Chuvas prejudicam lavouras e encarecem os alimentos

Nos sacolões, consumidores sentem o reflexo dos temporais no Norte de Minas: faltam folhas, principalmente, e alta no preço já pesa no bolso

Márcia Vieira
O NORTE
21/01/2022 às 00:07.
Atualizado em 26/01/2022 às 00:12
 (patrícia fuji/divulgação)

(patrícia fuji/divulgação)

Acostumado a conviver com a seca, o Norte de Minas se viu, nas últimas semanas, castigado por fortes chuvas que geram mais do que inundações, alagamentos e deslizamentos de encostas e estradas. As precipitações em excesso também impactam em um setor que, normalmente, sofre com a estiagem na região: o agronegócio.

“Os setores de hortifrúti e pecuária leiteira são os que mais sofrem nesse período, principalmente pelas péssimas condições das estradas”, explica o presidente do Sindicato Rural de Montes Claros, José Avelino Pereira Neto.

Ele afirma que os laticínios têm dificuldade em acessar as fazendas para coletar o leite e os produtores não conseguem escoar a colheita. Além disso, muitas plantações se perderam debaixo d’água com o transbordamento de rios. Outras não suportam tanta chuva e os alimentos não têm como ser comercializados.

“Com a redução na produtividade, por causa dos prejuízos na lavoura, o resultado é o aumento no preço dos alimentos”, diz o gestor. E comida mais cara é algo que o consumidor não dá conta nem de ouvir. Já basta o peso da inflação, da alta do dólar e tantas outras justificativas para preços nas alturas durante 2021. 

As donas de casa que vão à feira já estão sentindo no bolso a diferença, garante Carmila Almeida Horta, que trabalha na área de alimentação. “O quilo do tomate está chegando a R$ 9 e é de péssima qualidade. Alface a gente não acha para comprar. Hortaliças de um modo geral estão faltando. A batata também está caríssima. A chuva teve um impacto muito grande na economia cotidiana”, constata.

Carmila conta que produtos consumidos diariamente, básicos, estão pesando tanto para quem trabalha com comida como em casa. “Juntou o excesso de chuva com o aumento da gasolina e aumentou excessivamente o custo de vida”, lamenta.
 
LAVOURA AMEAÇADA
Os produtores também sentiram o efeito de tanta água. As lavouras foram afetadas, especialmente as de folhosos. “Há muitos anos não tínhamos uma chuva volumosa e longa como foi este período. Como não estávamos preparados para tanto, houve um impacto bem grande nas cebolinhas, couves, coentros e outros. A plantação não suporta tanta umidade e os produtos começam a apodrecer”, diz Patrícia Fuji, produtora da região do Pentáurea.

“Estou com um canteiro de folhas que era para estar no ponto de venda há mais de duas semanas, mas eu acredito que vai demorar mais umas duas semanas para ficar pronto. Alguns produtores colhem antes, mas nós não costumamos fazer isso, porque tudo tem um ponto certo e uma hortaliça que você colhe antes não vai ter as propriedades, como deveria ser”, complementa.

No caso das hortaliças, segundo a Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Faemg), produtores têm relatado perdas que chegam a 100% da plantação, o que provoca desabastecimento no mercado e, consequentemente a elevação de preços nos sacolões.

“Os produtores de hortifrúti estão debaixo d’água. Isso é muito preocupante porque eles perderam 100% das vendas. São alimentos que não se consegue salvar nada”, relata Antônio Pitangui de Salvo, presidente da Faemg.

FALTA DE PRODUTO
Em um dos sacolões mais movimentados da cidade, a falta dos produtos é notada pelos clientes. Funcionário do estabelecimento diz que há cerca de um mês os produtores locais não entregam hortaliças e, quando conseguem de fora, os preços aumentam muito. Entretanto, neste momento nem o produto mais caro eles têm para oferecer. “Com isso, o movimento diminui bastante e afeta as nossas vendas”, lamenta.

“Não encontro couve em lugar nenhum. Vim aqui porque tem de tudo e encontro a couve já cortada no mesmo preço da folha. Há mais de 15 dias estou procurando e não chega”, conta Bruna Lima.

Ela diz que já foi a supermercados e mercadinhos, mas não encontra a couve. “O tomate estava a R$ 10 e esta semana o preço melhorou um pouco, mas ainda está caro. Abaixou apenas R$ 1. Vou comprar o essencial e aguardar mais um pouco”, diz Bruna, na expectativa de que, com a diminuição das chuvas, os preços voltem a cair.


 

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