Calamidade, destruição e desespero em Pirapora: água de chuva inunda casas, ruas e avenidas e deixa várias famílias desabrigadas

Jornal O Norte
29/11/2005 às 10:30.
Atualizado em 15/11/2021 às 08:54

Tiago Severino


Correspondente

A chuva que caiu na madrugada de sábado para domingo inundou vários bairros de Pirapora. A água alagou ruas, avenidas, invadiu casas e destruiu móveis e eletrodomésticos. Dezenas de famílias tiveram que ser removidas, a maioria delas foi para residências de amigos ou familiares. A prefeitura colocou escolas à disposição do desabrigados.




Chuva torrencial faz prefeito anunciar estado de


calamidade pública no município (Fotos: Tiago Severino)

Os bairros mais atingidos foram: Cidade Jardim, Cícero Passos, Bom Jesus 2 (Santa Cruz), Nova Pirapora e Sagrada Família. Estima-se que choveu cerca de 132 milímetros em apenas cinco horas. A água começou a invadir as residências às três horas da madrugada. Durante a tarde de domingo a chuva voltou a cair.

A prefeitura de Pirapora ainda não tem o número exato de quantas pessoas foram removidas das áreas atingidas. Mas estima-se que cerca de 10 a 15 famílias em cada bairro tiveram que abandonar as casas; cerca de 120 pessoas. A secretaria municipal de Ação Social serviu um sopão nos locais prejudicados pela chuva. O departamento de infra-estrutura também iniciou obras emergenciais, em parceria com o Saae - Serviço autônomo de água e esgoto nos pontos com maior acúmulo da água.

MUITO LIXO

O Córrego Entre Rios, situado no Bairro Bom Jesus 1, que deságua no Rio São Francisco, transbordou, mas não inundou nenhuma casa. A preocupação dos moradores com o afluente é a quantidade de lixo acumulada dentro dele, o que pode provocar a transmissão de doenças.

Segundo informações, a elevação da água do Entre Rios foi provocada pelo fato de o Saae estar com apenas uma das quatro comportas abertas, o que não deu vazão e provocou o transbordo. Ninguém do Saae foi encontrado para comentar o assunto.

- Moro em Pirapora há 24 anos e nunca vi uma coisa dessa - diz o vereador Lindolfo Lopes de Moraes - PP.

Ele afirma que vários bairros da cidade despejam água no Córrego Entre Rios. E que fez inúmeras solicitações à prefeitura, desde o início do ano, para a limpeza do afluente.



TIRANDO OS MÓVEIS

No Bom Jesus 2 (Santa Cruz), a água acumulou em quase 50 por cento do bairro. A inundação começou por volta das três horas da madrugada. Ao perceber a gravidade do problema, no mesmo instante vários moradores já começaram a tirar os móveis de dentro de casa.

- Nós começamos a tirar as coisas do pessoal de madrugada. Só agora (nove horas) é que o povo prefeitura apareceu - conta um morador indignado que perdeu a geladeira, sofá e televisão.

Ele calcula que na casa pequena que tinha o prejuízo foi de aproximadamente R$ 1 mil.

O Sagrada Família fica em uma região mais baixa do que a estrada, então, toda a água desce para o bairro. Em algumas ruas era possível passar apenas de barco. O medo dos moradores é a possibilidade de o Rio São Francisco, próximo ao local, encher e invadir as ruas. No Cícero Passos e Cidade Jardim, imensas lagoas foram formadas. Casas, igrejas, bares, nenhuma construção escapou da inundação, que cobriu os dois bairros.

DE BAIXA RENDA

Todos os locais atingidos são áreas periféricas, a maioria da população é de baixa renda e muitas famílias perderam todos os poucos bens que possuíam. Desde móveis, eletrodomésticos, até mantimentos. No Nova Pirapora, a água não invadiu tantas casas como nos outros locais. No entanto, cerca de 15 residências foram condenadas, devido ao surgimento de rachaduras.

- Eu perdi minha casa e agora não tenho para aonde ir. Minha vida acabou - diz Maria Ferreira Carvalho, moradora do Bairro Sagrada Família.

Ela perdeu quase todos os bens da casa de quatro cômodos. Os poucos objetos que sobraram couberam dentro do barco do corpo de bombeiros e foram levados para a escola municipal Dona Rita Santos Braga.

- A gente trabalha demais e agora perdemos quase tudo- afirma José Eduardo Gomes, morador do Bairro Bom Jesus 2.

Ele conta que começou a ajudar os vizinhos às três horas da manhã a retirar as coisas de dentro de casa.



ESCOAMENTO PLUVIAL

O prefeito de Pirapora, Warmillon Fonseca Braga - PFL diz que na história da cidade nunca foi elaborado um plano para escoamento da água pluvial. Ele afirma que já contratou uma empresa para realizar um estudo e providenciar as mudanças necessárias. Durante o domingo, o prefeito esteve em todos os bairros atingidos.

- O problema existe e vem se arrastando há anos. Agora é o momento de iniciarmos obras para buscar a solução - diz Warmillon.

Enquanto visitava as ruas inundas foi obrigado a entrar na água suja, andar de barco para chegar às casas e se sujar de barro para conversar com os moradores. Warmillon diz que já está mobilizando o governo do estado e, devido ao nível de destruição, decretará estado de calamidade pública. Ele informa que serão distribuídas cestas básicas e cobertores para as famílias desabrigadas.

PRÉDIO ISOLADO

O Hospital Municipal Doutor Moisés Magalhães Freire teve metade do prédio isolado. Várias rachaduras apareceram no teto, nas paredes e no piso. A principal hipótese para esse acontecimento é o alicerce construído há anos e que até hoje não teve nenhuma modificação. No bloco desativado funcionava a pediatria e internação.

Cerca de 20 pacientes que estavam nos leitos foram transferidos para a nova ala construída pela prefeitura e ainda não inaugurada. O governo federal já liberou R$ 1,4 milhão para a reforma do hospital, e a notificação da verba já foi publicada no diário oficial da união há alguns dias.

O Rio São Francisco está cada vez mais cheio. A água já está barrenta por causa da terra que desce dos barrancos. Apesar disso, ainda não cobriu totalmente a praia. A meteorologia prevê mais chuvas para os próximos dias.

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