Lama chega ao ‘Velho Chico’

Estudo da SOS Mata Atlântica revela que águas de Três Marias estão contaminadas

Renata Evangelista
23/03/2019 às 07:10.
Atualizado em 05/09/2021 às 17:56
 (LEO BARRILARI/SOSMATAATLÂNTICA)

(LEO BARRILARI/SOSMATAATLÂNTICA)

Os rejeitos de minério da barragem Mina Córrego do Feijão, que se rompeu em 25 de janeiro em Brumadinho, na Grande BH, chegaram ao rio São Francisco. Levantamento realizado pela Fundação SOS Mata Atlântica aponta que os índices de turbidez no trecho que vai de Felixlândia até Três Marias, na região Central de Minas, estão acima do aceitável e, por isso, a água é imprópria para o consumo.

A constatação integra o relatório “O retrato da qualidade da água nas bacias da Mata Atlântica”, divulgado nessa sexta-feira em referência ao Dia Mundial da Água. As análises no “Velho Chico” foram feitas de 8 a 14 de março.

Ao todo, 12 pontos no trecho entre os reservatórios de Retiro Baixo, localizado no rio Paraopeba – entre Curvelo e Pompéu –, e de Três Marias, no Alto São Francisco, foram verificados pelos pesquisadores. Desses, segundo o estudo, nove apresentaram condição ruim e três, regular.

Em alguns locais foram verificados índices de turbidez seis vezes acima do permitido pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama).

As concentrações de ferro, manganês, cromo e cobre também estariam além do aceitável pela legislação. Isso em um trecho a mais de 230 quilômetros do local do rompimento da barragem.
 
SITUAÇÃO CRÍTICA
Conforme o levantamento, a situação poderia ser pior. “Apesar das medidas tomadas no sentido de evitar que os rejeitos atinjam o rio São Francisco, os contaminantes mais finos estão ultrapassando o reservatório (Retiro Baixo) e descendo, já sendo percebidos nas análises em padrões elevados”, destacou a SOS Mata Atlântica.

Os resultados da fundação foram contestados pela Agência Nacional das Águas (ANA), pelo Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam) e Serviço Geológico do Brasil.

“A análise da qualidade da água do rio Paraopeba feitas antes do evento da ruptura da barragem de Brumadinho já apontava níveis de contaminação, por ferro e alumínio, que mascaram a passagem da lama. O rio Ribeirão das Almas, por exemplo, imediatamente a jusante de Retiro Baixo, lança muitos sedimentos no Paraopeba, o que pode confundir análises feitas sem contemplar as séries anteriores de dados”, explicou a ANA, em nota.

A Vale, responsável pela Mina Córrego do Feijão, garantiu que a pluma de lama está contida no reservatório da Usina Hidrelétrica Retiro Abaixo “e não acessou o rio São Francisco”. “Esta afirmação está fundamentada na análise integrada do comportamento dos resultados de turbidez (até o dia 20 de março) e metais (até 16 de março) que estão associados ao deslocamento da pluma”, explicou a mineradora.

A empresa ainda destacou que, diariamente, monitora 65 pontos nas áreas afetadas pelo desastre, “em pontos a jusante no rio Paraopeba, principais tributários, reservatórios de Retiro Baixo e de Três Marias, rio São Francisco e em pontos a montante não afetados”.

A Secretaria Estadual de Meio Ambiente (Semad) também foi procurada pela reportagem, e reforçou o posicionamento do Igam, afirmando que “não se observam alterações na qualidade das águas na estação de amostragem localizada a jusante da Usina Hidrelétrica Retiro Baixo que indiquem a chegada da pluma de rejeitos neste trecho”.
 
TRISTE REALIDADE
Não é só o rio São Francisco que está padecendo. No país, dos 278 pontos de coleta de água monitorados, em 49 (17,6%) a qualidade é ruim, e em quatro pontos (1,4%), péssima. Conforme o estudo, somente 18 pontos (6,5%) apresentam qualidade boa da água e nenhum dos rios e corpos d’água tem qualidade ótima.

“Os rios brasileiros estão por um triz. Seja por agressões geradas por grandes desastres ou por conta dos maus usos da água no dia a dia, decorrentes da falta de saneamento, da ocupação desordenada do solo nas cidades, por falta de florestas e matas ciliares que protegem os rios e nascentes e por uso indiscriminado de fertilizantes químicos e agrotóxicos. Nossos rios estão sendo condenados pela falta de boa governança”, afirma Malu Ribeiro, assessora da Fundação SOS Mata Atlântica, especialista em água.

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