Covid-19 é cinco vezes mais mortal entre os idosos em Minas

Luisana Gontijo e Márcia Vieira
Hoje em Dia - Belo Horizonte
13/06/2020 às 11:59.
Atualizado em 27/10/2021 às 03:45
 (Arquivo Pessoal)

(Arquivo Pessoal)

A alta letalidade do novo coronavírus entre os idosos, confirmada em todo o mundo, também desperta atenção em Minas. Por aqui, o índice de mortes de quem tem mais de 60 anos é cinco vezes maior do que a média geral dos demais doentes no Estado. Porém, alheios à vulnerabilidade, muitos ainda ignoram as medidas de proteção contra a Covid-19. O mais recente boletim sobre a doença sinaliza que a letalidade das pessoas desta faixa etária chega a 12,6%, ao passo que a dos demais mineiros está em 2,3%. Até quinta-feira, Minas registrava, segundo a Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG), 431 óbitos, sendo 315 de idosos – 73% das vítimas. Em Montes Claros, ocorreram três mortes até o momento e todas as vítimas tinham mais de 60 anos de idade: dois homens, de 69 e 76 anos, e uma mulher de 72 anos. Dos 121 casos confirmados na cidade até quinta-feira, 22 eram idosos – 18%. Ainda assim, tem sido comum maiores de 60 anos andando pelas ruas, sem manter o distanciamento social e sem usar as máscaras – ou usando de forma errada –, cuidados recomendados para evitar o contágio da enfermidade.  Sobre isso, os médicos são categóricos: as pessoas, principalmente os mais velhos, devem sair de casa apenas em último caso. “O ideal é que procurem não se infectar”, crava o infectologista Argus Leão. O especialista defende o isolamento social, que é imprescindível contra a contaminação. MOTIVOSPesquisadores da Universidade de Hong Kong, território chinês, já haviam constatado essa relação entre idade e morte de pacientes com mais de 60 infectados pelo novo coronavírus em Wuhan, onde a epidemia começou, em dezembro de 2019.  O geriatra do Hospital das Clínicas da UFMG Jáder Freitas explica que, com o avançar da idade, o sistema imunológico entra em um processo chamado imunossenescência, como se fosse um envelhecimento da imunidade. “Assim, a pessoa passa a ter uma resposta um pouco mais lenta. Por essa razão, idoso morre mais de pneumonia, infecção urinária”, aponta o médico. Além disso, diz Freitas, 80% dos idosos tomam algum remédio – pelas estatísticas brasileiras de saúde –, têm comorbidades, incapacidades ou fragilidades. “O idoso tem uma reserva menor para combater essa infecção e outras agressões. A gente sabe que um idoso, quanto mais frágil, mais dependente, suporta menos um acidente de carro, uma cirurgia de grande porte. São condições que o idoso apresenta, além da imunossenescência”. CUIDADOApesar da consciência de que precisam se resguardar e ficar em casa, o dia a dia não tem sido fácil para os idosos. “Eu mexo com as minhas plantinhas e costuro para mim mesma. É o que está me salvando. Não saio para nada. Tenho muita dor na coluna e não consigo ficar muito tempo deitada. Agora piorou, porque não posso sair para caminhar e nem ir à casa de um vizinho ou de uma amiga para conversar. Ainda bem que tenho minhas plantas”, diz a aposentada Maria de Lourdes Ferreira, de 85 anos. Ela declara que graças ao filho e à nora, que moram ao lado da casa dela, não tem faltado nada. “Minha nora é muito boa e quando eu preciso de alguma coisa é ela quem sai para comprar. Se não fossem eles eu estaria mais isolada ainda. Eu tenho muito medo de pegar essa doença, porque tenho bronquite e para mim seria muito difícil”, avalia. Há aqueles que encontraram na espiritualidade o suporte para vencer o medo da pandemia. É o caso do professor doutor da Unimontes Márcio Antônio Silva, que acaba de fazer 60 anos. Diabético e hipertenso, ele entende que faz parte do grupo considerado mais sensível e, por isso, não descuida. Mas diz que lida com o momento de maneira tranquila. As saídas estão restritas apenas a duas situações. “Saio para levar a minha esposa ao supermercado, mas aguardo dentro do carro enquanto ela faz as compras. E faço a minha caminhada todos os dias, porque é uma prática de mais de 20 anos que auxilia na questão da saúde, no meu caso que tenho problemas de circulação. Medo é uma defesa do ser humano, mas não tenho neurose. Sei que não posso contrair a doença, mas acordo, faço uma oração e tenho uma leitura positiva da vida para não atrair energia negativa. Estamos passando por uma mutação e do reforço espiritual não abro mão”, diz Márcio. SAIBA MAISO idoso deve procurar ter um papel de protagonismo no combate ao novo coronavírus, recomenda o geriatra Jáder Freitas. “Às vezes, a família quer visitá-lo, mas ele está tranquilo, quer se proteger. Então, ele deve saber limitar, não receber visita, se não estiver seguro quanto a isso. Se não estiver ansioso, se estiver tranquilo, que fique em casa, mantenha o isolamento social, se proteja”, aconselha o médico. A família deve ficar atenta, alerta o médico, para se certificar de que o idoso está com a saúde mental boa, se o isolamento não está trazendo um processo de ansiedade, de depressão, que pode se manifestar como uma queda do apetite, desânimo, insônia, perda de energia, de peso, sintomas que devem ser tratados.O médico indica ainda que é importante estabelecer uma rotina, ter horário de cuidar da casa, de fazer atividades que gosta, ligar para a família, praticar exercícios físicos, como alongamento, caminhada. 

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