Do silêncio ao grito por socorro

“Agosto Lilás” alerta sobre a pandemia de violência contra a mulher no país

Márcia Vieira*
Repórter
04/08/2021 às 08:24.
Atualizado em 05/12/2021 às 05:35
 (PMMG/Divulgação)

(PMMG/Divulgação)

“Vivi um casamento em que sofri violência doméstica. Aguentei a situação durante 15 anos até chegar ao ponto em que ele colocou fogo em mim. Tenho pino no braço por causa disso. Na época, procurei a Justiça e foi determinada a medida protetiva. Mas, com a distância de 500 metros, ele ainda poderia me atingir. Há oito anos sou separada, graças a Deus não fiquei com sequela psicológica, me reergui. Soube que ele está casado novamente e que a companheira também sofre agressão. Aconselho as mulheres que estão na mesma situação a procurarem a Justiça. Eu consegui sair e criar minha filha sozinha, mas infelizmente nem toda pessoa tem a mesma sorte de sobreviver”.

O relato dessa montes-clarense retrata o que milhares de brasileiras enfrentam dentro de casa, caladas, com medo de pedir por socorro e sofrerem ainda mais, ou serem mortas. Apesar de o país ter uma das leis mais avançadas no enfrentamento à violência contra a mulher, a Maria da Penha, os números de ocorrências não regridem.

Desde o início da pandemia da Covid-19, os índices de feminicídio cresceram 22,2% em comparação com os meses de março e abril de 2019. Os dados foram publicados em maio de 2021 pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

Para alertar a sociedade sobre essa situação de abusos, várias ações serão feitas durante este mês em todo o país, em que é celebrado o “Agosto Lilás”.
 
AÇÕES
No Norte de Minas, a 11ª Região da Polícia Militar vai realizar ações nos 77 municípios da jurisdição. De acordo com a tenente Mônica Zuba, a campanha comemora o marco jurídico que é a Lei 11.340 (Lei Maria da Penha), sancionada em 2006. Violências física, sexual, patrimonial, psicológica e moral estão enquadradas na lei e entram no alvo da campanha.

“Serão realizadas ações preventivas e educativas para conscientização e mobilização da sociedade na aplicação e instituição de medidas para coibir todas as formas de violência contra a mulher, além de fomentar a denúncia de práticas ilegais”, explica a militar.

Serão feitas blitze educativas nas regiões de maior concentração de ocorrência, reuniões com demais órgãos que compõem a rede de enfrentamento e capacitação dos militares. “Nossas equipes de patrulha de prevenção estarão à frente dessas ações, mobilizando a comunidade”, diz a tenente.

Segundo ela, o nível de violência empregada nos casos registrados aumentou durante a pandemia. “Isso nos preocupa e queremos mobilizar a comunidade em prol dessa campanha para evitar o agravamento dos casos e evolução até para o feminicídio”, afirma.
*Com Agência Brasil

Faltam políticas públicas para acolher as vítimas“Mesmo tendo a terceira melhor lei do mundo no que tange ao enfrentamento da violência contra a mulher, temos um alto índice de ocorrências. Isso acontece porque os legisladores fazem muitas leis, que é o chamado direito simbólico, mas a gente acaba não conseguindo colocar em prática tudo que é previsto em lei por falta de políticas públicas”.Essa é a avaliação da titular da Delegacia da Mulher de Montes Claros, Karine Maia, que alerta ainda para a dificuldade das vítimas denunciarem. Embora haja campanhas, divulgação nas redes sociais sobre a necessidade de levar o histórico de agressão à tona, as mulheres convivem com o temor.“Não adianta as mulheres serem incentivadas externamente a denunciar se elas não mudarem internamente. Precisam do fortalecimento da autoestima, segurança, capacitação. Senão, elas saem de um para outro relacionamento patológico”, afirma a delegada.Karine Maia acredita que a evolução da mulher está incomodando a figura masculina e elas não sabem lidar com este momento de transição. “São pontos a se considerar, mas, sem dúvida, temos muito a comemorar, pois hoje falamos mais sobre o tema e estamos trazendo o conteúdo para as escolas de maneira reiterada”, destaca a delegada.
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