Paulo Brandão
Correspondente
BOCAIÚVA - Recentemente aconteceu na Fazenda Bom Sucesso, distrito de Alto Belo, o lançamento do projeto Descendo o rio, do Comitê da bacia hidrográfica do Rio Verde Grande. Participam as prefeituras de Bocaiúva, Guaraciama, Glaucilândia e a Coordenadoria das promotorias de meio ambiente da Bacia do São Francisco, além de centenas de pessoas que se reuniram na nascente do rio.
Foram levantados no encontro vários problemas que assolam o Verde Grande, como: conflitos pelo uso da água, assoreamento, poluição, uso predatório causando a escassez de água, principalmente para irrigação.
O Descendo o rio tem o objetivo de revitalizar, sobretudo, conscientizar a população ribeirinha de como preservar o rio. Prova disso será a realização da primeira ação efetiva de preservação do rio. Segundo o comitê organizador, inicialmente, o trabalho será realizado cercando a nascente e as margens do Rio Verde Grande, plantando mudas ao lado do rio e construindo barragens de contenção.
Trabalho de socorro ao rio tem apoio de prefeituras,
promotorias e centenas de pessoas (Foto: Paulo Brandão)
INDENIZAÇÕES
Esse trabalho será realizado com recursos advindos das indenizações pagas por empresas que afetam ou afetaram a preservação do Verde Grande. Futuramente será feita uma parceria com as prefeituras dos municípios que compõem a bacia, para que o rio possa ser totalmente limpo e preservado. Essa realização, conforme avalia o presidente do CBH Verde Grande, José Valter Alves, também ajudará na melhoria da água dos poços artesianos que abastecem alguns municípios vizinhos.
O do Verde Grande é o sétimo Comitê de bacias hidrográficas de rio de domínio da União a ser instalado no Brasil. É composto por representantes da União, dos estados de Minas Gerais e da Bahia, dos municípios que, em parte ou no todo, fazem parte da bacia, dos usuários das águas do rio e das entidades civis de recursos hídricos com atuação comprovada na bacia.
A finalidade do comitê é promover o gerenciamento participativo e democrático dos recursos hídricos, para que a água da Bacia seja usada da melhor forma possível. Estão inseridos nesta região 35 municípios, sendo 27 mineiros e oito baianos. Dos municípios mineiros, apenas 12 estão inteiramente incluídos na Bacia; nenhum dos municípios baianos possui sua área integralmente inserida na região.
Para José Valter Alves, a importância do evento é conscientizar a população.
- A preservação do rio não depende de uma única pessoa e sim de um trabalho conjunto. Iremos conscientizar as pessoas da importância da recuperação de um rio. A água é vida. Ainda há tempo de recuperar, se todos nós trabalharmos juntos - diz.
A região integra a bacia do Rio São Francisco pela margem direita, sendo o Verde Grande o seu principal curso de água, e os rios Gorutuba, Verde Pequeno, Juramento e Quem-Quem, alguns de seus tributários mais significativos. Pela margem esquerda, o Ribeirão do Ouro, o Córrego Macaúbas e os rios Arapoim e do Vieira são seus principais afluentes.
EXPEDIÇÃO
A Bacia do Verde Grande foi alvo de uma experiência piloto da ANA - Agência nacional de águas, em setembro de 2001. Com o objetivo de conhecer os problemas da bacia, a agência promoveu a primeira expedição da Bacia do Rio Verde Grande, que percorreu desde a nascente do rio, em Boc, até a foz, em Malhada - BA, onde há o encontro com o Rio São Francisco.
Para Paulo César, coordenador da promotoria da Bacia do Rio São Francisco e Verde Grande, esse evento é da maior importância não só para Boc e região, como também para o próprio rio. Ele frisou a importância da ajuda da população na manutenção da limpeza do Verde Grande.
- A partir do momento em que as pessoas se conscientizarem de que necessitam das águas do rio, e que a escassez dela está cada vez mais perto, estaremos dando um grande passo à frente para a revitalização do Verde Grande.
O ambientalista Hugo Werneck fez uma comparação da relação que existe entre o homem e a natureza:
- A natureza não é alfabetizada, nunca foi à escola, mas nos dá grandes lições de ensino. Para começarmos esse trabalho, temos que fazer como as borboletas, temos que passar por uma metamorfose. Vamos mudar a nossa maneira de pensar e agir e nos conscientizar de que o meio ambiente tem que ser cuidado e tratado com carinho.
A expectativa dos moradores ribeirinhos é de que o projeto alcance o sucesso esperado e que eles possam, novamente, ter um rio salvo e sadio. Cleiton Belo da Cruz ilustra muito bem esse sentimento:
- Acreditamos e torcemos pelo sucesso desse projeto porque, preservando o nosso rio, não teremos falta de água para os animais e para nós.