(MANOEL FREITAS)
Gestores públicos de 56 municípios do Norte de Minas se reuniram, ontem, em Montes Claros, em uma iniciativa do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), para mais uma das etapas da busca dos municípios do semiárido pela obtenção do selo do organismo internacional. O objetivo é o reconhecimento de um conjunto de ações e compromissos que asseguram a garantia dos direitos de crianças e adolescentes, especialmente iniciativas que contemplem os mais vulneráveis e excluídos.
Coordenadora do Unicef em Minas, Bahia e Sergipe, Helena Oliveira disse, na abertura do encontro, na sede da Associação dos Municípios da Área Mineira da Sudene (Amams), com base em dados do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM/DataSUS), o Sistema de Informática do Serviço Único de Saúde (SUS), do governo federal, que nos dois últimos anos ocorreram em Minas 10.504 estupros de crianças e adolescentes. “Daí a importância das boas ideias dos municípios norte-mineiros para nosso grande desafio de mudar essas estatísticas”.
Ela lembrou que, “sem levar em conta os casos não notificados, na faixa etária de 10 a 19 anos, o Brasil lidera o ranking de homicídios de meninas e meninos, por isso estamos aqui no sertão, para incentivar cada administrador a fazer sua parte”.
Helena Oliveira frisou que ações transformadoras, como as relatadas por cada gestor da região, “podem acontecer tanto nos conselhos tutelares, nas salas de aula, como nos postos de saúde, nos Cras ou nos Creas”. E indagou: “por que meninos e meninas têm que ser assassinados, e, mais ainda, por que os pretos são as maiores vítimas, um racismo silencioso, ou seja, matam porque esse aqui não é humano?”.
“Os municípios têm papel fundamental na proteção das crianças e adolescentes”, continuou Helena Oliveira, ressaltando que todos os dias 31 crianças e adolescentes são assassinados no Brasil e que no encontro de Montes Claros, a exemplo do ocorrido na última terça-feira, em Araçuaí, no Vale do Jequitinhonha, foram compartilhadas “muitas boas experiências para que os meninos e as meninas de Minas Gerais parem de ser assassinados, vítimas de acidentes, cometer suicídios, sofrer racismo e discriminação e ser vítimas de violência sexual”. Por fim, disse que “é para virar esse jogo que estamos trabalhando muito em Minas, especialmente no Norte do Estado”.
Alessandra Kelly, articuladora do Unicef na região do Alto do Rio Pardo, conversou com O NORTE. Como educadora, ela representou Catuti no 4º Ciclo de Capacitação do Selo em Minas Gerais, com a responsabilidade de garantir a terceira certificação do município, citado na abertura do evento, também, pelo fato de ter, de acordo com levantamento do IBGE, 5.102 habitantes, número muito parecido com o de meninos e meninas estuprados no Estado tanto em 2016 como em 2017. Ela revelou que o segredo na obtenção do selo da instituição nas gestões de 2001/2004 e 2005/2008 é “a prevenção”.
Segundo Alessandra Kelly, desde que se procurou adotar políticas para preencher as exigências do Unicef, “praticamente inexiste violência contra menores em Catuti. “Tanto é verdade que a gente percebe uma mudança cada vez maior no comportamento da juventude, porque quando o Conselho Tutelar e a assistência social trabalham na prevenção, fica mais fácil, a criminalidade não acontece”.
Ela explicou que professores são preparados de modo a conscientizar os jovens sobre seus direitos para que, ao menor sinal de assédio, falem com familiares, contem na escola. O município, disse ainda, procura desenvolver atividades culturais e esportivas que envolvam meninas e meninos.