Comércio cai 14,6% no Estado em abril, pior taxa para o setor em 20 anos

Evaldo Magalhães
efonseca@hojeemdia.com.br
24/06/2020 às 09:28.
Atualizado em 27/10/2021 às 03:51
 (leo queiroz)

(leo queiroz)

Dia após dia, números assustadores de mortos e contaminados pela Covid-19 no país são engrossados por dados que apontam o alto poder destrutivo da pandemia sobre as atividades econômicas. Segundo a Pesquisa Mensal de Comércio (PMC), divulgada pelo IBGE, em abril, primeiro “mês cheio” de efeitos das restrições impostas pelo novo coronavírus, as vendas do setor varejista brasileiro tiveram recuo de 16,8% em relação a março – maior índice negativo desde o início da série histórica, em 2000. Em Minas, o tombo também foi recorde: 14,6%, no mesmo comparativo. Paralelamente, estudo da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) aponta perdas nos segmentos representados de R$ 200,7 bilhões entre 15 de março e 6 de junho. “Essa perda corresponde ao varejo ampliado (que inclui as atividades de veículos e material de construção) e equivale a mais de um mês inteiro de vendas. Por mês, o varejo ampliado fatura cerca de R$ 190 bilhões”, comparou o economista Fabio Bentes, responsável pelo estudo da CNC.  Para o Estado, ainda não foi feito o cálculo da parcela do prejuízo nacional. Contudo, levando-se em conta números anteriores, calculados até o início de maio pela mesma CNC – segundo os quais Minas havia perdido R$ 10 bilhões dos cerca de R$ 125 bilhões negativos registrados em todo o país –, a cota deve ficar próxima de 10% do último montante (ou algo em torno de R$ 20 bilhões). LÍDERES DO PREJUÍZONa comparação entre as vendas de abril deste ano e de abril de 2019, em Minas, conforme o IBGE, apenas hipermercados e supermercados apresentaram variação positiva (5,9%). Já as maiores quedas foram nos setores de outros artigos de uso pessoal e doméstico (-63,9%), tecidos, vestuários e calçados (-54,7%) e móveis (-50,6%). No varejo ampliado, destacaram-se pelas perdas os segmentos de veículos, motocicletas, partes e peças (-43,1%) e de material de construção (-13,3%). Para o economista Guilherme Almeida, da Fecomércio-MG, tais resultados refletem dois problemas ligados à Covid-19. De um lado, o fato de muitas lojas terem ficado impossibilitadas de funcionar – caso das que vendem roupas. De outro, os impactos das quedas de empregos, renda e confiança do consumidor.  “Em períodos de deterioração dos indicadores do trabalho e de baixa confiança, as famílias tendem a priorizar consumo de bens de primeira necessidade. A aquisição de outros itens, o que inclui ainda os bens duráveis, como móveis (recuo de 40,7% em Minas) e eletrodomésticos (-33,3%), é postergada”, explica.  Baque foi amenizado por tecnologiaA suspensão das atividades econômicas por tanto tempo deixa um rastro de prejuízos em vários setores. Estudo realizado pelo Sebrae estima uma queda de 7% do Produto Interno Bruto (PIB) de Minas Gerais neste ano. O cenário traçado pela Unidade de Políticas Públicas e Desenvolvimento Territorial do órgão revela ainda que cerca de 1,75 milhão de pequenos negócios necessitam de socorro imediato e entre 40% a 50% destes pequenos negócios não sobreviverão à crise. Em dois anos, serão eliminados cerca de 2 milhões de postos de trabalho e haverá uma redução drástica da arrecadação dos municípios. “Estamos disponibilizando uma série de soluções para os empresários, como consultorias, atendimentos remotos, webinar, lives e fechando parceria com prefeituras para manter o dinheiro circulando no próprio município. Vamos trabalhar com feiras de negócios on-line e rodadas de negócios on-line”, afirma o gerente da Regional Norte do órgão, Cláudio Luiz de Souza Oliveira. A analista técnica do Sebrae Hebbe Mendes é responsável pelo atendimento de 11 dos 33 municípios que integram a área de abrangência do Sebrae Regional. Ela destaca que “todos os setores foram afetados de alguma maneira, mas houve gente que se redescobriu, mudando de ramo ou até conhecendo a própria empresa”. Ela aponta que a tecnologia se fortaleceu como ferramenta indispensável para a permanência no mercado. “Já estávamos caminhando para o mercado on-line e muitos que achavam que era coisa para o futuro têm agora a consciência de que este futuro chegou. Os consumidores vão acabar migrando para este tipo de compra. Algumas empresas tinham a rede social, mas não conseguiam fazer a gestão desta rede de uma maneira profissional”, analisa Hebbe. Naide Antunes atua em dois mercados distintos: de roupas masculinas e de bar. Em ambos, teve que se adequar, mas a aposta pela venda presencial ainda é grande. “Acho que este tipo de venda não vai morrer. As pessoas gostam de ir até a loja, de experimentar. Não está sendo fácil, mas temos esperança de recuperar o prejuízo”, diz a empresária. (Com Márcia Vieira)

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