Doença inédita na região assusta criadores de gado

Tripanossomose bovina já matou 25 cabeças de gado em São Francisco

Christine Antonini
02/11/2019 às 06:26.
Atualizado em 05/09/2021 às 22:31
 (MANOEL FREITAS)

(MANOEL FREITAS)

A morte de 25 bovinos na região de São Francisco nas últimas semanas chamou a atenção de criadores de gado e também dos órgãos fiscalizadores da espécie. Os animais foram vítimas da tripanossomose bovina, doença que ataca tanto o gado de corte quanto o leiteiro e que até então não havia sido registrada no Norte de Minas.

Outras 80 ocorrências estão sob investigação. Essa enfermidade ainda é pouco conhecida e de difícil diagnóstico, podendo ser transmitida por diferentes vias – a principal delas por moscas contaminadas.

A tripanossomose já foi relatada no Brasil há muitos anos, sendo que o primeiro registro oficial ocorreu em meados da década de 1940. Em Minas Gerais, os primeiros aparecimentos ocorreram no início dos anos 2000.

Na região norte-mineira, a doença foi diagnosticada em alguns municípios por meio de um exame médico pré-admissional sorológico entre 2017 e 2018.

O médico veterinário de um laboratório brasileiro que fabrica o remédio de imunização contra a doença, Marcos Malacco, pontua que a tripanossomose já está presente em todo o Brasil. Antes só havia registro da doença na Guiana, Venezuela, Colômbia, Bolívia e Paraguai. 

“Normalmente, a tripanossomose chega à fazenda com a entrada de novos animais portadores do Trypanossoma vivax, mas que não mostram sinais. Estes animais, inclusive, podem estar em fazendas vizinhas. Moscas se alimentam de sangue dos animais e as mutucas, então, podem ser as vetoras do parasito”, explica Maclacco.

O veterinário da Ceva Saúde Animal ressalta que é importante mencionar que outros animais – silvestres, como veados e capivaras, e domésticos – podem ser reservatórios do parasito.
 
TRATAMENTO
Segundo Marcos Malacco, o único medicamento com alta eficácia e persistência para o controle do Trypanossoma é o Isometamidium, comprado em rede particular. O Ministério da Agricultura oferece o Vivedium, fabricado na França.

O veterinário alerta para o não compartilhamento de seringas durante a aplicação de qualquer tipo de remédio. “Uma prática bastante comum na ordenha de vacas azebuadas e seus cruzamentos é a aplicação da ocitocina para facilitar a ordenha (descida do leite). As seringas empregadas muitas vezes são compartilhadas entre os animais, sendo o principal veículo transmissor do parasito. Portanto, nestas situações, a doença poderá ocorrer por todo o ano, sem sazonalidade”, afirma. 
 
MONITORAMENTO
De acordo com o Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA), será feito um monitoramento nas fazendas onde houve registro de animais com tripanossomose. O criador que desejar receber uma equipe do órgão para fazer os testes de laboratório deve agendar o atendimento pelo telefone (38) 3221-7978.

SAIBA MAIS
Sintomas do mal

A doença pode se manifestar de forma aguda ou crônica. Na forma aguda se parece muito com a “tristeza parasitária bovina”, com queda brusca de produção, redução do apetite, anemia, febre, emagrecimento.   Podem ocorrer ainda sinais neurológicos, como cegueira, dificuldade de locomoção, tristeza (cabeça e orelhas baixas, olhar triste). Também são característicos abortos, reabsorção embrionária, falhas reprodutivas com subfertilidade e/ou infertilidade, tanto nas fêmeas quanto nos touros. A doença crônica caracteriza-se especialmente por queda na produção e falhas reprodutivas. Outros sintomas registrados são mastites, infecções dos pés e cascos, pneumonias, diarreias. A morte ocorre, em média, até seis dias após os primeiros sintomas da doença.

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