se reproduzir.

Na última cidade de Minas banhada pelo São Francisco, a unidade de conservação ambiental tem cenário composto principalmente por aroeiras, pau-ferro, ipês, angicos, cedros, pau-branco, jatobá, jenipapo, umbuzeiro, tamboril, quixabeira, juazeiro, canafístula, paineiras e a embaré, conhecida por Barriguda, árvore símbolo da reserva, com grande estatura e diâmetro, próprios para armazenar água. Pelo monitoramento, é possível compreender como o micro clima muda à medida em que a floresta se regenera. As áreas da unidade de conservação classificadas como mata seca de grande porte abrigam florestas associadas a solos férteis, de maior umidade e diversidade, ocupando 107 hectares. As espécies superam 20 metros de altura, como a itapicuru e pau-preto.

Apesar de ser a unidade de conservação do gênero mais estudada no Brasil, o parque não dispõe de plano de manejo capaz de dar a exata dimensão da riqueza, sobretudo em se tratando de mamíferos, mas o parecer técnico que fundamentou a concepção, em 2000, permitiu detectar pegadas de grandes animais, como a onça-pintada e a anta, bem como de mamíferos de menor porte, como o guaxinim. Além disso, a alternância dos ambientes de mata seca com mata ciliar, aliada ao tamanho significativo da reserva, favorece a presença de animais de médio e grande porte, como a jaguatirica, o terceiro felino das Américas.

Acompanhei pesquisadores no parque e pude conferir a avifauna, com destaque para os primeiros registros na região do pato do mato, como o gavião-belo, gavião-pernilongo, gavião-bombachinha e gavião-caramujeiro.

  

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