Da aldeia para o mundo

José Sátiro, o índio Irakinã, fez carreira no futebol profissional, mas sempre volta à tribo

Manoel Freitas
09/01/2019 às 06:21.
Atualizado em 05/09/2021 às 15:56
 (MANOEL FREITAS)

(MANOEL FREITAS)

SÃO JOÃO DAS MISSÕES – O futebol também é uma paixão entre os índios, apesar de outras modalidades fazerem muito sucesso durante os VI Jogos dos Povos Indígenas de Minas. De 26 a 29 de dezembro, em São João das Missões, no Extremo Norte, a supremacia foi dos donos da casa, a tribo Xakriabá. Mas os holofotes caíram sobre José Sátiro do Nascimento, o Índio Irakinã, de 40 anos.

Nascido na Aldeia Xucuru Kariri, em Palmeira dos Índios, em Alagoas, a habilidade com a bola o levou para passear nos gramados mais importantes do mundo.

Aos 17 anos de idade começou a jogar profissionalmente no Vitória da Bahia, como lateral. Na temporada seguinte, já conhecido como “Índio”, destacou-se pela equipe baiana em torneio internacional nos Estados Unidos.

Então veio a sorte grande: em 1998, assinou contrato com o Corinthians, onde conquistou o título do Campeonato Brasileiro. Um ano depois, após arrebatar o bi-campeonato da principal competição do país e, de quebra, levantar o troféu do Campeonato Paulista, o índio Xucuru Kariri disputava na Nigéria a Copa do Mundo Sub-20 de 1999.

O maior título da carreira não demorou: em janeiro de 2000, conquistava no Maracanã, pelo Corinthians, o Mundial de Clubes da Fifa, contra o Vasco da Gama. Em 2001, despediu-se do timão com novo título do Campeonato Paulista.

Fez as malas e jogou até 2003 em Seul, na Coreia do Sul. O retorno às terras do povo Xucuru Kariri ocorreu em 2004, mas por pouco tempo. Voltou aos campos da Coreia, foi para a Grécia e, na sequência, atuou no Peru.

Três anos depois, anunciou o fim da carreira, mas até 2010 atuou por cinco equipes brasileiras, quando voltou à mídia depois de revelar os bastidores de sua passagem pelo Corinthians: recebia salário de apenas R$ 1.500. Então sem empresário, a situação não foi mais amarga porque a conta bancária recebeu reforço dos títulos conquistados.

Em sua caminhada, sempre com paradas na nação indígena Xucuru Kariri, conquistou ainda dois títulos – pelo Genus, de Rondônia, e pelo Cambé, do Paraná.
 
O RETORNO
De poucas palavras sobre seu passado como atleta, Sátiro contou que o gol mais importante da carreira “foi o da Libertadores, contra o River Plate da Argentina”. Sorrindo amigavelmente ao ser questionado sobre o estado civil, disse: “solteiro, pai de sete filhos”.

Revelou que, depois de atuar nos principais gramados do Brasil e do mundo, vai jogar mais um ano pelo Campeonato Paulista, pelo Noroeste de Bauru, “e dependurar as chuteiras”.

“Vou retornar para a aldeia, montar uma escolinha e ficar de boa, pois é minha origem e é para lá que eu vou voltar”, garantiu. Outra motivação é a perda recente do pai. “Hoje moro com minha mãe e ela não me deixa morar muito tempo fora”.

O talento de Irakinã, no entanto, não foi o bastante para fazer seu povo disputar a final: fez três gols no primeiro jogo e perdeu as duas partidas seguintes na cobrança de pênaltis.

Durante os jogos, Sátiro chamou atenção também pelo espírito de guerreiro na prova de cabo de guerra – teste de força que fez parte dos Jogos Olímpicos de 1900 a 1920. A modalidade, no entanto, foi vencida pelo povo Xakriabá sobre os Krenak. Mesmo com muita luta, a equipe do jogador profissional ficou em terceiro lugar.

No terceiro dia de competição, o incentivo dos vencedores deixava bem claro que o autêntico sentido dos jogos era celebrar a união das nações indígenas de Minas.

Em frente à tenda de sua etnia, na aldeia Xakriabá, José Sátiro ou Irakinã disse que “é muito bom conhecer os povos indígenas”.

“Esses jogos são importantes por nos permitir chegar mais perto dos outros povos. Hoje mesmo estou conhecendo os Xakriabá, Krenak, Pataxó. Isso para mim é uma família também”, disse o Xucuru Kariri, ressaltando que “temos que ficar sempre perto dos parentes, porque a união é que nos faz cada vez mais fortes”.

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