Gigantes tombam na Mata Seca: áreas de grande biodiversidade no Norte de Minas clamam por proteção

Duas árvores que estariam entre as mais velhas do Estado desabaram no parque estadual: situação reflete perda florestal registrada em Minas

Manoel Freitas
O NORTE
20/01/2021 às 01:32.
Atualizado em 05/12/2021 às 03:58
 (Fotos Manoel Freitas)

(Fotos Manoel Freitas)

Duas gigantes do sertão norte-mineiro, que estariam entre as árvores mais velhas do Estado, sucumbiram ao tempo e ao desgaste do solo e tombaram, no fim de 2020, no Parque Estadual da Mata Seca. As duas barrigudas ou embarés (Cavanillesia arborea), também conhecidas como baobá-brasileiro, eram o xodó dos ambientalistas e servidores do Instituto Estadual de Florestas (IEF) local.

Uma delas media 25 metros de altura e 10,5 metros de circunferência. A outra, tinha 30 metros de altura e 9,5 metros de circunferência. Estavam a uma distância de mil metros uma da outra.

A queda das duas árvores surpreendeu os ambientalistas, que constataram o acidente ao levarem a reportagem de O NORTE para fazer o primeiro registro delas.

O momento foi de muita emoção, sobretudo por se tratar da árvore-símbolo do território do parque, de 15.360 hectares, em Manga, no extremo Norte de Minas. A unidade de conservação é a única de Minas a abrigar essa espécie, com mais de 360 indivíduos catalogados e estudados por pesquisadores do Brasil e de diversos países, como Canadá, Colômbia, Peru, Venezuela, México e Cuba.
 
PERDA FLORESTAL
A queda das gigantes barrigudas reforça a constatação do estudo da Universidade Federal de Lavras (Ufla), divulgado na edição de ontem de O NORTE, de que há mais árvores morrendo do que nascendo em importantes florestas do Estado. 

A pesquisa foi realizada inclusive em matas secas no Norte de Minas que integram o Mosaico Sertão Veredas – Peruaçu, conjunto de áreas protegidas na margem esquerda do rio São Francisco.

De acordo com a investigação científica, as florestas “têm como característica ficar quase totalmente sem folhas durante a época seca, historicamente negligenciadas em políticas de gestão territorial e de conservação, como tais vulneráveis a pressão exercida pelas atividades humanas”. 

A avaliação, ao longo de 30 anos, apontou que as variações climáticas são as responsáveis por esse círculo vicioso, posto que a diminuição do número de árvores reduz a absorção de carbono da atmosfera, fundamental para a manutenção de vários ciclos naturais que influenciam direta e indiretamente no meio ambiente, na qualidade de vida humana e na economia.

Riqueza que resiste em meio às adversidades
As barrigudas são mais do que árvores gigantescas do sertão mineiro, ressalta José Luiz Vieira, gerente do Parque Estadual da Mata Seca desde 2009. “São exemplares que figuram entre os maiores assinalados no país”. E ressalta: estão em um cenário que, “pela combinação de vários ambientes ricos em biodiversidade e ameaçados, reclamam medidas de proteção, por favorecerem consequentemente a ocorrência de uma série de animais de médio e grande porte”.

O gerente do parque da Mata Seca destaca que a criação da unidade administrada pelo IEF “representou esforço continuado na preservação de áreas contínuas no bioma Mata Seca, considerado área de importância biológica especial pelo Atlas da Biodiversidade”.

José Luiz, que participou do estudo técnico que culminou na criação do Parque Estadual da Mata Seca, chamou a atenção para outras árvores tombadas, como aroeiras (Myracrodruon urundeuva) centenárias, que na unidade de conservação chegam a alcançar entre 20 e 30 metros de altura. O diâmetro pode variar conforme a área de ocupação. 

Ele afirma que a espécie resistiu à corrida pelo desmatamento nos anos 1960 e 1970. Por outro lado, explicou que pesquisadores da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) constataram que “o parque está entre as áreas brasileiras com maior ocorrência da espécie”.
 
SEM REGISTROS
Apesar das perdas, a unidade de conservação ainda ostenta dezenas de pau-pintado, ou araçá, espécie que, segundo o gerente do parque, ocorre em bloco, sem registros em livros brasileiros.

O estudo da Ufla propõe que “as formações florestais mais secas também sejam incluídas como prioritárias em estratégias de conservação, devido à sua maior vulnerabilidade”.


 

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