Cheia do Velho Chico ameaça vapor histórico

Sem ter obras de revitalização concluídas, Benjamim Guimarães corre o risco de virar caso nível do rio continue a subir em Pirapora

Márcia Vieira
O NORTE
13/01/2022 às 00:10.
Atualizado em 18/01/2022 às 00:53
 (Egnaldo barbosa/divulgação)

(Egnaldo barbosa/divulgação)

A cheia do rio São Francisco, em Pirapora, no Norte de Minas, que ameaça invadir ruas da cidade, já é um risco para um importante patrimônio cultural regional e nacional. O vapor Benjamim Guimarães, que foi retirado do curso d’água para passar por restauração, já está sendo atingido pelas águas do Velho Chico e pode virar, caso o nível continue a subir.

De acordo com o empresário Egnaldo Barbosa, proprietário do restaurante de mesmo nome que fica às margens do rio, a situação da embarcação é preocupante.

“Ele foi restaurado parcialmente. O casco ficou por último, então está aberto. Provavelmente não vai flutuar e a tendência é ficar submerso. Se a correnteza ficar muito grande e as escoras não aguentarem, ele pode virar. Grande risco de a gente perder um patrimônio valioso que temos em Pirapora”, diz.

As escoras às quais Egnaldo se refere foram colocadas pela Prefeitura de Pirapora para tentar dar estabilidade para o vapor. Mas é apenas um paliativo, que não deve aguentar por muito tempo.

Nesta quarta-feira, o prefeito de Pirapora, Alex Cesar, esteve em Belo Horizonte para cobrar do governo do Estado uma ação urgente para poupar o vapor dos prováveis danos que o transbordamento do rio pode causar e também para que as obras de restauração sejam retomadas.
 
IMPROVISO
Em nota, a prefeitura informou que, com as fortes chuvas e a cheia do São Francisco, uma força-tarefa realizou um trabalho de estaqueamento, para estabilizar o vapor.

“Desde julho (de 2021) estamos cobrando das instituições responsáveis a continuidade e conclusão da obra. Alertamos que o período das chuvas chegaria e colocaria a embarcação em risco. Não fomos atendidos e tivemos que fazer esse serviço emergencial para firmar o Benjamim, mas só depois que o Iepha (Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico) autorizou, pois o município não tem autorização para mexer no vapor, que é um patrimônio histórico e de valor inestimável para a população”, disse o prefeito.
 
MAIS ÁGUA
O perigo aumenta ainda mais com a possível abertura das comportas da Usina Hidrelétrica de Três Marias. A Cemig, responsável pela represa, havia programado o aumento da vazão para esta quarta-feira, mas adiou justamente em função da cheia do São Francisco.

No entanto, com a previsão de redução das chuvas e da vazão dos afluentes do rio a partir desta quinta-feira, a empresa informou que abrirá as comportas de Três Marias nesta sexta-feira (14).

O vertimento será implementado gradualmente até a próxima segunda-feira (17) e as comportas permanecerão abertas após essa data. 

Segundo texto da Cemig no site da empresa, “não estão descartados novos incrementos, de acordo com as condições que serão observadas na bacia do rio São Francisco nos próximos dias”.

Sem recursos para restauração
As obras de restauração do vapor Benjamim Guimarães começaram em 2020, por meio de um convênio entre o Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico (Iepha) e o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), responsável pelo repasse dos recursos. No entanto, o dinheiro não chegou e os trabalhos tiveram que ser suspensos. Em nota, o Iepha informou que ficou encarregado de fazer a contratação e execução da obra. “O projeto foi aprovado pelas duas instituições no ano de 2019 e a obra iniciada em 2020. O primeiro repasse financeiro realizado pelo Iphan ocorreu no início de 2021 e foi utilizado no pagamento dos gastos iniciais dos serviços contratados pelo Iepha. Contudo, no princípio de 2021, os repasses cessaram para ajustes técnicos e administrativos entre as instituições. Com isso, foi necessário suspender a obra temporariamente”, diz o órgão estadual, que ressalta ainda que “tanto o Iepha quanto o Iphan vêm envidando esforços para a continuidade do convênio e finalização das obras. Neste momento, toda a atenção se dirige às ações emergenciais em decorrência das chuvas que atingiram a região e provocaram elevação do rio São Francisco para além do esperado. A previsão de retomada das obras é para o primeiro trimestre de 2022”. O Iepha informou ainda que o governo de Minas, por meio do Corpo de Bombeiros, e em parceria com a Marinha do Brasil e a Prefeitura de Pirapora, está no local e atua nesse momento em plano de emergência para proteção do vapor, em virtude das cheias do São Francisco”.


 

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