Buraqueira e má sinalização estão no meio do caminho

Mais de 8,6 mil quilômetros de rodovias mineiras estão em situação crítica, colocando a vida em risco no principal modal de transporte utilizado no país

Renata Galdino
Hoje em Dia - Belo Horizonte
20/10/2018 às 06:30.
Atualizado em 28/10/2021 às 01:20
 (MANOEL FREITAS)

(MANOEL FREITAS)

Minas Gerais tem pelo menos 8,6 mil quilômetros de rodovias sob a tutela do poder público em condições consideradas regulares, ruins ou péssimas. A extensão representa nada menos do que 69,4% das malhas estadual e federal avaliadas pela Confederação Nacional de Transportes (CNT). O resultado do pente-fino foi divulgado nesta semana.

Falta de manutenção é o principal fator apontado por especialistas para a situação considerada crítica, o que pode impactar na segurança de quem trafega por essas vias.

As maiores armadilhas são buracos, pavimento irregular, sinalização precária ou mesmo a inexistência de placas que possam orientar motoristas sobre os perigos da estrada, limites de velocidade ou proibição de ultrapassagem, por exemplo.

Na região Norte do Estado, as condições foram consideradas boas apenas na BR-365 e em alguns trechos da 135.

Em relação à BR-251 sobram reclamações e pedidos de intervenção por parte da população e de líderes da região. No estudo da CNT o estado da rodovia é considerado de péssimo a regular.

Foram vistoriados mais de 600 quilômetros da via, sendo analisados o estado geral, a pavimentação, a sinalização e a geometria. Este último foi considerado péssimo em alguns trechos. Mas a maior parte do conceito foi regular.

A pavimentação, muito irregular em trechos próximos a Montes Claros, foi avaliada como ruim ou regular. Sem a devida manutenção, quadro tende a piorar devido ao grande fluxo de veículos de carga na região.

Por outro lado, as estradas administradas pela iniciativa privada no Estado apresentam índices satisfatórios: 76% são ótimas ou boas. As que estão nas mãos dos governos estadual e federal, no entanto, somente 30,6% receberam essas classificações.
 
POUCA VERBA
Consultor em transporte e trânsito, Osias Baptista Neto atribui à redução de investimentos o cenário das pistas, o que afetou a manutenção. “Se a rodovia começou a dar defeito, cresce em progressão geométrica se não houver correção imediata. No caso de asfalto trincado, por exemplo, a água da chuva infiltra e o pavimento começa a se soltar. Sem falar no tráfego, que potencializa o estrago”.

Ele ainda reforça que a pesquisa aponta problemas nos projetos das estradas. Erros não são descartados, mas, afirma Osias, o que chama a atenção é que o sistema rodoviário brasileiro, construído há décadas, não comporta mais a atual frota. Hoje, o tráfego cresceu, com veículos maiores e mais pesados, o que sobrecarrega o asfalto.

Apesar de ser uma alternativa viável, o especialista diz que ceder as pistas para a iniciativa privada é uma solução complicada. As que já foram transferidas para as concessionárias, lembra o consultor, são mantidas por meio do dinheiro arrecadado com o pedágio.

“A medida é boa para rodovias com grande fluxo, mas as de menor volume de veículos não são atrativas. Nesses casos, ou o poder público dá a concessão pagando mais ou ele mesmo faz o que se tem que fazer”.
 
DISCREPÂNCIA
Levantamento da CNT também destaca a discrepância da qualidade entre as estradas estaduais e federais. Dentre as geridas pela União, segundo a pesquisa, 39,4% estão em condições regulares, ruins ou péssimas. Já as do Estado são 92,7%.

Os dados, porém, são contestados pelo Departamento de Edificações e Estradas de Rodagem de Minas Gerais (DEER). Em nota, o órgão informou que 66,1% das vias estão em bom estado de conservação, 24,7% são regulares e 8,6% encontram-se em más condições.

Desde 2015, conforme a pasta, foram investidos R$ 2,2 bilhões em obras rodoviárias, incluindo pavimentação, manutenção e ampliação da capacidade, além de pontes e viadutos em todo o território.
 
FEDERAIS
O Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) foi procurado para comentar o levantamento da CNT, mas não se posicionou até o fechamento desta edição. Na última semana, o Dnit divulgou que, embora o orçamento tenha reduzido 28% nos últimos quatro anos, manteve os investimentos na manutenção da malha federal.

Dos 57,2 mil quilômetros de rodovias pavimentadas no Brasil, sob a administração da União, 33,7 mil (59%) estariam em bom estado. O órgão, porém, admite queda na qualidade.


Custos sobem quase 30%
As más condições das estradas impactam nos custos operacionais do transporte rodoviário. Em Minas, de acordo com a pesquisa da CNT, o acréscimo para os empresários pode chegar a 28,9% por conta de manutenção dos veículos decorrente do desgaste com pneus e freios. Há também maior consumo de combustível.

“Tudo isso afeta a população em geral. Os gastos são somados ao valor final do frete e, consequentemente, ao preço dos mais diversos produtos comercializados no mercado”, frisa o vice-presidente da Federação das Empresas de Transportes do Estado de Minas Gerais (Fetcemg), Vander Francisco Costa.
 
ACIDENTES
O gestor também destaca que estradas precárias representam riscos para quem trafega pelas pistas. “Desastres são comuns por causa de um buraco, por exemplo. A atenção precisa ser redobrada”.

No ano passado, conforme a pesquisa CNT, acidentes custaram cerca de R$ 10,8 bilhões para o Sistema Único de Saúde (SUS). Gastos, ainda segundo o levantamento, maiores que os investimentos feitos na malha rodoviária brasileira no mesmo período –R$ 8,3 bilhões.
 
PREVENÇÃO
O vice-presidente da Fetcemg diz que, em meio a esse cenário, a alternativa é buscar formas de prevenção. Os motoristas da transportadora do qual é proprietário foram capacitados em direção defensiva.

Além disso, a empresa faz levantamentos dos trechos críticos no território mineiro. Os pontos são encaminhados para cada funcionário, que passa a ter mais atenção ao passar pelos pontos com problemas.

“No nosso caso, há três anos não registramos acidentes com a frota”, conta Vander Francisco.

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